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São Paulo, segunda-feira, 01 de dezembro de 2003

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RUMO AO ORIENTE

Presidente terminará seu primeiro ano com viagens a 26 países, 12 a mais que Fernando Henrique em 1995

Lula terá encontro com premiê palestino

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem reunião marcada com o premiê da Autoridade Nacional Palestina, Ahmed Korei, durante a viagem que fará a cinco países árabes, de 2 a 10 de dezembro.
Trata-se de um fato inédito para um presidente brasileiro. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) teve um encontro com Iasser Arafat quando este era ainda presidente interino da ANP -hoje é o presidente.
Na avaliação do Ministério das Relações Exteriores, esse encontro ajudará a consolidar a imagem internacional que interessa ao presidente Lula -a de um líder que estaria atuando em várias regiões do planeta, apesar dos conflitos locais. Lula já teve um papel relevante na crise da Venezuela, no início deste ano.
Nesta viagem internacional, o presidente completará 26 países visitados -contra 14 de FHC em seu primeiro ano. Dentro do PT, foi superado o temor de que as viagens de Lula pudessem prejudicar a imagem do governo. "Está claro que é bom para o país que o presidente viaje e divulgue a sua administração", diz o presidente da Câmara dos Deputados, João Paulo Cunha (PT-SP).
O encontro com o premiê palestino, Ahmed Korei, deverá ocorrer quando Lula estiver no Egito, nos dias 8 e 9. Não está descartado no ano que vem uma visita a Israel. O Itamaraty considera relevante que o governo brasileiro venda a imagem de equidistância na disputa árabe-israelense.
Na região, o Brasil já tem o apoio do Líbano para a pretensão de ser indicado como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU. Com 3,7 milhões de habitantes, o Líbano tem menos "libaneses" do que o Brasil -aqui vivem cerca de 7 milhões de descendentes de imigrantes.

Comércio
O roteiro do presidente estava sendo finalizado na sexta-feira. Os países a serem visitados são, pela ordem: Síria, Líbano, Emirados Árabes Unidos, Egito e Líbia.
O principal objetivo da viagem de Lula a esses países é econômico-comercial. Ao tomar posse, priorizou três regiões: América do Sul, África e países árabes. Desses, só faltavam os árabes.
A idéia inicial da viagem incluía a Arábia Saudita, maior economia entre os 22 integrantes da Liga dos Estados Árabes. Mas a reticência do governo daquele país em responder ao Brasil acabou sendo a causa da sua exclusão do roteiro de Lula. No governo brasileiro falou-se reservadamente em problemas de segurança, mas não há palavra oficial a respeito.
O trecho Síria-Líbano terá uma conotação quase sentimental. Cerca de 150 pessoas, entre empresários e políticos, participarão da viagem por terem laços de família com esses países.
Nos Emirados Árabes Unidos haverá o maior evento comercial da viagem. Foi organizada uma Semana do Brasil em Dubai, com 86 expositores de produtos nacionais, dos mais variados setores -têxtil, alimentício, calçados, construção civil, cosméticos, lingerie, mármores, granitos, software e equipamentos médicos e odontológicos.
Em uma entrevista na quinta-feira a correspondentes estrangeiros, Lula comentou o evento de Dubai: "Nós vamos ter a primeira grande feira de negócios no mundo árabe. Nós queremos nessa feira oferecer não apenas o que temos para vender aos nossos amigos no mundo árabe, como também queremos levar projetos para oferecer a contrapartida de investimentos para empresas árabes que porventura queiram ganhar dinheiro na América do Sul". O presidente do Mercosul, o argentino Eduardo Duhalde, estará na comitiva de Lula.
A idéia é oferecer aos capitalistas árabes lugares alternativos de investimento, uma vez que a relação dessa região do planeta com os Estados Unidos ficou abalada por causa do 11 de Setembro.
Lula completou: "E isso pode sensibilizar investidores que tenham investimentos em outros lugares a falar: "Bom vamos tentar a sorte num outro país".".

Egito e Líbia
A inclusão da Líbia se deveu fortemente por razões econômicas. Com a oitava maior reserva de petróleo do planeta, o país teve neste ano a retirada definitiva de restrições comerciais e políticas por parte da ONU. O Brasil quer ser um dos primeiros a se oferecer como parceiro econômico. Hoje, uma construtora brasileira, a Cogefe, participa de um empreendimento de US$ 1 bilhão na Líbia.
No Egito, haverá o anúncio de muitos contratos já assinados ou em andamento com empresas brasileiras. A Embraer, por exemplo, já assinou um acordo de US$ 10 milhões para reformar os 52 aviões tucano usados pelo governo egípcio. E tem em negociação contratos no valor de US$ 400 milhões para venda de novos aviões.
Uma análise dos números da balança comercial brasileira mostram que o mundo árabe ainda ocupa uma posição marginal na relação com o Brasil. Pior do que isso: o valor vendido neste ano é percentualmente menor do que no ano passado, apesar do aumento das exportações. Em 2002, de janeiro a outubro, o Brasil exportou US$ 2,152 bilhões para os países árabes -o que significou 4,31% do total vendido para o exterior. Neste ano, apesar do valor maior -US$ 2,213 bilhões-, a participação foi de apenas 3,67%.



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