São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2000

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Influência na sucessão presidencial não é determinante

VALDO CRUZ
DIRETOR-EXECUTIVO

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA


Quem vai ganhar diz que tem. Quem está perdendo ou ficando na mesma diz que não. Essa é a reação dos principais partidos políticos sobre a influência que a eleição municipal de hoje pode ter na sucessão de FHC.
PT e PFL, que estão alardeando um crescimento de votos e do número de prefeitos, garantem que saem fortalecidos para 2002. PSDB, PMDB e PPS, que não estão tendo a mesma sorte, pelo menos até agora, fazem questão de dizer que o impacto é nulo.
Deixando de lado, porém, as tentativas de faturar ou minimizar politicamente o resultado, o fato é que a sua influência sobre a escolha do próximo presidente é bastante relativa: ajuda, mas está longe de ser determinante.
Basta lembrar que o partido de Fernando Henrique Cardoso, vencedor das duas últimas eleições presidenciais, não se saiu bem nas campanhas municipais anteriores. O PSDB perdeu em 1992 e 1996 nas três principais cidades do país (São Paulo, Rio e Belo Horizonte), mas ganhou a Presidência em 1994 e 1998.

Ciro

No momento, a eleição municipal está servindo para tonificar alguns personagens e fragilizar outros. Neste segundo grupo, o destaque é Ciro Gomes, o presidenciável do PPS. O ex-tucano e ex-governador do Ceará jogou todo seu peso político para eleger sua ex-mulher, Patrícia Gomes, prefeita de Fortaleza.
O presidente do PPS, senador Roberto Freire (PE), sai em defesa de seu pupilo: "Não é de hoje que falo que a eleição municipal tem pouquíssima influência na sucessão presidencial".
Apesar da tentativa de Freire de minimizar uma eventual derrota de Ciro em sua base eleitoral, os adversários não se cansam de repetir que o presidenciável do PPS sai enfraquecido. Entre os tucanos, o fato é comemorado. Dentro do PT, é visto como um trunfo numa busca de aliança para 2002, com Lula na cabeça da chapa.
O governador tucano do Ceará, Tasso Jereissati, outro presidenciável, tem uma frase pronta para defender seu amigo Ciro Gomes. "Em três meses esta eleição está esquecida." É o que ele espera, afinal apóia Patrícia Gomes. E a derrota também deverá ser debitada em sua conta.

Oposição

Do lado daqueles que garantem estar ganhando pontos, o PT de Luiz Inácio Lula da Silva aparece em primeiro lugar. Hoje, governa duas capitais. Pode ficar com mais do que o dobro. Seu eleitorado também vai crescer.
"Vamos ter uma vitória espetacular. Vamos aumentar nossa estrutura nacional, ampliando nossa máquina de atuação, o que será muito importante na eleição presidencial", avalia o líder do PT na Câmara, Aloizio Mercadante.
A principal vitória dos petistas pode ser a conquista da Prefeitura de São Paulo. Marta Suplicy lidera as pesquisas e é a favorita no segundo turno. Uma boa administração pode ser usada em 2002.
A prefeitura paulistana é apontada como um trunfo para a sucessão presidencial mesmo por aqueles que não acreditam que o pleito municipal possa ter grande influência na escolha do próximo presidente.
"A eleição municipal não influi. A única prefeitura que pode ser usada na sucessão presidencial é a de São Paulo", afirma o ministro tucano Aloysio Nunes Ferreira (Secretaria Geral da Presidência). Mas ele faz uma ressalva. "O problema é que ela pode tanto ajudar como prejudicar, por causa da sequência de más administrações que arruinaram as suas finanças."
Os petistas concordam. "Vamos ficar mais expostos, e o primeiro ano de governo é sempre de austeridade, ainda mais em uma prefeitura falida como a de São Paulo. Isso pode nos desgastar", afirma o deputado Mercadante (SP).

Peemedebistas
O PMDB, que no máximo deve sair da eleição municipal do mesmo tamanho que entrou, tem um discurso parecido com o do PSDB, outro que também não está tendo um bom desempenho.
"Não acredito que o PMDB saia mal da eleição. Mas tudo isso que estão falando agora será esquecido em três meses. O que vai determinar a eleição presidencial é o quadro partidário", raciocina o presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer (PMDB-SP).
O presidente do PMDB, Jader Barbalho, lembra ainda como ficou a situação de dois políticos que na eleição municipal de 1996 conseguiram fazer seu sucessor: Paulo Maluf, que elegeu Celso Pitta, e Cesar Maia, que fez Luiz Paulo Conde prefeito do Rio.
Na época, lembra Jader, os dois eram tidos como presidenciáveis. Não só não disputaram a Presidência, como perderam a eleição para os governos de São Paulo e Rio de Janeiro em 1998.
Quem por enquanto não tem muito do que se queixar, apesar de seu partido não estar se saindo bem na eleição, é o presidente Fernando Henrique Cardoso. "A oposição quis federalizar a campanha municipal, mas não conseguiu", diz Aloysio.
Ou seja, a oposição prometeu bater em FHC para ganhar votos, mas sua imagem sai do primeiro turno razoavelmente preservada. Mesmo que isso mude, o eleitor pode esquecer as críticas que venham a ser feitas a FHC. Basta que ele consiga fazer a economia crescer para se transformar no principal eleitor de sua sucessão.



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