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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PRESIDENTE
Para presidente, partido tem "salvação" e adversários apressam debate eleitoral
Lula diz que PT vai "sangrar" para recuperar credibilidade
LUCIANA BRAFMAN
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva afirmou que o PT ainda vai
"sangrar muito" para recuperar a
credibilidade perdida depois das
acusações de uso de caixa dois e
corrupção que resultaram na crise política do ano passado, mas
disse acreditar que o partido tem
"salvação".
"O PT cometeu um erro... Um
erro que é de uma gravidade incomensurável. Todo mundo sabe
-e sabe o PT hoje e sabe quem
cometeu os erros- que o PT cometeu um erro que será de difícil
reparação pelo próprio PT. O PT
vai sangrar muito para poder se
colocar diante da sociedade outra
vez com uma credibilidade que
ele conquistou ao longo de 20
anos", afirmou Lula em entrevista
gravada no dia 29, que foi ao ar
ontem à noite no programa "Fantástico", da Rede Globo.
A afirmação do presidente foi
feita ao comentar a declaração do
repórter Pedro Bial sobre entrevista anterior, realizada em Paris,
na qual Lula disse que o caixa dois
do PT era prática sistemática da
política brasileira. Em seguida,
Lula disse que o PT vai recuperar
sua credibilidade.
"Acho que [o PT] tem salvação
porque o PT é um partido muito
grande. E numa família, quando
alguém comete um erro qualquer,
você não pune a família inteira.
Vai ser punido quem cometeu o
erro. E a legenda continuará com
a mesma grandeza com que fez
política nestes últimos 20 anos."
Lula também declarou que recebeu como uma "facada nas costas" as denúncias sobre o esquema montado pelo PT com o empresário Marcos Valério. Esse trecho da entrevista de 35 minutos já
havia sido divulgado na semana
passada, quando repórteres assistiram parte da gravação.
O presidente afirmou que se
sentia traído por ter dedicado
parte de sua vida, inclusive com
suas crianças dormindo na calçada e vendendo camisetas, para
construir o PT, um partido para
mudar a forma de fazer política.
Sobre sua alegação de inocência
em relação às denúncias, Lula disse, com o dedo em riste, que gostaria de receber pedidos de desculpas, pela "leviandade" dos que
fazem julgamentos precipitados.
"Com relação à minha pessoa, a
única coisa que eu peço a Deus é
que, quando terminar tudo isso,
aqueles que me acusaram peçam
desculpas. Só peço isso. Não quero, não quero nada mais do que
isso. Peçam desculpas."
Durante grande parte da entrevista, Lula repetiu a importância
de o governo, Ministério Público,
Polícia Federal e CPIs investigarem as denúncias. E disse que fez
a sua parte, assim como o PT,
quando os casos vieram à tona.
Evasivas
Muitas vezes as declarações serviam para que se esquivasse de
responder diretamente as perguntas. Foi esse o caso quando foi
questionado se sabia (dos esquemas de corrupção). Primeiro, Lula disse que só há três hipóteses de
saber das coisas: "Quando você
participa da reunião ou quando
alguém que participou te conta ou
quando sai uma denúncia".
Em seguida, o jornalista insistiu
dizendo que o ex-tesoureiro do
PT Delúbio Soares era próximo
do presidente.
Lula, então, afirmou: "O que é
importante... O que é importante
não é se você sabia ou não, porque, se eu tivesse condições de saber, não teria acontecido. Esse é o
dado concreto. Se eu tivesse condições de saber, não teria acontecido. Na medida em que eu soube,
naquilo que diz respeito ao presidente da República, as providências todas foram tomadas. Foi
afastado quem deveria ser afastado. Foi punido quem deveria ser
punido. Agora, a Justiça faça a sua
parte. E, no caso do PT, o PT fez a
sua parte".
O presidente pediu que não se
condene ninguém antes de haver
provas conclusivas. Citou como
exemplo, a situação do ex-ministro José Dirceu, cujo processo ainda estaria inconclusivo, diferentemente do "Delúbio, que assumiu
a responsabilidade".
Reeleição
Lula não respondeu se será candidato neste ano. Disse que ainda
há muito trabalho a fazer e que
tem tempo, "lá pelo meio do ano",
para definir se tentará a reeleição.
Disse, porém, que além de trabalho a fazer, tem frutos a colher.
"Não tenho pressa. Quem tem
pressa são os meus adversários.
Eu não tenho pressa. Eu tenho
que governar o Brasil até o dia 31
de dezembro e tenho muita coisa
para fazer. Muita coisa para fazer.
E muita coisa para colher. Porque
você sabe que é assim: você planta, rega e um belo dia você começa
a colher", afirmou.
Lula disse que este ano será "o
ano do povo brasileiro, porque está tudo engatilhado, está tudo
preparado, está tudo armado para
que o Brasil tenha um forte crescimento, uma forte distribuição de
renda, muito emprego para esse
povo e quem sabe a gente construir junto o Brasil que nós sonhamos há muito tempo construir".
Ele citou números e feitos de seu
governo, sobretudo nas áreas econômica e social, criticou a imprensa por não dar mais espaço
para realizações positivas e disse
que fez a sua parte, ao responder
sobre a impossibilidade de realizar reformas (trabalhista, sindical
e tributária) em ano eleitoral.
"Não pode [fazer as reformas].
Deixa eu lhe contar. A minha parte eu cumpri. Nós criamos um Fórum Nacional do Trabalho em
que participaram empresários,
trabalhadores e o governo. Apresentamos uma proposta que está
no Congresso Nacional. Não posso bater escanteio e marcar o gol
ao mesmo tempo. Enviei o meu
projeto ao Congresso Nacional e
eu espero que ele vote."
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