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CASO SANTO ANDRÉ/ OUTRO LADO
Gilberto Carvalho considera publicação de conteúdo de escutas "brutal sacanagem"
Dirceu diz que PT foi alvo de "conspiração"
DA REPORTAGEM LOCAL
O ministro José Dirceu (Casa
Civil) disse, por meio de sua assessoria, que o monitoramento
"ilegal" de diálogos entre membros do PT, após o assassinato do
prefeito Celso Daniel (Santo André), "fez parte de uma conspiração da qual o partido foi vítima".
Gilberto Carvalho, chefe de gabinete da Presidência, tem a mesma opinião: "O PT se armou para
buscar a verdade, para não dar
margem de uso político de algo
que para nós já era suficientemente doloroso. Nós nos sentíamos vítimas de tudo, até dos
grampos, das gravações ilegais",
disse ontem à Folha.
Diferentemente de Dirceu, que
não quis comentar o conteúdo
das fitas pelo fato de terem sido
declaradas ilegais pela Justiça,
Carvalho afirma que diariamente
conversava com o então presidente do PT e outros dirigentes da
cúpula petista para desmontar
"ilações falsas" da polícia.
Segundo o chefe de gabinete,
que considera uma "brutal sacanagem" a publicação do conteúdo de escutas ilegais, em vez de focar os assassinos, a polícia focou o
próprio PT. "A linha de investigação era encontrar as razões pela
morte dentro do próprio PT ou da
prefeitura. A polícia chegou a invadir a casa do prefeito. Tudo isso
foi uma agressão muito grande."
Segundo ele, sentindo-se acuado e bombardeado por todos os
lados, o PT decidiu assumir uma
"postura partidária".
Decidiu, então, reclamar do
comportamento da polícia com o
governador de São Paulo, Geraldo
Alckmin, e orientou o deputado e
advogado Luiz Eduardo Greenhalgh a acompanhar os depoimentos. "Não queríamos uma
ação isolada", diz o chefe de gabinete de Lula.
Greenhalgh, por sua vez, afirma
que era "praxe" dialogar com "alguns" dos convocados a depor,
mas que sua assistência restringia-se à parte técnica. "Explicava
o funcionamento, as regras de um
depoimento, não sobre o conteúdo das declarações", diz.
Na terça passada, na primeira
vez que foi contatado pela reportagem, o deputado havia dado
uma explicação um pouco diferente. Sem saber que a Folha possuía a degravação das conversas,
disse que não procurava os depoentes previamente. "Minha posição naquele momento era muito clara, eu era o advogado do partido, não das famílias."
Greenhalgh disse ser falsa a acusação de João Francisco, irmão de
Celso Daniel, que atribuiu ao deputado uma tentativa de interferir
em seu depoimento. "Tenho a
minha consciência tranquila.
Meu único compromisso era com
Celso Daniel, com a verdade", diz
o deputado.
Os irmãos petistas Maurício e
Michel Mindrisz afirmaram que
não se reconhecem nas conversas
registradas pela PF. O primeiro é
um dos fundadores do partido
em Santo André. Michel é o secretário da Saúde da cidade e ex-marido de Ivone de Santana, namorada de Celso Daniel.
Segundo as degravações, Maurício parabenizou Ivone pela postura de viúva mantida durante
uma entrevista. Michel, também
em conversa com Ivone, sugeriu
que o PT poderia deixar de lado as
investigações por "conveniência".
"Tive várias conversas com a senhora Ivone de Santana sobre a
morte do prefeito Celso, porém
em nenhuma delas falei que esse
caso poderia ficar oculto para
conveniência do partido. Mesmo
porque o caso tornou-se público
poucos minutos após o sequestro,
sendo noticiado em edição especial pela TV Globo", diz Michel.
O vereador Klinger Luiz de Oliveira Souza (PT), ex-secretário de
Serviços Municipais, citou a ordem da Justiça de destruir as fitas,
as degravações e todos os documentos relativos à escuta, para
declarar que não iria comentar algo julgado ilegal.
Sobre o diálogo entre Klinger
Souza e Michel, em que falam sobre "numerário", os dois disseram desconhecer a conversa.
Nos últimos dois dias, a Folha
procurou por telefone Ivone de
Santana. Na Escola de Governo de
Santo André, onde trabalha, deixou recados com secretários sobre o teor da reportagem, mas
não obteve resposta.
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