São Paulo, quinta-feira, 02 de janeiro de 2003

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NO AR

Tudo pode acontecer

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

- Tudo pode acontecer.
Era Duda Mendonça, o encenador de Lula, sobre o próprio Lula, mas não sobre seu governo, sobre a "esperança" que traz.
Falava da possibilidade de que o espetáculo armado para Brasília escapasse do roteiro que havia traçado. Em se tratando de Lula, tudo esteve perto de acontecer.
Por exemplo, Boris Casoy, que fez a narração na Record, falou seguidamente da importância, do "simbolismo" da passagem da faixa presidencial de eleito para eleito.
Alexandre Garcia, narrador da Globo, também citou como isso é um fato raro na história. Até William Bonner, no Jornal Nacional ancorado de Brasília, com direito a uma música nova, sublinhou o fato.
Pois a passagem da faixa foi uma comédia de erros, por todos os canais abertos -e por vários canais pagos, inclusive CNN e BBC:
Já no Parlatório, caíram os óculos de FHC ao tentar tirar a faixa com apoio de Lula; este se abaixou em busca dos óculos no chão; FHC tentou vestir nele a faixa e ao mesmo tempo pegar os óculos de suas mãos; a faixa ficou torta enquanto os dois se abraçavam desajeitados.
Apresentada como mais um sinal da espontaneidade lulista, a sequência de equívocos abriu logo que entrou na Esplanada dos Ministérios, com os cavalos dos "dragões" se assustando, atropelando o Rolls Royce e até derrubando Lula.
Também -e de maneira mais assustadora- com o jovem que furou a segurança para agarrar o petista como um ídolo pop e depois dizer:
- Foi inesquecível.
No espelho d'água, diante do Congresso, mais invasão e até uma mulher que tirou a roupa, o que a transmissão em "pool" não mostrou, mas o JN sim, de relance.
E tome lágrimas de Lula, de novo, no Congresso.
E tome tietagem, estimulada pelo presidente. Lula deixou o roteiro para abraçar uma tiete, como qualificada por Franklin Martins na Globo, e foi obrigado a tirar foto.
Também deu autógrafos.
No quadro de maior comédia, "a melhor cena do dia", segundo Martins, o Rolls Royce empacou numa pequena subida. Uma dúzia de seguranças deixou de lado a segurança para empurrar o carro -enquanto Lula ria à solta.
Se era o que Duda Mendonça tinha em mente, ao prometer um ritual revelador do "estilo Lula" de governar, pode-se dizer que conseguiu.
 
A tietagem não se limitou aos "populares". O JN fez até clipe de Zezé di Camargo e Luciano. E Alexandre Garcia saiu dizendo coisas como:
- A chuva esperou que o Lula entrasse... Uma alegria, todo mundo está alegre...
Garcia fez o que pôde, mas não passou sem ouvir -ele que foi o "porta-voz" há uns 12 anos. A certa altura, mostrou alguma estranheza com um Lula "chefe supremo das Forças Armadas", observando:
- O que estará passando pela cabeça do presidente?
Franklin Martins respondeu de pronto:
- Que o país mudou. Que o país mudou para melhor.



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