São Paulo, quinta-feira, 02 de janeiro de 2003

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Informalidade dá tom de cerimônia

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A sessão solene do Congresso na qual tomou posse Luiz Inácio Lula da Silva foi marcada pela informalidade dos protagonistas e pela emoção contida do público que assistiu o discurso do presidente petista no plenário.
Apesar de ter sido interrompido 30 vezes por aplausos durante seu discurso, todas as manifestações foram rápidas, durando de 3 a 4 segundos. Só uma vez o presidente foi aplaudido com vigor, quando defendeu uma solução pacífica para os conflitos no Oriente Médio. Quase metade do plenário chegou a ficar de pé.
A informalidade ficou por conta de várias quebras do protocolo e da já tradicional mania dos congressistas de não se sentarem nas cadeiras no plenário -embora ontem houvesse mais convidados do que cadeiras disponíveis. Muitos acabaram de pé no corredor do meio do plenário da Câmara (que serve para as sessões do Congresso) ou em frente à mesa.
Logo no início da sessão, o deputado Heráclito Fortes (PFL-PI) fez uma brincadeira com o líder do PT na Câmara, João Paulo Cunha (SP). "Veja como a oposição está com boa vontade. Não vamos pedir verificação de quórum para a sessão de hoje."
Na realidade, sessões solenes do Congresso podem ser abertas com "qualquer número" de congressistas. João Paulo respondeu a Fortes: "Espero que vocês continuem assim daqui para a frente".
No plenário, a Folha contou pelo menos 14 mulheres vestidas de vermelho. A senadora Heloísa Helena (PT-AL) vestia um vestido vermelho de linha, todo rendado e um pouco acima do joelho. Seu vestuário era motivo de comentários no plenário, pois ela sempre comparece às sessões do Senado de calça jeans e camisa branca.
Ao chegar ao Salão Negro do Congresso, Lula interrompeu sua caminhada em direção ao plenário para abraçar a atriz Lélia Abramo, 92, sentada na primeira fila dos convidados, e recebeu uma queixa: ""Eu falei no ouvido dele que estou entristecida porque ele nomeou o Gilberto Gil ministro da Cultura". Lula beijou-a e continuou o percurso sem responder.
Ex-trotskista (seguidora do líder comunista León Trotski) e uma das primeiras intelectuais a assinar a criação do PT, Lélia conhece -e apóia- Lula desde a década de 70.

Autógrafo de Fidel
As autoridades estrangeiras presentes chamaram a atenção dos parlamentares. Quando Lula começou a discursar, às 15h21, o ditador cubano, Fidel Castro, ainda dava um autógrafo para o deputado Moroni Torgan (PFL-CE).
Os presidentes da Argentina, Eduardo Duhalde, e da Venezuela, Hugo Chávez, sentaram-se lado a lado. Conversaram durante a maior parte da cerimônia.
Só os estrangeiros receberam o discurso do petista impresso. Ao final da cerimônia, a primeira versão disponível era uma cópia impressa do discurso em inglês, esquecida por algum representante de um governo estrangeiro.
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) levou sua mãe, Filomena, de 94 anos à cerimônia. O senador chamou a atenção de todos ao gritar três "vivas" às 15h13, depois da execução do Hino Nacional: "Viva o Lula", "Viva o José Alencar" e "Viva o Brasil".
Lula discursou por 44 minutos, como previsto. Saiu do salão verde da Câmara às 16h30. Demorou para chegar à rampa do Congresso e assistir à salva de tiros de canhão porque decidiu colocar uma camisa limpa, pois estava suado -foi levado até salão nobre do Congresso, onde fez a troca.


Colaborou RAQUEL ULHÔA, da Sucursal de Brasília


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