São Paulo, Quarta-feira, 01 de Setembro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JANIO DE FREITAS
Avança mesmo

O grande programa lançado por Fernando Henrique Cardoso, nova versão do engodo que foi o "Avança, Brasil" feito por Antonio Kandir para a reeleição, tem, ao menos, o mérito de exprimir o que o governo tem feito e fará cada vez mais.
Avança no bolso do contribuinte, com mais impostos e com a prorrogação, nesta mesma semana, do acréscimo na alíquota de Imposto de Renda. Avança no poder aquisitivo dos salários, cuja queda crescente foi comprovada pelo IBGE. Avança nos direitos previdenciários dos assalariados, com idéias semanais de novas mordidas. Avança no desemprego. Avança na recessão, no estrangulamento da empresa privada brasileira, avança no repúdio da sociedade, avança no recorde do desprestígio presidencial. Assim avança e avança em muita coisa mais.
E, revestindo todos esses avanços, avança no gasto inútil com publicidade, já previsto para rondar o meio bilhão neste ano, enquanto o Ministério da Saúde procura R$ 200 milhões para a compra de remédios essenciais e o socorro aos miseráveis da seca está atrasado desde dezembro, como há quatro meses as famílias das frentes de trabalho não recebem o menos de meio salário mínimo - resultado de dois cortes nos R$ 100 que lhes eram prometidos.
Humilhado pela opinião pública retratada nas pesquisas, aturdido pelos protestos levados a Brasília, posto contra a parede pelos próprios aliados, o governo mostra mais uma vez, pela voz presidencial, o que melhor é capaz de fazer: tenta a tapeação, como se o país inteiro não soubesse ainda que o governo não tem recursos, não tem projetos exequíveis a curto prazo e não pode acionar o crescimento econômico, cassada que está a sua liberdade pelo FMI e pela fragilidade da estabilização do Plano Real.

Modernidade
Maravilha privatizada: no Rio, agora, não se consegue ligação completada na primeira discagem, à qual tanto pode seguir-se o ruído de linha em falsa comunicação, como o silêncio mais indiferente. Obra da Telemar. Com requintes, para quem precisa de interurbano, da Embratel: ligar do Leblon para Salvador, no domingo, só resultava em ligação com a portaria do Banco Icatú no centro da cidade.
Maravilha estatal: contagiados pelas privatizadas, os Correios, que até poucos anos foram exemplares, estão levando até dez dias para entregar correspondência entre o centro de São Paulo e o Leblon. Mais do que o dobro do tempo exigido pela mesma tarefa no século passado. Com um requinte intrigante: cartas postadas pela mesma empresa (Varig) com intervalo de cinco dias, na mesma agência paulista dos Correios, chegam ao Leblon em data igual. O provável é que uma tenha sido transportada a pé, a outra em lombo de burro, que este não falta.
Mas o governo Fernando Henrique não perdeu tempo em determinar os sucessivos aumentos de preços e tarifas.
Ainda bem que está recebendo a comunicação do apreço que a população lhe dedica.


Texto Anterior: Governo deixa de gastar na área social, diz estudo
Próximo Texto: No Ar - Nelson de Sá: Vamos sonhar
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.