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ÍNTEGRA
'Tomo posse com o coração pequeno pela ausência de Covas'
Leia a seguir a íntegra do discurso do governador de São Paulo,
Geraldo Alckmin (PSDB), na Assembléia Legislativa do Estado:
"Senhoras e senhores,
Tomo posse com humildade diante da
grandeza de São Paulo. Tomo posse com
o coração pequeno...
Há exatos oito anos, em um primeiro
dia de janeiro, ouvimos Mário Covas
anunciar, com essas palavras, novos tempos para São Paulo. Concluída a jornada
que resgatou a dignidade do nosso Estado, tomo posse com a mesma humildade.
Ou talvez com humildade maior -porque maior ainda se tornou a grandeza de
São Paulo. Pelo empenho de Mário Covas. Pelo empenho deste Parlamento.
Mas, sobretudo, pelo empenho do povo
paulista. Igualmente como Covas, tomo
posse com o coração pequeno. Pequeno
pela ausência de Mário Covas.
Senhoras e senhores,
É um São Paulo mais forte que reencontramos hoje. E um Brasil maior. Um
Brasil com uma economia estável, onde a
tradição inflacionária cede lugar à cultura
antiinflação. Um Brasil com o mais alto
saldo de sua balança comercial nos últimos dez anos. Um Brasil no qual avançaram significativamente os indicadores
sociais, em particular os relativos à saúde
e à escolaridade da população. O Brasil do
respeito internacional. O Brasil da democracia consolidada. O Brasil do presidente Fernando Henrique Cardoso.
É a partir dessa sólida base, construída
duramente por Mário Covas, no Estado, e
por Fernando Henrique, no país, que os
paulistas e brasileiros partem ao encontro
do futuro. Nesse contexto, uma nova âncora macroeconômica se apresenta. A
nova âncora, agora, está em um projeto
claro para desenvolvimento da nação; está em um projeto claro para o desenvolvimento do Estado, fundamentado no
equilíbrio fiscal permanente e na identificação nítida das ações que ambos, nação
e Estado, devem promover, e das iniciativas que devem ser descartadas por já não
cumprirem mais um um papel prioritário para o bem-estar da sociedade. Um
projeto de desenvolvimento que seja, a
um só tempo, um processo de crescimento econômico e de mudança social.
É uma grande honra voltar a esta Casa
para assumir as responsabilidades que
me foram confiadas pelo povo de São
Paulo. Grande honra e grande emoção.
Foi ela uma das principais escolas que tive na minha formação de homem público. Aqui cheguei ainda muito jovem para
exercer um mandato de quatro anos. Trazia como bagagem apenas a experiência
de vereador e prefeito da minha cidade,
além de meu diploma em medicina.
Foi no convívio dos meus pares, foi no
debate de idéias e projetos, que ampliei
meus conhecimentos sobre o nosso Estado e aprendi a defender, com mais intensidade, os ideais de bem servir o povo. Da
prática diária desta Assembléia retirei
uma outra lição: a de que, por mais acaloradas que sejam as discussões, elas devem
sempre se manter em clima de mútuo
respeito.
Minha consideração pelo Legislativo
cresceu ainda mais quando, à frente do
Executivo estadual, unimos nossos esforços em benefício de todos os paulistas.
Sem abdicar da fidelidade aos princípios
doutrinários que me norteiam, aqui retorno consciente de que o ato de governar
não é militância política. É, isto sim, o
exercício de uma função pública. E estas
são práticas que não devem e nem podem
se confundir.
Vimos de um processo eleitoral sem
precedentes -inimaginável até, há poucos anos. A tranquilidade com que transcorreram as eleições e a participação nelas de cerca de 115 milhões de eleitores já
seriam suficientes para colocar o Brasil
entre as maiores democracias do mundo,
não se destacassem ainda a maturidade e
a transparência do processo de transição.
O fato representa uma conquista da sociedade brasileira, que, rejeitando qualquer resquício de sectarismo, tem dado
incontáveis demonstrações de respeito à
diversidade de idéias e ressaltado seu anseio de romper com velhas práticas, sem
que com isso sejam causados traumas
que muitas vezes anulariam os resultados
positivos da evolução.
Ampliada sua infra-estrutura, consolidada sua plataforma tecnológica, restaurada a credibilidade das suas instituições,
São Paulo prepara-se novamente para o
plantio. Mais uma vez, fecundado pelo
trabalho do seu povo, seu território prepara-se para receber a semente que se
multiplicará em frutos de desenvolvimento para todo o país.
