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ORÇAMENTO
Novo governo já traça estratégias diante da quase impossibilidade de reduzir as despesas previstas para 2003
Como FHC, PT planeja ajuste de receitas
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Diante da quase impossibilidade de reduzir as despesas previstas no Orçamento de 2003, o PT
tomou o caminho seguido pelo
governo Fernando Henrique Cardoso nos últimos anos: fazer os
ajustes necessários basicamente
pelo lado das receitas.
Segundo a Folha apurou, já há
algumas estratégias traçadas. De
imediato, recorrer ao secretário
da Receita Federal e representante
da Fazenda na transição de governo, Everardo Maciel, que nos últimos anos virou um especialista
em descobrir fontes extras de arrecadação para fechar as contas.
Outra providência, admitida cada vez mais abertamente, é manter as alíquotas de 27,5% do Imposto de Renda da Pessoa Física e
de 9% da CSLL (Contribuição Social sobre o Lucro Líquido). A primeira, que deveria cair para 25%,
rende R$ 2 bilhões a mais; a segunda, que seria reduzida para
8%, garante R$ 1 bilhão tratado
como receita duvidosa no projeto
de Orçamento da União.
É dada como certa ainda uma
saída heterodoxa: prever uma inflação maior para, como diz a palavra, inflar a receita estimada.
A alta de preços, em tese, faz subir a arrecadação de impostos e
contribuições que incidem sobre
a produção e o comércio. Como a
maior parte das despesas não segue a inflação, o governo consegue uma folga no caixa.
A receita total prevista para
2003, de R$ 328 bilhões, supõe um
IGP (índice da Fundação Getúlio
Vargas) de 6%. A taxa está de fato
subestimada: nos últimos meses,
devido à disparada do dólar, o
mercado financeiro passou a prever um IGP de 10% em 2003.
Não é possível fazer um cálculo
preciso de quanto a receita subirá
com inflação maior. Essa impossibilidade, longe de ser um empecilho, facilita o trabalho de quem
faz o Orçamento: já há estimativas
para todos os gostos, começando
pela casa dos R$ 5 bilhões.
Superávit
Com o efeito-inflação e novas
fontes de recursos, a equipe do
presidente eleito, Luiz Inácio Lula
da Silva, quer garantir, ao menos
no papel, o superávit de R$ 31,8
bilhões exigido pelo FMI (Fundo
Monetário Internacional), um aumento do salário mínimo para algo além dos R$ 211 hoje previstos
e o início, ainda que simbólico, do
programa social petista.
Pelo lado das despesas, que somam R$ 296,2 bilhões, cortes
mais profundos dependem de alterar leis ou até a Constituição,
uma vez que quase 90% dos gastos são obrigatórios, como pagamento de pessoal, aposentadorias
e transferências a Estados e a municípios. O restante é composto,
na maioria, por investimentos,
programas sociais e projetos de
interesse de congressistas.
Em vez do desgaste de reduzi-los já, pode-se adotar o expediente usual de represá-los ao longo
do ano que vem. O PT pretende
remanejar recursos, principalmente os ligados à área social, e
economizar em contratos de
prestação de serviços e compras
de bens. Dificilmente providências como essas reduzirão a despesa global fixada no Orçamento.
As decisões sobre gastos, porém, não são para agora: terão de
aguardar o desfecho de negociações com o FMI que devem começar no dia 11. O Fundo pode exigir
um superávit maior em 2003, o
que dificultaria os planos petistas.
Emendas
O relator do Orçamento da
União de 2003, senador Sérgio
Machado (PMDB-CE), disse ontem que parte do dinheiro extra
decorrente de reestimativa de receitas será usada para emendas
individuais dos congressistas.
A partir de segunda-feira o comitê de receitas da Comissão Mista de Orçamento vai começar a
trabalhar na identificação de verbas extras. A expectativa é que o
ajuste na previsão de inflação
-que está sendo maior do que a
calculada em agosto na elaboração do Orçamento- gere receita
da ordem de R$ 10 bilhões, sendo
R$ 6 bilhões para a União.
Pelo menos R$ 1,2 bilhão será
usado para as emendas dos deputados e senadores destinando dinheiro a projetos sociais e obras
em suas bases. Além das emendas
individuais, há emendas coletivas
de bancadas e de comissões técnicas da Câmara e do Senado.
Sérgio Machado se reuniu no
início da noite de ontem com o
presidente da Câmara, Aécio Neves (PSDB-MG), para tratar da
votação do Orçamento. A proposta orçamentária deverá ser votada no plenário do Congresso na
semana do dia 15 de dezembro.
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