São Paulo, quinta-feira, 02 de janeiro de 2003

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ÍNTEGRA

'Tomo posse com o coração pequeno pela ausência de Covas'

Leia a seguir a íntegra do discurso do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), na Assembléia Legislativa do Estado:

"Senhoras e senhores,
Tomo posse com humildade diante da grandeza de São Paulo. Tomo posse com o coração pequeno...
Há exatos oito anos, em um primeiro dia de janeiro, ouvimos Mário Covas anunciar, com essas palavras, novos tempos para São Paulo. Concluída a jornada que resgatou a dignidade do nosso Estado, tomo posse com a mesma humildade. Ou talvez com humildade maior -porque maior ainda se tornou a grandeza de São Paulo. Pelo empenho de Mário Covas. Pelo empenho deste Parlamento. Mas, sobretudo, pelo empenho do povo paulista. Igualmente como Covas, tomo posse com o coração pequeno. Pequeno pela ausência de Mário Covas.
Senhoras e senhores,
É um São Paulo mais forte que reencontramos hoje. E um Brasil maior. Um Brasil com uma economia estável, onde a tradição inflacionária cede lugar à cultura antiinflação. Um Brasil com o mais alto saldo de sua balança comercial nos últimos dez anos. Um Brasil no qual avançaram significativamente os indicadores sociais, em particular os relativos à saúde e à escolaridade da população. O Brasil do respeito internacional. O Brasil da democracia consolidada. O Brasil do presidente Fernando Henrique Cardoso.
É a partir dessa sólida base, construída duramente por Mário Covas, no Estado, e por Fernando Henrique, no país, que os paulistas e brasileiros partem ao encontro do futuro. Nesse contexto, uma nova âncora macroeconômica se apresenta. A nova âncora, agora, está em um projeto claro para desenvolvimento da nação; está em um projeto claro para o desenvolvimento do Estado, fundamentado no equilíbrio fiscal permanente e na identificação nítida das ações que ambos, nação e Estado, devem promover, e das iniciativas que devem ser descartadas por já não cumprirem mais um um papel prioritário para o bem-estar da sociedade. Um projeto de desenvolvimento que seja, a um só tempo, um processo de crescimento econômico e de mudança social.
É uma grande honra voltar a esta Casa para assumir as responsabilidades que me foram confiadas pelo povo de São Paulo. Grande honra e grande emoção. Foi ela uma das principais escolas que tive na minha formação de homem público. Aqui cheguei ainda muito jovem para exercer um mandato de quatro anos. Trazia como bagagem apenas a experiência de vereador e prefeito da minha cidade, além de meu diploma em medicina.
Foi no convívio dos meus pares, foi no debate de idéias e projetos, que ampliei meus conhecimentos sobre o nosso Estado e aprendi a defender, com mais intensidade, os ideais de bem servir o povo. Da prática diária desta Assembléia retirei uma outra lição: a de que, por mais acaloradas que sejam as discussões, elas devem sempre se manter em clima de mútuo respeito.
Minha consideração pelo Legislativo cresceu ainda mais quando, à frente do Executivo estadual, unimos nossos esforços em benefício de todos os paulistas. Sem abdicar da fidelidade aos princípios doutrinários que me norteiam, aqui retorno consciente de que o ato de governar não é militância política. É, isto sim, o exercício de uma função pública. E estas são práticas que não devem e nem podem se confundir.
Vimos de um processo eleitoral sem precedentes -inimaginável até, há poucos anos. A tranquilidade com que transcorreram as eleições e a participação nelas de cerca de 115 milhões de eleitores já seriam suficientes para colocar o Brasil entre as maiores democracias do mundo, não se destacassem ainda a maturidade e a transparência do processo de transição.
O fato representa uma conquista da sociedade brasileira, que, rejeitando qualquer resquício de sectarismo, tem dado incontáveis demonstrações de respeito à diversidade de idéias e ressaltado seu anseio de romper com velhas práticas, sem que com isso sejam causados traumas que muitas vezes anulariam os resultados positivos da evolução.
Ampliada sua infra-estrutura, consolidada sua plataforma tecnológica, restaurada a credibilidade das suas instituições, São Paulo prepara-se novamente para o plantio. Mais uma vez, fecundado pelo trabalho do seu povo, seu território prepara-se para receber a semente que se multiplicará em frutos de desenvolvimento para todo o país.
