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QUESTÃO AGRÁRIA
Falb Saraiva de Farias teria 10 milhões de hectares na Amazônia; 80% teriam escrituras falsificadas
Incra investiga novo megalatifundiário
KÁTIA BRASIL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS
Um levantamento da Procuradoria-Geral do Incra (Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária) do Amazonas, em
cartórios de cinco cidades do Estado, constatou que o acreano
Falb Saraiva de Farias, 66, pode
ser o maior latifundiário do Brasil.
Pelo levantamento, Farias teria
mais de 10 milhões de hectares de
terras na floresta amazônica (o
equivalente ao tamanho do Estado de Pernambuco). Ele afirma
ter 6 milhões de hectares.
Pelos dados do Incra, Farias tem
mais terras do que a Rondon Projetos Ecológicos, do empreiteiro
Cecílio do Rego Almeida, que tem
7 milhões de hectares no Pará. Almeida era considerado o maior
latifundiário do país.
Filho de seringueiro, Farias é investigado pelos procuradores do
Incra desde que passou a solicitar,
com freqüência, o Certificado de
Cadastro do Imóvel Rural para
vender terras a empresas em dívida com o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). As terras,
compradas a preços baixos, seriam oferecidas ao governo para
reforma agrária em troca do cancelamento das dívidas.
O Incra cancelou certificados
que estavam em nome de Farias
após constatar o esquema.
"É preciso uma interdição rápida da Justiça Federal para cancelar as escrituras dessas terras, pois
Falb as está vendendo para empresas em dívida com o INSS",
disse o procurador-geral do Incra,
Mário Braulio Pinto da Silva.
Segundo ele, as empresas que
compraram terras do latifundiário para esse fim também serão
investigadas pela Receita Federal.
Por medida de segurança, os nomes delas estão em sigilo.
"Ao verificarmos a cadeia dominial dos imóveis constatamos
que os títulos de Falb são nulos de
pleno direito. São posses que não
podem ser registradas por estarem em terras da União, destinadas à reforma agrária. Estamos
preservando o patrimônio público", disse o procurador, acrescentando que pedidos de cancelamento das escrituras foram rejeitados pela Corregedoria Geral de
Justiça do Amazonas.
A investigação está a cargo agora da Polícia Federal do Amazonas, que abriu 12 inquéritos. Segundo um delegado, Farias já
prestou dois depoimentos e será
convocado de novo em janeiro.
As investigações mostram que
80% das terras foram griladas
(têm escritura falsa). Serventuários da Justiça do Amazonas e
funcionários do Incra também
são investigados pela PF.
Um delegado da PF, que não
quis se identificar, diz que Falb
deverá ser indiciado em crime de
estelionato e invasão de terras
destinadas à reforma agrária. As
investigações apurariam crimes
de falsidade ideológica, falsificação de documentos públicos e
particulares, corrupção ativa e
passiva e sonegação fiscal.
"A Polícia Federal só viu até
agora a parte do Incra. Os documentos que eu tenho são originais. Eu estou tranquilo", defende-se Farias, confirmando que
vendeu terras para uma empresa
com dívida com o INSS.
"Em 1996, vendi 329 mil hectares para essa empresa. Eu não sabia que ela tinha dívida com o
INSS, isso foi problema dela. Eles
não me pagaram os R$ 300 mil.
Deram notas frias", afirmou.
Mas a Polícia Federal ainda não
descobriu quanto Farias lucrou
vendendo terras a empresas e pessoas físicas, de São Paulo e do Rio
Grande do Sul, interessadas em
um pedaço de terra na Amazônia.
O Incra descobriu também que
Farias tem mais de 20 empresas
em seu nome. Essas empresas
também seriam proprietárias de
terras. Apenas no município de
Canutama ele possui 2.820.429
hectares de terra.
No município de Tapauá, Farias
teria registrados em cartório, segundo o Incra, mais 6.342.202 ha,
249.154 ha em Pauini e 1 milhão
de hectares em Novo Aripuanã,
no Amazonas. E mais 225.000 ha
em Sena Madureira, no Acre. Um
total de 10.636.785 hectares.
As terras no Amazonas vêm, segundo Farias, de uma escritura de
1926, de Maria Luiza Hidalgo Lima de Barros, viúva de um comerciante de navegação. No Termo de Partilha, de 1954, consta
que as terras foram registradas a
partir de áreas denominadas
"posses de estradas de seringais".
Segundo o Incra, os registros foram alterados quando da retificação das áreas originais nos cartórios. A área "Suvaco Dois de Julho
e outros", por exemplo, originalmente com 3.000 hectares, passou
para 780.000 hectares (área maior
do que a da Irlanda).
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