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RORAIMA
Neudo Campos diz que juiz que decretou sua prisão é seu "inimigo" e que Flamarion sabia de todas as atividades do governo
Ex-governador nega denúncia e ataca sucessor
JAIRO MARQUES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BOA VISTA
Completando hoje seu sexto dia
encarcerado na cadeia que ele
mesmo construiu, o ex-governador de Roraima Neudo Campos
(PP), 55, acusado por uma força-tarefa de ser mentor do chamado
"escândalo dos gafanhotos", que
pode ter desviado recursos públicos da ordem de R$ 230 milhões,
falou com exclusividade, de dentro da cadeia, por um telefone celular, à Agência Folha anteontem.
Ele afirmou que está sendo julgado por um "inimigo" e não por
um juiz, pois teve divergências
com o magistrado Helder Cirão
Barreto, que decretou a prisão dele e de mais 56 pessoas.
Campos também atacou o atual
governador, Flamarion Portela
(PT), que foi seu vice, pela primeira vez desde a divulgação do esquema, e se defendeu das denúncias de irregularidade durante sua
gestão, de 1995 a 2002.
Campos é acusado de ser o
mentor de uma fraude que consistiria no uso de funcionários-fantasmas para desviar recursos
públicos em prol de 30 autoridades. Cerca de 60 procuradores receberiam salários em nome dos
gafanhotos e repassariam a maior
parte para deputados, conselheiros do Tribunal de Contas e outras autoridades.
O ex-governador está em uma
cela especial, por ter curso superior, de quatro metros quadrados.
Tem visitas limitadas pela direção
da cadeia e deve ser o último a depor na Polícia Federal.
A entrevista foi precedida de
uma negociação com advogados
e assessores e viabilizada pela mulher de Campos, a deputada federal Suely Campos (PP).
"Fui um governador condecorado pelo Exército brasileiro por
meus serviços prestados a Roraima. Nos anais da Secretaria do
Tesouro Nacional, é possível encontrar o relatório em que fui
considerado um dos maiores
cumpridores da Lei de Responsabilidade Fiscal. Não sou chefe de
quadrilha nenhuma."
Campos reagiu à declaração de
seu sucessor, Flamarion Portela,
de que tinha pouca participação,
enquanto vice, no governo e, por
isso, não teve responsabilidades
sobre possíveis irregularidades
que foram cometidas.
"[Portela] tem memória curta.
Ocupou vários cargos no meu governo, sabia de tudo o que acontecia, tinha plena atuação e participava das atividades de governo.
Esse cara, hoje, fica me destruindo. Se voltou contra mim. Uma
pessoa que foi meu vice, uma pessoa da minha confiança, que agora me bombardeia. Demonstra,
jogando responsabilidades em
mim, muita falta de firmeza"
Sobre os gafanhotos, o político
declarou: "Nunca tive conhecimento de funcionário-fantasma
nenhum em meu governo".
Em relação à sua prisão, Campos afirmou que não foi intimado,
não teve direito a defesa e se sente
injustiçado e humilhado. "Não
me sinto julgado por um juiz, mas
por um inimigo que me persegue.
Desde o meu governo tive dificuldades com ele [Helder Cirão Barreto]." Campos respondeu também sobre possíveis desvios de recursos de convênios com a União
durante seu mandato.
"Faço questão que analisem cada um dos convênios. Se houve alguma irresponsabilidade, os órgãos competentes saberão chegar
aos culpados. Eu não tenho conhecimento de nenhuma. Estão
dizendo uma porção de coisas,
mas sem nenhuma prova. Essa
operação foi uma humilhação.
Arrancaram mães de família de
dentro de suas casas, de camisola,
para prender dessa forma. Foi
uma atrocidade sem tamanho."
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