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JANIO DE FREITAS
Avança mesmo
O grande programa lançado por
Fernando Henrique Cardoso, nova versão do engodo que foi o
"Avança, Brasil" feito por Antonio
Kandir para a reeleição, tem, ao
menos, o mérito de exprimir o que
o governo tem feito e fará cada vez
mais.
Avança no bolso do contribuinte, com mais impostos e com a
prorrogação, nesta mesma semana, do acréscimo na alíquota de
Imposto de Renda. Avança no poder aquisitivo dos salários, cuja
queda crescente foi comprovada
pelo IBGE. Avança nos direitos
previdenciários dos assalariados,
com idéias semanais de novas
mordidas. Avança no desemprego.
Avança na recessão, no estrangulamento da empresa privada brasileira, avança no repúdio da sociedade, avança no recorde do
desprestígio presidencial. Assim
avança e avança em muita coisa
mais.
E, revestindo todos esses avanços, avança no gasto inútil com
publicidade, já previsto para rondar o meio bilhão neste ano, enquanto o Ministério da Saúde procura R$ 200 milhões para a compra de remédios essenciais e o socorro aos miseráveis da seca está
atrasado desde dezembro, como
há quatro meses as famílias das
frentes de trabalho não recebem o
menos de meio salário mínimo -
resultado de dois cortes nos R$ 100
que lhes eram prometidos.
Humilhado pela opinião pública
retratada nas pesquisas, aturdido
pelos protestos levados a Brasília,
posto contra a parede pelos próprios aliados, o governo mostra
mais uma vez, pela voz presidencial, o que melhor é capaz de fazer:
tenta a tapeação, como se o país
inteiro não soubesse ainda que o
governo não tem recursos, não
tem projetos exequíveis a curto
prazo e não pode acionar o crescimento econômico, cassada que está a sua liberdade pelo FMI e pela
fragilidade da estabilização do
Plano Real.
Modernidade
Maravilha privatizada: no Rio,
agora, não se consegue ligação
completada na primeira discagem, à qual tanto pode seguir-se o
ruído de linha em falsa comunicação, como o silêncio mais indiferente. Obra da Telemar. Com requintes, para quem precisa de interurbano, da Embratel: ligar do
Leblon para Salvador, no domingo, só resultava em ligação com a
portaria do Banco Icatú no centro
da cidade.
Maravilha estatal: contagiados
pelas privatizadas, os Correios,
que até poucos anos foram exemplares, estão levando até dez dias
para entregar correspondência
entre o centro de São Paulo e o Leblon. Mais do que o dobro do tempo exigido pela mesma tarefa no
século passado. Com um requinte
intrigante: cartas postadas pela
mesma empresa (Varig) com intervalo de cinco dias, na mesma
agência paulista dos Correios,
chegam ao Leblon em data igual.
O provável é que uma tenha sido
transportada a pé, a outra em
lombo de burro, que este não falta.
Mas o governo Fernando Henrique não perdeu tempo em determinar os sucessivos aumentos de
preços e tarifas.
Ainda bem que está recebendo a
comunicação do apreço que a população lhe dedica.
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