Porque, mais que de usinas, rodovias, fábricas, a força de São Paulo vem do seu povo: gente que confia no poder transformador do trabalho. A força de São Paulo vem da sua gente, que trouxe, dos quatro cantos do país, dos quatro cantos do mundo, a certeza de vencer oferecendo a seus filhos um futuro melhor. Por isso São Paulo é a terra do trabalho. Por isso São Paulo é, sobretudo, a terra da esperança. É preciso, pois, que o governante esteja atento ao rosto anônimo de quem precisa de soluções para avaliar a urgência dos problemas. Esse rosto está nas praças e nas ruas. Está nos campos, nas oficinas, nos escritórios. Está nas escolas, nos postos de saúde. Está nas universidades. Está longe daqui. Está aqui mesmo.
É do silêncio dessas faces desconhecidas que nos falam as vozes mais eloquentes. Não podemos ignorá-las. Nós, paulistas, nos orgulhamos de ser um povo bandeirante. Um povo que, como os antigos desbravadores, vai sempre em frente e sempre vai na frente.
As condições estão postas. Agora, é dar um salto adiante. Fazer de São Paulo melhor, para que o Brasil seja maior ainda. Os avanços nos ajustes estruturais obtidos -quer éticos, no que diz respeito à governança pública, quer fiscais- estimulam a retomada do espírito empreendedor do Estado e o aprimoramento das ações sociais voltadas ao ataque frontal às desigualdades, pois a dimensão humana está no centro das nossas preocupações.
Servir às pessoas será o alfa e o omega, o princípio e o fim da nossa administração, que terá, como instrumentos de medida, a régua e o compasso da cidadania. O governo atuará então em quatro esferas concêntricas:
- A do governo empreendedor, que promoverá investimentos públicos e incentivará investimentos privados que estimulem o crescimento, e a geração de emprego e renda;
- A do governo educador, que universalizará os benefícios do conhecimento e das tecnologias da informação, nestes tempos em que, mais do que nunca, eles assumiram um papel crucial na vida dos indivíduos e das nações;
- A do governo solidário, que irá fortalecer e expandir a rede de proteção social aos que mais necessitam da presença do Estado;
- A do governo prestador de serviços de qualidade, garantindo assim a sua eficiência, a equidade no seu acesso, a transparência da sua gestão.
Eventual escassez orçamentária iremos compensar maximizando a articulação de investimentos privados, utilizados como alavancas impulsoras da prosperidade. Sobre estes campos de atuação será escrito o novo capítulo da história do progresso paulista.
Não serão poucas as dificuldades. Porém elas não nos intimidam. Como governo, temos a obrigação de superá-las e encontrar soluções. Fomos eleitos para isso. Para nós, ser responsável significa também identificar os problemas com rapidez, atacá-los com vontade e vencê-los sem esmorecer. Quanto aos falsos problemas, não gastaremos tinta com eles.
Brasileiros de São Paulo,
Nosso Estado e o Brasil têm um só destino, uma só vocação: consolidar o desenvolvimento. Para cumpri-los, caminharemos sempre unidos, independente da particularidade das opiniões. E assim a cada momento em que estiver em questão o interesse nacional. São Paulo não é somente parte do grande corpo que forma o Brasil: é o seu órgão mais vital. O progresso paulista circula, nutre, irriga o País como o sangue das veias, mesclando o destino do povo da nossa terra ao de todos os brasileiros. São Paulo pode não ser a alma do Brasil, mas é a sua melhor síntese.
São paulistas os que nasceram às bordas do Tietê. E os que para cá vieram do Sertão e das margens do São Francisco. São paulistas os que trouxeram do Rio o riso largo dos cariocas. E os criados à sombra amiga dos pinheirais e das seringueiras. São paulistas os que vêm da fronteira -o corpo enregelado pelo minuano, o coração ardente como o de todos os brasileiros.
Ser paulista não é ter nascido aqui ou ali: é uma maneira de enxergar o Brasil. E de trabalhar por ele. É ter um sonho e compartilhá-lo com todos os brasileiros. O sonho de uma sociedade em que a ética não seja mais uma virtude, mas sim um atributo congênito como uma marca de nascença. O sonho de uma sociedade em que a justiça social não seja mais uma exigência, mas que reine inconteste entre todos os homens. É este o nosso sonho de São Paulo. É este o nosso sonho de Brasil.
Com o coração pequeno iniciei estas palavras. Pequeno pela ausência de Mário Covas. Com o coração grande as concluo. Com o coração grande, pelas boas recordações de Mário Covas. Com o coração grande, porque grande é o coração do povo paulista. Com o coração grande, porque cheio de esperança no futuro. Futuro que começa aqui.
Avante, então: vamos a ele!"



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