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PARLATÓRIO
Presidente faz discurso emocionado para multidão e diz ser resultado "não de uma eleição, mas de uma história
"Sou o sonho de uma geração", afirma Lula
ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao contrário do protocolar discurso do Congresso, o presidente
Luiz Inácio Lula da Silva foi emocional ao se dirigir à multidão do
Parlatório do Planalto.
Em sua fala, Lula fez uma referência aos antigos petistas e não-petistas mortos: "Não sou resultado de uma eleição, sou resultado
de uma história, sou o sonho de
uma geração e de gerações que
vieram antes da minha", disse,
lembrando os "companheiros
que morreram pela democracia e
pelas liberdades".
Citou quase todos os Estados, a
sua cidade natal, Guaranhuns
(PE), se disse o homem mais otimista da face da Terra. "Não há
um só brasileiro que não tenha
consciência das dificuldades que
vamos enfrentar. Mas não há um
só homem na face da Terra tão
otimista quanto eu estou hoje."
Lula também fez uma promessa
paternalista: tratar cada brasileiro
com o respeito que dedica a seus
filhos e netos, "que são as pessoas
que a gente mais ama".
"Não fizemos nenhuma promessa absurda", disse o presidente, afirmando que ele, o vice José
de Alencar e os ministros vão trabalhar "24 horas por dia para
cumprir o prometido a vocês".
"Honestidade e seriedade", prometeu aos populares que se
amontoavam aos milhares no
Planalto, colorindo de vermelho a
Praça dos Três Poderes: "Quando
não puder fazer uma coisa, serei
honesto para dizer que não sei fazer... e que não posso fazer", completou, anunciando que hoje seria
"o primeiro dia de combate à fome" e defendendo as reformas
constitucionais no Congresso.
Se faltavam as tão esperadas lágrimas no dia da posse de Lula,
elas vieram só a minutos da descida da rampa do Planalto e do fim
das cerimônias. Foi quando o presidente se deparou com Roseana
Garcia, viúva do prefeito assassinado de Campinas, o Toninho.
Lula parou, no meio do empurra-empurra depois do discurso, e
mandou os seguranças abrirem
caminho: "Abram! Quero abraçar
esta mulher aqui". E abraçou longamente Roseana, que chorava.
Depois, o presidente enxugou o
rosto com um lenço -gesto que
repetiu várias vezes no Planalto-
e seguiu para descer a rampa com
a mulher, Marisa.
Logo ao chegar ao Salão Nobre
do Planalto, o presidente quebrou
o protocolo para abraçar Ednir
Alves Veludo, o Chuchu, 53, coordenador nacional petista dos portadores de deficiência física.
Chuchu não conseguiu depois
subir ao Parlatório, na despedida
de Fernando Henrique Cardoso e
de sua mulher, Ruth, por causa da
escadas de mármore branco. Mas,
ao voltar ao mesmo lugar para o
discurso, Lula teve apoio de uma
intérprete para surdos-mudos.
O novo presidente também reservou uma novidade para sua
posse: em vez da estrela vermelha
do PT ou da bandeira verde e
amarela do Brasil, usava na lapela
do terno escuro uma bandeirinha
estilizada do Brasil, em ouro. Seus
ministros portavam uma bandeira nacional com borda vermelha.
A posse dos novos ministros começou quando acabaram as despedidas de FHC, Ruth, o antigo
vice, Marco Maciel, sua mulher,
Ana Maria, e dos ministros do velho governo. Todos cumprimentaram Lula, Maria, o vice José de
Alencar e sua mulher, Mariza.
Saída pelo elevador
A surpresa de ontem no Planalto ficou por conta de FHC, que
decidiu não descer a rampa como
previsto pela tradição e pelo protocolo e saiu pelo elevador que
utilizou cotidianamente durante
os últimos oito anos de mandato.
Como já havia três carros da
Presidência aguardando FHC para levá-lo à Base Aérea, de onde
embarcaria para Paris, comentava-se o motivo da mudança de
planos de boca em boca: FHC
simplesmente temeu ser vaiado
pelos petistas que lotavam a Praça para prestigiar a posse de Lula.
Uma das faixas, por exemplo, dizia: "Adeus, Fernandinho!"
Quem abriu as assinaturas do
termo de posse foi Márcio Thomaz Bastos, porque o Ministério
da Justiça foi o primeiro da República. Eram 17h35min.
Depois, um a um, os ministros
repetiram o gesto, ganhando
abraços de Lula. O mais aplaudido foi o chefe da Casa Civil, José
Dirceu, sempre apontado como o
homem-forte do governo que se
instalou ontem. Depois, foram o
secretário de Comunicação de
Governo, Luiz Gushiken, um dos
mais próximos amigos de Lula, e
a ministra do Meio Ambiente,
Marina Silva, que foi empregada
doméstica na adolescência.
No final, Lula posou para a foto
oficial com todos os seus ministros no Salão Leste do Palácio, à
direita do Salão Nobre. Dali voltou ao Parlatório, para o discurso.
A solenidade do Planalto durou
uma hora e meia. Lula chegou ao
pé da rampa às 17h, quando foi
saudado pelo Hino Nacional e subiu ladeado pelos Dragões da Independência. Entrou no Rolls
Royce com Marisa às 18h30. Dirigiu-se então para o Alvorada, onde começou uma nova vida.
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