São Paulo, sábado, 01 de dezembro de 2001

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PASSADO MILITAR

Condor mirava Jango, diz comissão

Filha critica deputados, que nada concluíram sobre causa da morte

ANTONIO CARLOS DE FARIA
DA SUCURSAL DO RIO

O relatório da Comissão Externa da Câmara dos Deputados que investiga a morte do presidente João Goulart, que governou de 61 a 64, conclui que ele era um dos alvos da Operação Condor, conduzida por governos militares de países sul-americanos para eliminar adversários políticos.
A comissão, segundo o relator Miro Teixeira (PDT-RJ), não teve condições de investigar a veracidade da causa oficial da morte de Jango -um ataque cardíaco. Ele morreu aos 57 anos, em 6 de dezembro de 1976, no exílio, em sua fazenda na província de Corrientes, na Argentina.
"O fato de que Brasil e Argentina não permitiram, na época, a realização de autópsia evidencia uma ação coordenada entre os governos militares", disse o deputado. Jango foi enterrado em São Borja (RS), onde nasceu.
Sem a autópsia, não foi possível comprovar acusações de que ele possa ter sido vítima de um atentado. As suspeitas de que sua morte interessava à Operação Condor, diz Miro, estão fundamentadas em documentos obtidos em países da América do Sul e nos Estados Unidos.
"A operação surge a partir de 1973 e tinha o objetivo de impedir que líderes civis pudessem voltar ao poder." Jango, eleito vice-presidente, assumiu o poder com a renúncia de Jânio Quadros e governou de setembro de 61 a março de 64, quando foi deposto pelos militares.
Ontem, a historiadora Denise Goulart, 42, filha de Jango, criticou o trabalho da comissão, após cerimônia na qual parte do acervo pessoal de seu pai foi doado para o Arquivo Nacional.
"Tenho dúvidas com relação às causas da morte de meu pai, porém não tenho condições de provar suspeitas. Os deputados não chegaram a nenhuma conclusão. Não é uma comissão séria", disse Denise.
Miro Teixeira rebateu a crítica, afirmando que os trabalhos da comissão terminarão dentro do prazo e seu relatório será entregue no próximo dia 8, com documentos que incluem relatórios obtidos nos arquivos da CIA (agência de inteligência dos EUA) e ficarão à disposição de pesquisadores que queiram dar continuidade à investigação.
A doação de Denise ao Arquivo Nacional é parte dos eventos que lembram os 25 anos da morte de Jango. O diretor da instituição, Jaime Antunes, pretende editar no próximo ano um livro com reproduções dos principais documentos.
O acervo não inclui materiais referentes ao período em que Jango e sua família viveram no exílio. Segundo Denise, muitos documentos estão ainda retidos na Argentina e no Uruguai.
Na próxima segunda-feira, o Ministério do Trabalho inaugura um espaço cultural, no Rio, dedicado à memória de Jango. No dia 6, haverá missa na igreja da Candelária em cerimônia solene na data de sua morte. E a Universidade Federal do Rio de Janeiro abre no dia 13 exposição sobre o governo de Jango.


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