São Paulo, domingo, 01 de outubro de 2000

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FORTALEZA
Presidenciável afirma que os resultados na capital não vão se refletir na corrida presidencial; Patrícia, sua ex-mulher, tem poucas chances de chegar ao 2º turno
Eleição no Ceará não afeta 2002, diz Ciro

ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL A FORTALEZA

KAMILA FERNANDES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM FORTALEZA

Apesar de apostar até a última hora na vitória da ex-mulher, Patrícia Gomes, o presidenciável Ciro Gomes (PPS) se antecipou à possibilidade de derrota, reduzindo ao mínimo a importância das eleições municipais para a sucessão do presidente Fernando Henrique Cardoso em 2002.
"O cenário de 2002 vai ter uma memória muito fraca, muito remota, para o bem e para o mal", disse ele à Folha na noite de sexta-feira, colocando-se como o principal responsável pela eventual derrota de Patrícia.
"Se a Patrícia ganhar, a vitória é dela. Se perder, a derrota é minha. Ela não tem defeitos, só virou alvo por causa de sua ligação comigo."
Segundo Ciro, as pesquisas internas da campanha sempre deixaram claro que as pessoas que não votam em Patrícia em geral alegam que ela seria "pau-mandado do Cambeba".
Cambeba é como o palácio do governo do Estado é conhecido em Fortaleza, e a expressão significa a identificação dela tanto com Ciro quanto com o governador tucano Tasso Jereissati.
Ciro rebateu, inclusive, as sutis comemorações do PT por causa de sua eventual derrota em plena capital cearense: "Pelo menos, a Patrícia tem chances reais de vencer aqui. E o candidato do Lula, que vai perder em São Bernardo do Campo e é justamente o Vicentinho? " Referia-se a Vicente Paulo da Silva, metalúrgico, ex-presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores) e um dos principais herdeiros de Lula no sindicalismo paulista.
Ciro, portanto, acusou de véspera o golpe nestas eleições municipais que poderiam lhe dar um bom troféu para 2002, mas ao contrário devem dar discurso a seus opositores, como Lula.
Ex-governador do Ceará, Ciro insistiu que o efeito de uma eleição sobre a outra é irrelevante e disse porque se envolveu tanto na campanha de Patrícia: "São duas questões de honra. Fortaleza é a minha cidade, e Patrícia é a mãe dos meus filhos. Quanto à disputa presidencial, vai ser só daqui a dois anos ".
Como comparação, citou Fernando Collor, que perdeu as eleições para a capital de Alagoas com o candidato Renan Calheiros, hoje senador do PMDB, e dois anos depois elegeu-se para a Presidência da República.
Segundo o Datafolha, o prefeito Juraci Magalhães (PMDB) está virtualmente no segundo turno, com 33% dos votos, e o seu adversário mais provável é o deputado federal Inácio Arruda (PC do B), com 24%.
Patrícia, que entrou em campanha como franca favorita, chega na reta final empatada com o deputado federal Moroni Torgan (PFL), cada um com 18%.
O experiente Juraci Magalhães já comemorava a vitória desde sexta-feira, ironizando inclusive as denúncias que surgiram contra ele ao longo da campanha.
A principal delas: a de que contratara a empresa de seu filho, Magalhães Neto, para a construção de quatro viadutos em Fortaleza. "Ficam falando mal de mim, mas é perda de tempo. O povo não acredita", reagiu.
Inácio Arruda manteve até o fim sua disposição de não comentar nem discutir o PC do B e o comunismo pós-Guerra Fria.
"Minha candidatura não é do PC do B. É de uma ampla frente de esquerda formada por vários partidos, inclusive o PT. O PC do B apenas cedeu humildemente o candidato". Os outros partidos são PDT, PSB e PCB.
Juraci e Arruda já trocavam farpas na sexta-feira, antecipando o clima do provável segundo turno entre eles -ainda questionado por Patrícia e Moroni, que só cresceu na última semana da campanha.
Segundo Juraci, Arruda "enterrou a foice e o martelo (símbolos do comunismo), mas é ateu, comunista, brigou com as mulheres e ficou com imagem de violento". No caso, "as mulheres" são Patrícia Gomes e a vice do próprio Juraci, Isabel Lopes (PMDB), que acusa a militância esquerdista de "stalinista".
Arruda critica o prefeito por ter começado inúmeras obras sem condições de acabá-las antes do final do mandato, comprometendo, assim, os recursos da prefeitura na próxima gestão.
E ameaça: "O Juraci vai ter que deixar dinheiro em caixa. Senão, vamos buscar na casa dele!".


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