São Paulo, terça-feira, 02 de janeiro de 2001

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A EXPLICAÇÃO

"Paguei pelas terras", afirma fazendeiro

Acusado de grilagem diz ter 27 quilos de documentos para provar que sua posse é legal
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MANAUS

Falb Saraiva de Farias -que tem endereços no Acre, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Rio Grande do Sul- mora temporariamente em Manaus, sem a família, em casa alugada por R$ 900. Diz ter 27 quilos de documentos para provar que é dono legítimo das terras que controla.

Agência Folha - Como o sr. adquiriu 10 milhões de hectares de terras entre Amazonas e Acre?
Falb Saraiva de Farias -
Eu não vou negar que sou um dos maiores latifundiários do Brasil. Sou o que sou, não gosto de mentiras. Dessas terras, uns 3 milhões (de hectares) estão cadastrados em meu nome e no de minhas empresas. O resto ainda está sendo cadastrado. Acho que tenho, na verdade, uns 6 milhões. As terras são originárias do patrimônio de uma viúva, Maria Luiza Hildalgo Lima de Barros. Ela transferiu para mim, em 76, uma certidão do registro de imóvel de 54.

Agência Folha - Segundo o Incra, são certidões de terras pertencentes a União. Os registros foram alterados?
Farias -
Eu não acredito que os advogados amazonenses vão ignorar que as terras aqui são limites de confrontações e não áreas definidas. As terras são marcadas por estradas de seringais. Eu não sabia naquela época o tamanho exato.

Agência Folha - Quanto o sr. pagou por essas terras?
Farias -
Na época gastei uns 20 milhões. Eram cruzeiros. Paguei em 20 anos. Tentei abrir um condomínio para vender as terras, mas nunca consegui.

Agência Folha - Foi por isso que o sr. abriu a empresa Acresul Empreendimentos Imobiliários? O sr. queria fazer um condomínio no meio da floresta?
Farias -
Minha intenção era fazer um consórcio de condomínio. Quando eu comprei a terra, não se falava em preservação. Todo mundo sabe -só o Incra que não- que o solo da Amazônia não é bom para a agricultura, para a reforma agrária.

Agência Folha - Pelas contas do Incra, o sr. abriu mais de 20 empresas. E transferiu para elas grandes extensões de terras...
Farias -
Quando se tem um patrimônio desse tamanho, como pessoa física, não é interessante. É mais fácil legalizar a terra como pessoa jurídica. Eu pago os impostos.

Agência Folha - Quando foi o último pagamento de Imposto Territorial Rural à Receita Federal?
Farias -
Ultimamente eu não estou conseguindo pagar o imposto da Receita. Eu calculo que deva uns R$ 600 mil. Não pago porque não tenho como pagar.

Agência Folha - Qual é a sua relação com a ONG Fundação Amazonas Forever Green?
Farias -
Sou um dos fundadores. Como tinha essa idéia de preservar, doei 100 mil hectares.



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