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São Paulo, sábado, 01 de novembro de 2003

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CASO SANTO ANDRÉ/ OUTRO LADO

Gilberto Carvalho considera publicação de conteúdo de escutas "brutal sacanagem"

Dirceu diz que PT foi alvo de "conspiração"

DA REPORTAGEM LOCAL

O ministro José Dirceu (Casa Civil) disse, por meio de sua assessoria, que o monitoramento "ilegal" de diálogos entre membros do PT, após o assassinato do prefeito Celso Daniel (Santo André), "fez parte de uma conspiração da qual o partido foi vítima".
Gilberto Carvalho, chefe de gabinete da Presidência, tem a mesma opinião: "O PT se armou para buscar a verdade, para não dar margem de uso político de algo que para nós já era suficientemente doloroso. Nós nos sentíamos vítimas de tudo, até dos grampos, das gravações ilegais", disse ontem à Folha.
Diferentemente de Dirceu, que não quis comentar o conteúdo das fitas pelo fato de terem sido declaradas ilegais pela Justiça, Carvalho afirma que diariamente conversava com o então presidente do PT e outros dirigentes da cúpula petista para desmontar "ilações falsas" da polícia.
Segundo o chefe de gabinete, que considera uma "brutal sacanagem" a publicação do conteúdo de escutas ilegais, em vez de focar os assassinos, a polícia focou o próprio PT. "A linha de investigação era encontrar as razões pela morte dentro do próprio PT ou da prefeitura. A polícia chegou a invadir a casa do prefeito. Tudo isso foi uma agressão muito grande."
Segundo ele, sentindo-se acuado e bombardeado por todos os lados, o PT decidiu assumir uma "postura partidária".
Decidiu, então, reclamar do comportamento da polícia com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e orientou o deputado e advogado Luiz Eduardo Greenhalgh a acompanhar os depoimentos. "Não queríamos uma ação isolada", diz o chefe de gabinete de Lula.
Greenhalgh, por sua vez, afirma que era "praxe" dialogar com "alguns" dos convocados a depor, mas que sua assistência restringia-se à parte técnica. "Explicava o funcionamento, as regras de um depoimento, não sobre o conteúdo das declarações", diz.
Na terça passada, na primeira vez que foi contatado pela reportagem, o deputado havia dado uma explicação um pouco diferente. Sem saber que a Folha possuía a degravação das conversas, disse que não procurava os depoentes previamente. "Minha posição naquele momento era muito clara, eu era o advogado do partido, não das famílias."
Greenhalgh disse ser falsa a acusação de João Francisco, irmão de Celso Daniel, que atribuiu ao deputado uma tentativa de interferir em seu depoimento. "Tenho a minha consciência tranquila. Meu único compromisso era com Celso Daniel, com a verdade", diz o deputado.
Os irmãos petistas Maurício e Michel Mindrisz afirmaram que não se reconhecem nas conversas registradas pela PF. O primeiro é um dos fundadores do partido em Santo André. Michel é o secretário da Saúde da cidade e ex-marido de Ivone de Santana, namorada de Celso Daniel.
Segundo as degravações, Maurício parabenizou Ivone pela postura de viúva mantida durante uma entrevista. Michel, também em conversa com Ivone, sugeriu que o PT poderia deixar de lado as investigações por "conveniência".
"Tive várias conversas com a senhora Ivone de Santana sobre a morte do prefeito Celso, porém em nenhuma delas falei que esse caso poderia ficar oculto para conveniência do partido. Mesmo porque o caso tornou-se público poucos minutos após o sequestro, sendo noticiado em edição especial pela TV Globo", diz Michel.
O vereador Klinger Luiz de Oliveira Souza (PT), ex-secretário de Serviços Municipais, citou a ordem da Justiça de destruir as fitas, as degravações e todos os documentos relativos à escuta, para declarar que não iria comentar algo julgado ilegal.
Sobre o diálogo entre Klinger Souza e Michel, em que falam sobre "numerário", os dois disseram desconhecer a conversa.
Nos últimos dois dias, a Folha procurou por telefone Ivone de Santana. Na Escola de Governo de Santo André, onde trabalha, deixou recados com secretários sobre o teor da reportagem, mas não obteve resposta.


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