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ÚLTIMO DIA
"Você tem um amigo aqui" disse Lula ao ex-presidente, que contou ter ficado muito emocionado ao passar a faixa ao petista
"Fiz o que pude; vou descansar", diz FHC
WILSON SILVEIRA
ANDRÉ SOLIANI
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao deixar o poder após oito
anos, o presidente Fernando
Henrique Cardoso disse, ao ser
questionado se saía com a missão
cumprida: "Pelo menos fiz o que
pude. Agora vou descansar".
Contrariando a atitude que adotou até o penúltimo dia no governo, quando procurou se manter
em evidência e dar recados ao seu
sucessor, FHC optou pela discrição no último dia.
Já na condição de ex-presidente,
não quis nem mesmo descer a
rampa do Palácio do Planalto, como previa o protocolo. Preferiu
sair por uma porta lateral do andar térreo. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva o acompanhou
até o elevador do segundo andar,
em vez de deixá-lo na porta principal, no alto da rampa.
Já no térreo, com os olhos vermelhos, FHC foi aplaudido por
dezenas de funcionários da Presidência, e depois, quando o comboio presidencial deixou o palácio, às 17h40, os poucos que o viram passar também o aplaudiram. Acompanharam o comboio
três microônibus com os ministros do governo FHC e funcionários da Presidência, para a despedida na Base Aérea.
Amigo
O ex-presidente tomou champanhe, deu autógrafos, posou para fotos e discursou na sua última
cerimônia em Brasília, antes de
embarcar no avião presidencial
para São Paulo. A cerimônia, organizada pelo PSDB e realizada
no salão nobre da Base Área de
Brasília, contou com a presença
da maioria dos ex-ministros, de
políticos aliados e de funcionários
do segundo escalão do governo.
FHC disse que se emocionou ao
passar a faixa para Lula. "Praticamente nós dois choramos. Fiquei
muito emocionado quando dei
um abraço no Lula também", afirmou. "Ele [Lula] me disse: "Você
tem um amigo aqui'", contou ele.
FHC afirmou que não ouviu o
discurso de Lula no Congresso
porque estava "arrumando coisas" e porque passou a manhã no
Itamaraty. "Vou ler agora."
O ex-presidente afirmou que a
troca da faixa presidencial geralmente é feita dentro do palácio,
"mas pela primeira vez foi feita
diante do povo". Segundo ele, o
objetivo foi simbolizar que a passagem foi democrática.
FHC foi aplaudido quando desceu a rampa interna do Planalto,
do terceiro para o segundo andar.
Cumprimentou convidados da
cerimônia de posse durante cinco
minutos, dirigindo-se para o alto
da rampa, para esperar Lula.
Após o receber, foi com ele para
o Parlatório, para lhe passar a faixa presidencial. Quando tirava a
faixa, esbarrou nos óculos e os
derrubou. Lula abaixou-se e os
pegou, entregando-os a FHC, que
os colocou no bolso. Depois de
passar a faixa, FHC tomou a iniciativa de levantar a mão de Lula,
que foi saudado pela platéia.
Saindo do Parlatório, FHC e Lula, com suas mulheres, receberam
cumprimentos do ex e do atual vice-presidentes, de representantes
do Legislativo e do Judiciário, de
religiosos, dos ministros que
saíam e dos que entravam.
No período da manhã, FHC
permaneceu no Palácio da Alvorada com sua família. Ele saiu de
lá às 12h50 em direção ao Itamaraty, onde permaneceu por uma
hora, cumprimentando 288 integrantes de delegações estrangeiras que vieram para a posse de Lula, entre eles nove presidentes e
três chefes de governo.
Após os cumprimentos, voltou
para o Alvorada e se dirigiu para o
Planalto, às 16h25. Do segundo
andar do palácio, era possível ver
uma das poucas faixas que continham críticas ao governo que terminou: "FHC, já vai tarde".
Depois da despedida na Base
Aérea, FHC embarcou em um
Boeing-737 da Presidência (conhecido por "sucatinha") com
destino à Base Aérea de Cumbica.
É de praxe que o ex-presidente
deixe a cidade quando seu sucessor toma posse.
Em Cumbica, aguardaria até
23h55 para tomar um vôo da
TAM para Paris, onde pretende
descansar por dois ou três meses.
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