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PASSADO MILITAR
Condor mirava Jango, diz comissão
Filha critica deputados, que nada concluíram sobre causa da morte
ANTONIO CARLOS DE FARIA
DA SUCURSAL DO RIO
O relatório da Comissão Externa da Câmara dos Deputados
que investiga a morte do presidente João Goulart, que governou de 61 a 64, conclui que ele
era um dos alvos da Operação
Condor, conduzida por governos militares de países sul-americanos para eliminar adversários políticos.
A comissão, segundo o relator
Miro Teixeira (PDT-RJ), não teve condições de investigar a veracidade da causa oficial da
morte de Jango -um ataque
cardíaco. Ele morreu aos 57
anos, em 6 de dezembro de
1976, no exílio, em sua fazenda
na província de Corrientes, na
Argentina.
"O fato de que Brasil e Argentina não permitiram, na época, a
realização de autópsia evidencia
uma ação coordenada entre os
governos militares", disse o deputado. Jango foi enterrado em
São Borja (RS), onde nasceu.
Sem a autópsia, não foi possível comprovar acusações de que
ele possa ter sido vítima de um
atentado. As suspeitas de que
sua morte interessava à Operação Condor, diz Miro, estão fundamentadas em documentos
obtidos em países da América
do Sul e nos Estados Unidos.
"A operação surge a partir de
1973 e tinha o objetivo de impedir que líderes civis pudessem
voltar ao poder." Jango, eleito
vice-presidente, assumiu o poder com a renúncia de Jânio
Quadros e governou de setembro de 61 a março de 64, quando
foi deposto pelos militares.
Ontem, a historiadora Denise
Goulart, 42, filha de Jango, criticou o trabalho da comissão,
após cerimônia na qual parte do
acervo pessoal de seu pai foi
doado para o Arquivo Nacional.
"Tenho dúvidas com relação
às causas da morte de meu pai,
porém não tenho condições de
provar suspeitas. Os deputados
não chegaram a nenhuma conclusão. Não é uma comissão séria", disse Denise.
Miro Teixeira rebateu a crítica, afirmando que os trabalhos
da comissão terminarão dentro
do prazo e seu relatório será entregue no próximo dia 8, com
documentos que incluem relatórios obtidos nos arquivos da
CIA (agência de inteligência dos
EUA) e ficarão à disposição de
pesquisadores que queiram dar
continuidade à investigação.
A doação de Denise ao Arquivo Nacional é parte dos eventos
que lembram os 25 anos da
morte de Jango. O diretor da
instituição, Jaime Antunes, pretende editar no próximo ano
um livro com reproduções dos
principais documentos.
O acervo não inclui materiais
referentes ao período em que
Jango e sua família viveram no
exílio. Segundo Denise, muitos
documentos estão ainda retidos
na Argentina e no Uruguai.
Na próxima segunda-feira, o
Ministério do Trabalho inaugura um espaço cultural, no Rio,
dedicado à memória de Jango.
No dia 6, haverá missa na igreja
da Candelária em cerimônia solene na data de sua morte. E a
Universidade Federal do Rio de
Janeiro abre no dia 13 exposição
sobre o governo de Jango.
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