Porque, mais que de usinas, rodovias,
fábricas, a força de São Paulo vem do seu
povo: gente que confia no poder transformador do trabalho. A força de São Paulo
vem da sua gente, que trouxe, dos quatro
cantos do país, dos quatro cantos do
mundo, a certeza de vencer oferecendo a
seus filhos um futuro melhor. Por isso
São Paulo é a terra do trabalho. Por isso
São Paulo é, sobretudo, a terra da esperança. É preciso, pois, que o governante
esteja atento ao rosto anônimo de quem
precisa de soluções para avaliar a urgência dos problemas. Esse rosto está nas
praças e nas ruas. Está nos campos, nas
oficinas, nos escritórios. Está nas escolas,
nos postos de saúde. Está nas universidades. Está longe daqui. Está aqui mesmo.
É do silêncio dessas faces desconhecidas que nos falam as vozes mais eloquentes. Não podemos ignorá-las. Nós, paulistas, nos orgulhamos de ser um povo bandeirante. Um povo que, como os antigos
desbravadores, vai sempre em frente e
sempre vai na frente.
As condições estão postas. Agora, é dar
um salto adiante. Fazer de São Paulo melhor, para que o Brasil seja maior ainda.
Os avanços nos ajustes estruturais obtidos -quer éticos, no que diz respeito à
governança pública, quer fiscais- estimulam a retomada do espírito empreendedor do Estado e o aprimoramento das
ações sociais voltadas ao ataque frontal às
desigualdades, pois a dimensão humana
está no centro das nossas preocupações.
Servir às pessoas será o alfa e o omega,
o princípio e o fim da nossa administração, que terá, como instrumentos de medida, a régua e o compasso da cidadania.
O governo atuará então em quatro esferas
concêntricas:
- A do governo empreendedor, que
promoverá investimentos públicos e incentivará investimentos privados que estimulem o crescimento, e a geração de
emprego e renda;
- A do governo educador, que universalizará os benefícios do conhecimento e
das tecnologias da informação, nestes
tempos em que, mais do que nunca, eles
assumiram um papel crucial na vida dos
indivíduos e das nações;
- A do governo solidário, que irá fortalecer e expandir a rede de proteção social
aos que mais necessitam da presença do
Estado;
- A do governo prestador de serviços de
qualidade, garantindo assim a sua eficiência, a equidade no seu acesso, a transparência da sua gestão.
Eventual escassez orçamentária iremos
compensar maximizando a articulação
de investimentos privados, utilizados como alavancas impulsoras da prosperidade. Sobre estes campos de atuação será
escrito o novo capítulo da história do progresso paulista.
Não serão poucas as dificuldades. Porém elas não nos intimidam. Como governo, temos a obrigação de superá-las e
encontrar soluções. Fomos eleitos para
isso. Para nós, ser responsável significa
também identificar os problemas com rapidez, atacá-los com vontade e vencê-los
sem esmorecer. Quanto aos falsos problemas, não gastaremos tinta com eles.
Brasileiros de São Paulo,
Nosso Estado e o Brasil têm um só destino, uma só vocação: consolidar o desenvolvimento. Para cumpri-los, caminharemos sempre unidos, independente da
particularidade das opiniões. E assim a
cada momento em que estiver em questão o interesse nacional. São Paulo não é
somente parte do grande corpo que forma o Brasil: é o seu órgão mais vital. O
progresso paulista circula, nutre, irriga o
País como o sangue das veias, mesclando
o destino do povo da nossa terra ao de todos os brasileiros. São Paulo pode não ser
a alma do Brasil, mas é a sua melhor síntese.
São paulistas os que nasceram às bordas do Tietê. E os que para cá vieram do
Sertão e das margens do São Francisco.
São paulistas os que trouxeram do Rio o
riso largo dos cariocas. E os criados à
sombra amiga dos pinheirais e das seringueiras. São paulistas os que vêm da fronteira -o corpo enregelado pelo minuano, o coração ardente como o de todos os
brasileiros.
Ser paulista não é ter nascido aqui ou
ali: é uma maneira de enxergar o Brasil. E
de trabalhar por ele. É ter um sonho e
compartilhá-lo com todos os brasileiros.
O sonho de uma sociedade em que a ética
não seja mais uma virtude, mas sim um
atributo congênito como uma marca de
nascença. O sonho de uma sociedade em
que a justiça social não seja mais uma exigência, mas que reine inconteste entre todos os homens. É este o nosso sonho de
São Paulo. É este o nosso sonho de Brasil.
Com o coração pequeno iniciei estas
palavras. Pequeno pela ausência de Mário Covas. Com o coração grande as concluo. Com o coração grande, pelas boas
recordações de Mário Covas. Com o coração grande, porque grande é o coração
do povo paulista. Com o coração grande,
porque cheio de esperança no futuro. Futuro que começa aqui.
Avante, então: vamos a ele!"
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