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São Paulo, segunda-feira, 01 de dezembro de 2003

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RORAIMA

Neudo Campos diz que juiz que decretou sua prisão é seu "inimigo" e que Flamarion sabia de todas as atividades do governo

Ex-governador nega denúncia e ataca sucessor

JAIRO MARQUES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BOA VISTA

Completando hoje seu sexto dia encarcerado na cadeia que ele mesmo construiu, o ex-governador de Roraima Neudo Campos (PP), 55, acusado por uma força-tarefa de ser mentor do chamado "escândalo dos gafanhotos", que pode ter desviado recursos públicos da ordem de R$ 230 milhões, falou com exclusividade, de dentro da cadeia, por um telefone celular, à Agência Folha anteontem.
Ele afirmou que está sendo julgado por um "inimigo" e não por um juiz, pois teve divergências com o magistrado Helder Cirão Barreto, que decretou a prisão dele e de mais 56 pessoas.
Campos também atacou o atual governador, Flamarion Portela (PT), que foi seu vice, pela primeira vez desde a divulgação do esquema, e se defendeu das denúncias de irregularidade durante sua gestão, de 1995 a 2002.
Campos é acusado de ser o mentor de uma fraude que consistiria no uso de funcionários-fantasmas para desviar recursos públicos em prol de 30 autoridades. Cerca de 60 procuradores receberiam salários em nome dos gafanhotos e repassariam a maior parte para deputados, conselheiros do Tribunal de Contas e outras autoridades.
O ex-governador está em uma cela especial, por ter curso superior, de quatro metros quadrados. Tem visitas limitadas pela direção da cadeia e deve ser o último a depor na Polícia Federal.
A entrevista foi precedida de uma negociação com advogados e assessores e viabilizada pela mulher de Campos, a deputada federal Suely Campos (PP).
"Fui um governador condecorado pelo Exército brasileiro por meus serviços prestados a Roraima. Nos anais da Secretaria do Tesouro Nacional, é possível encontrar o relatório em que fui considerado um dos maiores cumpridores da Lei de Responsabilidade Fiscal. Não sou chefe de quadrilha nenhuma."
Campos reagiu à declaração de seu sucessor, Flamarion Portela, de que tinha pouca participação, enquanto vice, no governo e, por isso, não teve responsabilidades sobre possíveis irregularidades que foram cometidas.
"[Portela] tem memória curta. Ocupou vários cargos no meu governo, sabia de tudo o que acontecia, tinha plena atuação e participava das atividades de governo. Esse cara, hoje, fica me destruindo. Se voltou contra mim. Uma pessoa que foi meu vice, uma pessoa da minha confiança, que agora me bombardeia. Demonstra, jogando responsabilidades em mim, muita falta de firmeza"
Sobre os gafanhotos, o político declarou: "Nunca tive conhecimento de funcionário-fantasma nenhum em meu governo".
Em relação à sua prisão, Campos afirmou que não foi intimado, não teve direito a defesa e se sente injustiçado e humilhado. "Não me sinto julgado por um juiz, mas por um inimigo que me persegue. Desde o meu governo tive dificuldades com ele [Helder Cirão Barreto]." Campos respondeu também sobre possíveis desvios de recursos de convênios com a União durante seu mandato.
"Faço questão que analisem cada um dos convênios. Se houve alguma irresponsabilidade, os órgãos competentes saberão chegar aos culpados. Eu não tenho conhecimento de nenhuma. Estão dizendo uma porção de coisas, mas sem nenhuma prova. Essa operação foi uma humilhação. Arrancaram mães de família de dentro de suas casas, de camisola, para prender dessa forma. Foi uma atrocidade sem tamanho."



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