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São Paulo, segunda-feira, 01 de dezembro de 2003

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Petróleo e potencial para investimento em infra-estrutura colocam nações orientais no roteiro de Lula

Países árabes são "mundo a ser explorado"

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O roteiro de viagens do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi delineado antes mesmo da posse em janeiro e obedece às prioridades da política externa: consolidar a liderança na América do Sul, como base de lançamento para vôos mais altos -na África e nos países árabes, principalmente nos países em grau de desenvolvimento semelhante ao do Brasil.
Tanto a África, onde Lula visitou cinco países em novembro, quanto os países árabes, para onde ele irá entre os dias 2 e 10 de dezembro, são considerados "mundos a serem explorados". Isso significa investir na aproximação política para colher frutos econômicos, especialmente porque, nos dois casos, petróleo é o que não falta. E há carência de infra-estrutura, algo de interesse de grandes empresas brasileiras.
A política externa de Lula, porém, não despreza o que não pode ser desprezado: os tradicionais parceiros ricos. Daí porque Lula se dedicou a viagens aos países vizinhos da América do Sul, mas também esteve nos Estados Unidos três vezes desde a posse e em cinco países da Europa: Alemanha, França, Portugal, Espanha e Suíça (neste caso, para a reunião do Fórum Econômico Mundial).
Ao assumir, o roteiro já estava previamente desenhado pela própria visão de mundo e de política externa que Lula e o seu partido, o PT, levaram para o Planalto. À frente disso, Marco Aurélio Garcia, que foi assessor internacional do PT durante dez anos (até 2000) e hoje ocupa a mesma função na Presidência da República.
Mas Garcia não está sozinho. Ele foi um dos articuladores da escolha do embaixador Celso Amorim para o cargo de chanceler, e os dois participam intimamente das decisões na área externa, que têm sido tomadas em comum acordo.
Amorim habilitou-se para o Itamaraty de Lula inclusive por causa de sua atuação no mesmo cargo durante o governo Itamar Franco (93-95). Foi nessa época que o Mercosul deslanchou.
A atual política de aproximação com os vizinhos tem reciprocidade. Desde sua posse, Lula já recebeu a visita dos presidentes de todos os países da América do Sul. Em alguns casos, foi visitado por dois presidentes, o que ocupava o cargo e o que o substituiu. Exemplos: Eduardo Duhalde e Néstor Kirchner, da Argentina, e Gonzalo Sanchez de Lozada e Carlos Mesa, seu sucessor na Bolívia.
Além disso, Lula também já recebeu várias vezes o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e duas vezes o novo presidente do Paraguai, Nicanor Duarte Frutos.

2004
O próximo ano já vai começar com viagens internacionais, sendo a primeira delas prevista para a Índia. Depois, Lula deverá ir à China, à Rússia e voltar à África do Sul. Nesse seu retorno ao continente africano, é possível que inclua a Nigéria, país rico em petróleo e muito ligado aos EUA.
Dentro da prioridade de aproximação e parceria com países em estágio equivalente de desenvolvimento, Lula e Amorim articularam o G3 (Brasil, África do Sul e Índia), que poderá ser ampliado para abrigar China e Rússia.
A parceria com os equivalentes, que foi idealizada como basicamente política, já evoluiu para algo mais consistente e econômico. Foi assim que o Brasil liderou o movimento do G20, depois classificado de GX, para reunir os países em desenvolvimento e reagir às regras e aos subsídios agrícola de EUA e União Européia.
Uma crítica que se faz a toda essa estratégia e à sua correspondência nos roteiros de viagens internacionais é a de que não há liderança sem uma consequência direta em ajuda econômica e/ou financeira. No discurso brasileiro, inclusive nas visitas a presidentes e primeiros-ministros, Lula fala em "diálogo e cooperação". Países mais pobres que o Brasil prefeririam traduzir isso em dólares.
O Itamaraty reage às críticas de que Lula viaja demais justificando: a diplomacia presidencial tem um lado simbólico importante, de "botar a cara", colher simpatias.
Simpatia, no caso dos países árabes, pode ter um retorno considerável e rápido. O mundo árabe importa algo em torno de US$ 150 bilhões por ano e está em fase de troca de parceiros prioritários, por causa da tensão e das incertezas nas relações com os EUA.
Ao ir pessoalmente à Síria, Líbano, Egito, Emirados Árabes e Líbia, portanto, Lula estará deixando claro algo que pode ser traduzido assim: "Estamos às ordens. Entramos nesse vácuo".



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