São Paulo, sexta-feira, 01 de novembro de 2002

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OUTRO LADO

Ramez Tebet diz ser "vítima" e pede ação da PF

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

"Eu sou a vítima", disse o presidente do Senado à Folha. Ramez Tebet (PMDB-MS) afirmou que não autorizou o advogado José Goulart Quirino a falar em seu nome. Tachou de "falsos" os documentos exibidos pelo advogado. Acionou a Polícia Federal.
A Folha conversou com Ramez Tebet em três oportunidades. A primeira delas, pelo telefone, na tarde da última terça-feira. O repórter informou sobre a existência de contrato e procuração vinculando seu nome ao advogado José Goulart Quirino.
Tebet pediu para ver o contrato. "Estou achando que não é a minha assinatura... Deixa eu ler isso. Às vezes ele me pediu alguma coisa, não sei. Eu não tinha razão para isso... Se essa assinatura for minha, me levaram no bico".
Ao saber que seu nome vem sendo invocado em reuniões com empresários, Tebet foi categórico: "Eu não faço advocacia administrativa. Se estão usando meu nome, o fazem indevidamente".
Na noite da mesma terça-feira, Tebet recebeu o repórter em seu gabinete. Ao manusear o contrato e a procuração disse: "Tem todas as características de uma assinatura minha. Mas não me lembro de ter assinado isso. Não tenho dúvida de que é falso".
Tebet contou ter conhecido Quirino no Mato Grosso do Sul. Contratou-o, na década de 90, para cuidar do inventário do sogro.
"Ele se portou corretamente", afirmou o senador. "Mas há muito tempo não o vejo. Pelo que sei, não anda batendo bem da bola", completou o presidente do Senado.
Examinando a cópia do contrato, Tebet notou que a única firma reconhecida em cartório é a de Quirino.
O documento faz, de resto, menção a regalias supostamente concedidas ao advogado. Entre elas a abertura de endereço eletrônico e a emissão de crachá do Senado.

Constatações
Após verificação, constatou-se: 1) embora tenha solicitado e-mail, não o obteve; 2) o crachá de que dispõe é de 1989, época em que atuava como assessor do então senador Wilson Martins (PMDB-MS).
Na manhã de quarta-feira, Tebet buscou auxílio jurídico. Consultou-se com o advogado Cláudio Bonato Fruet. Ele esteve na redação da Sucursal da Folha em Brasília para relatar as providências tomadas.
Além do pedido de investigação da PF, Tebet enviou ofícios à Receita e ao Tesouro. Desautoriza o uso de seu nome por Quirino.
Na visita à redação da Folha, o advogado Bonato Fruet trouxe uma fita cassete. Continha conversa telefônica do chefe de gabinete de Ramez Tebet, Eustáquio Lacerda, com José Goulart Quirino. O diálogo teria ocorrido na manhã de quarta-feira.
O repórter ouviu a fita. Em tom cordial, Eustáquio pede a Quirino explicações sobre o contrato e a procuração. O advogado conta que demitiu três funcionários recentemente. E insinua que podem ser eles os responsáveis pelo documento. Pede que seja marcada uma conversa com Tebet, "olho no olho".
Em certo trecho da conversa, Quirino pede que o assunto seja resolvido internamente, "sem vazamentos". E ameaça: "Se a conversa pessoal não for suficiente, eu, José Quirino, vou tomar as providências cabíveis. Só que se eu tomar as providências, o nome dele vai para a mídia (...) Ele tem, politicamente, muita coisa a perder. Eu também tenho".
A Folha tentou localizar Quirino. Não obteve êxito. DEixou recado em seu escritório em São Paulo e em seus dois telefones celulares, encontravam-se fora do ar. Tampouco estava no hotel em que costuma se hospedar em Brasília.
(JOSIAS DE SOUZA)


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