|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Petróleo e potencial para investimento em infra-estrutura colocam nações orientais no roteiro de Lula
Países árabes são "mundo a ser explorado"
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O roteiro de viagens do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi
delineado antes mesmo da posse
em janeiro e obedece às prioridades da política externa: consolidar
a liderança na América do Sul, como base de lançamento para vôos
mais altos -na África e nos países árabes, principalmente nos
países em grau de desenvolvimento semelhante ao do Brasil.
Tanto a África, onde Lula visitou cinco países em novembro,
quanto os países árabes, para onde ele irá entre os dias 2 e 10 de dezembro, são considerados "mundos a serem explorados". Isso significa investir na aproximação
política para colher frutos econômicos, especialmente porque, nos
dois casos, petróleo é o que não
falta. E há carência de infra-estrutura, algo de interesse de grandes
empresas brasileiras.
A política externa de Lula, porém, não despreza o que não pode
ser desprezado: os tradicionais
parceiros ricos. Daí porque Lula
se dedicou a viagens aos países vizinhos da América do Sul, mas
também esteve nos Estados Unidos três vezes desde a posse e em
cinco países da Europa: Alemanha, França, Portugal, Espanha e
Suíça (neste caso, para a reunião
do Fórum Econômico Mundial).
Ao assumir, o roteiro já estava
previamente desenhado pela própria visão de mundo e de política
externa que Lula e o seu partido, o
PT, levaram para o Planalto. À
frente disso, Marco Aurélio Garcia, que foi assessor internacional
do PT durante dez anos (até 2000)
e hoje ocupa a mesma função na
Presidência da República.
Mas Garcia não está sozinho.
Ele foi um dos articuladores da escolha do embaixador Celso Amorim para o cargo de chanceler, e os
dois participam intimamente das
decisões na área externa, que têm
sido tomadas em comum acordo.
Amorim habilitou-se para o Itamaraty de Lula inclusive por causa de sua atuação no mesmo cargo durante o governo Itamar
Franco (93-95). Foi nessa época
que o Mercosul deslanchou.
A atual política de aproximação
com os vizinhos tem reciprocidade. Desde sua posse, Lula já recebeu a visita dos presidentes de todos os países da América do Sul.
Em alguns casos, foi visitado por
dois presidentes, o que ocupava o
cargo e o que o substituiu. Exemplos: Eduardo Duhalde e Néstor
Kirchner, da Argentina, e Gonzalo Sanchez de Lozada e Carlos
Mesa, seu sucessor na Bolívia.
Além disso, Lula também já recebeu várias vezes o presidente da
Venezuela, Hugo Chávez, e duas
vezes o novo presidente do Paraguai, Nicanor Duarte Frutos.
2004
O próximo ano já vai começar
com viagens internacionais, sendo a primeira delas prevista para a
Índia. Depois, Lula deverá ir à
China, à Rússia e voltar à África
do Sul. Nesse seu retorno ao continente africano, é possível que inclua a Nigéria, país rico em petróleo e muito ligado aos EUA.
Dentro da prioridade de aproximação e parceria com países em
estágio equivalente de desenvolvimento, Lula e Amorim articularam o G3 (Brasil, África do Sul e
Índia), que poderá ser ampliado
para abrigar China e Rússia.
A parceria com os equivalentes,
que foi idealizada como basicamente política, já evoluiu para algo mais consistente e econômico.
Foi assim que o Brasil liderou o
movimento do G20, depois classificado de GX, para reunir os países em desenvolvimento e reagir
às regras e aos subsídios agrícola
de EUA e União Européia.
Uma crítica que se faz a toda essa estratégia e à sua correspondência nos roteiros de viagens internacionais é a de que não há liderança sem uma consequência
direta em ajuda econômica e/ou
financeira. No discurso brasileiro,
inclusive nas visitas a presidentes
e primeiros-ministros, Lula fala
em "diálogo e cooperação". Países mais pobres que o Brasil prefeririam traduzir isso em dólares.
O Itamaraty reage às críticas de
que Lula viaja demais justificando: a diplomacia presidencial tem
um lado simbólico importante, de
"botar a cara", colher simpatias.
Simpatia, no caso dos países
árabes, pode ter um retorno considerável e rápido. O mundo árabe importa algo em torno de US$
150 bilhões por ano e está em fase
de troca de parceiros prioritários,
por causa da tensão e das incertezas nas relações com os EUA.
Ao ir pessoalmente à Síria, Líbano, Egito, Emirados Árabes e Líbia, portanto, Lula estará deixando claro algo que pode ser traduzido assim: "Estamos às ordens.
Entramos nesse vácuo".
Texto Anterior: Rumo ao Oriente: Lula terá encontro com premiê palestino Próximo Texto: Mercosul tentará negociar acordo de livre comércio com Egito, diz Amorim Índice
|