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VERBA PÚBLICA
Casa renovou com agência para divulgar feitos, em especial, da bancada do NE
Mesa da Câmara paga por reportagens
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Câmara dos Deputados paga
R$ 120 mil por ano para que uma
agência de notícias produza e distribua reportagens de interesse da
Casa e, principalmente, dos deputados da bancada do Nordeste.
Pelo contrato renovado em junho pela Mesa da Câmara, a
Agência Nordeste se propõe a "difundir o trabalho da bancada nordestina", "veicular notícias de interesse da Câmara, notadamente
dos deputados nordestinos", e
"cobrir todos os eventos da bancada no Nordeste". Além de promover políticos com verba pública, a prática faz com que o leitor
receba, sem saber, notícias produzidas ou distribuídas por uma
empresa paga pelo noticiado.
A Câmara possui contratos com
outras duas agências de notícias, a
Agência Estado e a Agência Globo. A diferença é que esses contratos prevêem, em linhas gerais, o
fornecimento de serviços noticiosos em tempo real para a Câmara.
A Agência Nordeste tem sede
em Pernambuco e é do usineiro
Eduardo de Queiroz Monteiro, irmão do deputado federal Armando Monteiro (PTB-PE), presidente da Confederação Nacional da
Indústria. O deputado diz não ter
relação com a empresa.
A agência, segundo o acordo, é
"provedora de 21 jornais diários,
oito portais e uma rede de emissoras de rádio no Nordeste".
Ausente pago
A Folha teve acesso às atas de
oito das nove reuniões da Mesa
em 2003. Sua análise mostra casos
curiosos na pauta do corpo diretivo da Câmara, que inclui o presidente da Casa, João Paulo Cunha
(PT-SP), e mais seis deputados.
Em fevereiro, a Mesa negou pedido de ressarcimento de aluguel
ao deputado Gilberto Kassab
(PFL-SP). Motivo: ele mesmo seria o beneficiário do aluguel. Kassab nega ter feito a solicitação (leia
texto nesta página).
Na reunião de agosto, a Mesa
decidiu pagar dois salários extras
(R$ 25,4 mil) ao deputado Osvaldo Coelho (PFL-PE) pela convocação extraordinária do Congresso em julho. Doente, Coelho não
compareceu às sessões extraordinárias. Oficialmente, os extras são
pagos para cobrir gastos vinculados ao comparecimento à sessão.
Pedidos da Folha e CNEs
As atas mostram também que
apurações e reportagens da Folha
foram motivos de debates nas
reuniões. Em abril, João Paulo
apresentou aos colegas um ofício
do jornal solicitando a lista dos
funcionários dos gabinetes parlamentares. No encontro, argumentou-se que, se o pedido fosse
negado, o jornal obteria o acesso
na Justiça. O pedido foi aprovado.
O segundo debate foi em agosto, quando João Paulo pediu aos
presentes opinião sobre "os comentários, na imprensa, referentes à questão dos CNEs". Reportagem da Folha havia revelado o
uso pelos deputados, em escritórios nos Estados, de funcionários
não concursados que ocupam os
Cargos de Natureza Especial -o
que está em desacordo com a legislação que define as funções.
O assunto foi retomado em novembro, quando João Paulo disse
haver uma crescente pressão do
Ministério Público e do Tribunal
de Contas da União para que a
atuação dos CNEs seja regulamentada.
Na nona reunião, no último dia
17, a reportagem apurou que João
Paulo comunicou aos presentes
que a Câmara havia conseguido
derrubar liminar obtida pela Folha autorizando acesso aos comprovantes de gastos dos deputados relativos às verbas de manutenção dos escritórios nos Estados. A Mesa decidiu divulgar, a
partir de janeiro. o relatório de
gastos na internet, mas não haverá acesso aos comprovantes.
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