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NO AR
Tudo pode acontecer
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
- Tudo pode acontecer.
Era Duda Mendonça,
o encenador de Lula, sobre o
próprio Lula, mas não sobre seu
governo, sobre a "esperança"
que traz.
Falava da possibilidade de
que o espetáculo armado para
Brasília escapasse do roteiro que
havia traçado. Em se tratando
de Lula, tudo esteve perto de
acontecer.
Por exemplo, Boris Casoy, que
fez a narração na Record, falou
seguidamente da importância,
do "simbolismo" da passagem
da faixa presidencial de eleito
para eleito.
Alexandre Garcia, narrador
da Globo, também citou como
isso é um fato raro na história.
Até William Bonner, no Jornal
Nacional ancorado de Brasília,
com direito a uma música nova,
sublinhou o fato.
Pois a passagem da faixa foi
uma comédia de erros, por todos
os canais abertos -e por vários
canais pagos, inclusive CNN e
BBC:
Já no Parlatório, caíram os
óculos de FHC ao tentar tirar a
faixa com apoio de Lula; este se
abaixou em busca dos óculos no
chão; FHC tentou vestir nele a
faixa e ao mesmo tempo pegar
os óculos de suas mãos; a faixa
ficou torta enquanto os dois se
abraçavam desajeitados.
Apresentada como mais um
sinal da espontaneidade lulista,
a sequência de equívocos abriu
logo que entrou na Esplanada
dos Ministérios, com os cavalos
dos "dragões" se assustando,
atropelando o Rolls Royce e até
derrubando Lula.
Também -e de maneira mais
assustadora- com o jovem que
furou a segurança para agarrar
o petista como um ídolo pop e
depois dizer:
- Foi inesquecível.
No espelho d'água, diante do
Congresso, mais invasão e até
uma mulher que tirou a roupa,
o que a transmissão em "pool"
não mostrou, mas o JN sim, de
relance.
E tome lágrimas de Lula, de
novo, no Congresso.
E tome tietagem, estimulada
pelo presidente. Lula deixou o
roteiro para abraçar uma tiete,
como qualificada por Franklin
Martins na Globo, e foi obrigado
a tirar foto.
Também deu autógrafos.
No quadro de maior comédia,
"a melhor cena do dia", segundo
Martins, o Rolls Royce empacou
numa pequena subida. Uma
dúzia de seguranças deixou de
lado a segurança para empurrar
o carro -enquanto Lula ria à
solta.
Se era o que Duda Mendonça
tinha em mente, ao prometer
um ritual revelador do "estilo
Lula" de governar, pode-se dizer
que conseguiu.
A tietagem não se limitou aos
"populares". O JN fez até clipe de
Zezé di Camargo e Luciano. E
Alexandre Garcia saiu dizendo
coisas como:
- A chuva esperou que o Lula
entrasse... Uma alegria, todo
mundo está alegre...
Garcia fez o que pôde, mas
não passou sem ouvir -ele que
foi o "porta-voz" há uns 12 anos.
A certa altura, mostrou alguma
estranheza com um Lula "chefe
supremo das Forças Armadas",
observando:
- O que estará passando pela
cabeça do presidente?
Franklin Martins respondeu
de pronto:
- Que o país mudou. Que o
país mudou para melhor.
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