São Paulo, quinta-feira, 02 de janeiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

PARLATÓRIO

Presidente faz discurso emocionado para multidão e diz ser resultado "não de uma eleição, mas de uma história

"Sou o sonho de uma geração", afirma Lula

ELIANE CANTANHÊDE
DIRETORA DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao contrário do protocolar discurso do Congresso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi emocional ao se dirigir à multidão do Parlatório do Planalto.
Em sua fala, Lula fez uma referência aos antigos petistas e não-petistas mortos: "Não sou resultado de uma eleição, sou resultado de uma história, sou o sonho de uma geração e de gerações que vieram antes da minha", disse, lembrando os "companheiros que morreram pela democracia e pelas liberdades".
Citou quase todos os Estados, a sua cidade natal, Guaranhuns (PE), se disse o homem mais otimista da face da Terra. "Não há um só brasileiro que não tenha consciência das dificuldades que vamos enfrentar. Mas não há um só homem na face da Terra tão otimista quanto eu estou hoje."
Lula também fez uma promessa paternalista: tratar cada brasileiro com o respeito que dedica a seus filhos e netos, "que são as pessoas que a gente mais ama".
"Não fizemos nenhuma promessa absurda", disse o presidente, afirmando que ele, o vice José de Alencar e os ministros vão trabalhar "24 horas por dia para cumprir o prometido a vocês".
"Honestidade e seriedade", prometeu aos populares que se amontoavam aos milhares no Planalto, colorindo de vermelho a Praça dos Três Poderes: "Quando não puder fazer uma coisa, serei honesto para dizer que não sei fazer... e que não posso fazer", completou, anunciando que hoje seria "o primeiro dia de combate à fome" e defendendo as reformas constitucionais no Congresso.
Se faltavam as tão esperadas lágrimas no dia da posse de Lula, elas vieram só a minutos da descida da rampa do Planalto e do fim das cerimônias. Foi quando o presidente se deparou com Roseana Garcia, viúva do prefeito assassinado de Campinas, o Toninho.
Lula parou, no meio do empurra-empurra depois do discurso, e mandou os seguranças abrirem caminho: "Abram! Quero abraçar esta mulher aqui". E abraçou longamente Roseana, que chorava. Depois, o presidente enxugou o rosto com um lenço -gesto que repetiu várias vezes no Planalto- e seguiu para descer a rampa com a mulher, Marisa.
Logo ao chegar ao Salão Nobre do Planalto, o presidente quebrou o protocolo para abraçar Ednir Alves Veludo, o Chuchu, 53, coordenador nacional petista dos portadores de deficiência física.
Chuchu não conseguiu depois subir ao Parlatório, na despedida de Fernando Henrique Cardoso e de sua mulher, Ruth, por causa da escadas de mármore branco. Mas, ao voltar ao mesmo lugar para o discurso, Lula teve apoio de uma intérprete para surdos-mudos.
O novo presidente também reservou uma novidade para sua posse: em vez da estrela vermelha do PT ou da bandeira verde e amarela do Brasil, usava na lapela do terno escuro uma bandeirinha estilizada do Brasil, em ouro. Seus ministros portavam uma bandeira nacional com borda vermelha.
A posse dos novos ministros começou quando acabaram as despedidas de FHC, Ruth, o antigo vice, Marco Maciel, sua mulher, Ana Maria, e dos ministros do velho governo. Todos cumprimentaram Lula, Maria, o vice José de Alencar e sua mulher, Mariza.

Saída pelo elevador
A surpresa de ontem no Planalto ficou por conta de FHC, que decidiu não descer a rampa como previsto pela tradição e pelo protocolo e saiu pelo elevador que utilizou cotidianamente durante os últimos oito anos de mandato.
Como já havia três carros da Presidência aguardando FHC para levá-lo à Base Aérea, de onde embarcaria para Paris, comentava-se o motivo da mudança de planos de boca em boca: FHC simplesmente temeu ser vaiado pelos petistas que lotavam a Praça para prestigiar a posse de Lula. Uma das faixas, por exemplo, dizia: "Adeus, Fernandinho!"
Quem abriu as assinaturas do termo de posse foi Márcio Thomaz Bastos, porque o Ministério da Justiça foi o primeiro da República. Eram 17h35min.
Depois, um a um, os ministros repetiram o gesto, ganhando abraços de Lula. O mais aplaudido foi o chefe da Casa Civil, José Dirceu, sempre apontado como o homem-forte do governo que se instalou ontem. Depois, foram o secretário de Comunicação de Governo, Luiz Gushiken, um dos mais próximos amigos de Lula, e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que foi empregada doméstica na adolescência.
No final, Lula posou para a foto oficial com todos os seus ministros no Salão Leste do Palácio, à direita do Salão Nobre. Dali voltou ao Parlatório, para o discurso.
A solenidade do Planalto durou uma hora e meia. Lula chegou ao pé da rampa às 17h, quando foi saudado pelo Hino Nacional e subiu ladeado pelos Dragões da Independência. Entrou no Rolls Royce com Marisa às 18h30. Dirigiu-se então para o Alvorada, onde começou uma nova vida.



Texto Anterior: Dentro do Planalto - Danuza Leão: Nunca um presidente foi mais feliz
Próximo Texto: Multidão de militantes arma "festa vermelha'
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.