|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CRÉDITO POPULAR
Dos R$ 150 milhões disponíveis para empréstimos no BNDES, apenas R$ 16,3 mi foram contratados
Banco do povo usa só 10,8% dos recursos
MARTA SALOMON
da Sucursal de Brasília
Três anos depois
de lançado pelo governo federal, o
Programa de Crédito Produtivo Popular, conhecido como banco do povo, mal saiu do
papel.
Dos R$ 150 milhões repassados
ao BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) em 1996 para empréstimos a quem não tem acesso à rede bancária, apenas R$ 16,3 milhões foram contratados.
O valor corresponde a 10,8% da
primeira leva de recursos repassados pelo FAT (Fundo de Amparo
ao Trabalhador) a um dos mais
importantes programas de geração de emprego e de renda do governo Fernando Henrique Cardoso.
Equivale também a cerca de
4,5% do financiamento prometido pelo BNDES à empresa norte-americana AES, vencedora do leilão da companhia energética paulista Cesp Tietê, ocorrido na última quarta-feira.
Os números sobre o desempenho do programa constam de documento encaminhado em outubro pelo ministro do Desenvolvimento, Alcides Tápias, ao Congresso em resposta a um pedido
de informação do deputado Pedro Celso (PT-DF).
""As dificuldades encontradas
são as esperadas em uma iniciativa da envergadura do Programa
de Crédito Produtivo Popular do
BNDES", informa o ministro do
Desenvolvimento.
Promessas
A importância dada por Fernando Henrique Cardoso ao microcrédito pode ser constatada no
programa de governo do candidato à reeleição.
Para o segundo mandato, o presidente prometeu nada menos do
que 860 mil operações anuais de
crédito nas duas modalidades
previstas pelo BNDES por meio
de organizações não-governamentais ou de fundos estaduais e
municipais.
O Programa de Crédito Produtivo Popular aplicaria cerca de R$
290 milhões e seria responsável
pela criação de nada menos do
que 250 mil empregos em quatro
anos -prometeu FHC, ou seja,
3,2% da meta total de criação de
empregos mencionada pelo Plano Plurianual, também conhecido como ""Avança Brasil".
No programa de governo, FHC
afirma que a experiência ""está se
disseminando".
Resultados tímidos
Não é o que se vê nas informações prestadas por Tápias: os resultados apresentados pelo
BNDES nos três primeiros anos
do programa são mais do que tímidos.
Apenas 20 organizações não-governamentais em 14 Estados
conseguiram cumprir as exigências fixadas pelo banco. O BNDES
Solidário cobrou, por exemplo,
""pelo menos seis meses de efetiva
e eficaz atuação em crédito produtivo popular, demonstrada
através do número e qualidade
das operações, do público atendido e da sua estrutura operacional".
Na modalidade do programa
que prevê parcerias com Estados
e municípios, batizada de BNDES
Trabalhador, o resultado foi nulo.
Nenhum governo estadual e nenhuma prefeitura fechou contrato com o BNDES.
Nesse caso, o banco exigia, além
de contrapartida de 20% dos Estados e 20% dos municípios, a
participação de pelo menos 10%
das prefeituras de um determinado Estado, entre outras condições. Os empréstimos oferecidos
pelo BNDES iriam de R$ 200 a R$
5.000.
Ao contrário do que vem acontecendo com o programa comandado pelo BNDES, há experiências bem sucedidas dentro e fora
do Brasil.
A idéia surgiu no início da década de 70, como uma estratégia para combater a pobreza. Mediante
empréstimos de pequeno valor,
cada pobre passou a ser considerado uma unidade produtiva.
O lançamento do programa federal contou com a defesa de
Ruth Cardoso, presidente do
Conselho da Comunidade Solidária.
Modelo
O modelo brasileiro para o governo federal foi a experiência do
BRB-Trabalho, lançado no final
de 1995.
Entre 1996 e 1998, foram aplicados R$ 5,4 milhões para compra
de matéria-prima (capital de giro), máquinas e equipamentos
(investimentos) por 3.855 pequenos empreendedores do Distrito
Federal.
Segundo avaliação do programa, cada financiamento foi responsável pela manutenção ou geração de dois empregos no Distrito Federal.
Entre os tomadores de financiamentos, 69% eram mulheres. As
taxas de juros médias ao mês
eram inferiores a 1,5%.
O deputado Pedro Celso (DF),
secretário de Trabalho do Distrito
Federal na época, sustenta que a
saída para o governo é desburocratizar o microcrédito. Ele também questiona o desempenho do
BNDES no programa, diferente
do apresentado em outras modalidades de financiamento.
Segundo resposta a outro requerimento de informações da
Câmara obtida pela Folha, o
BNDES informou que o total de
dívidas de empresas privadas
atingiu R$ 28,6 bilhões no final do
primeiro semestre do ano. Duas
empresas estrangeiras deviam à
época ao BNDES R$ 156,5 milhões.
Texto Anterior: Esquerda: Diretório do PT-RJ não chega a consenso após 4 h de reunião Próximo Texto: Multimídia - La Nación: FHC quer acordo para moeda única Índice
|