São Paulo, quarta-feira, 02 de março de 2005

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SOB PRESSÃO

Presidente da Câmara adia decisão sobre pedido do PSDB; Mercadante diz que ministério muda até segunda

Severino acena a Lula, que acelera reforma

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), adiou ontem a decisão a respeito do pedido do PSDB de abertura do processo por crime de responsabilidade contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Entre seus apoiadores há quem defenda que ele espere mais um pouco, como forma de assegurar a seu partido um espaço maior na anunciada reforma ministerial.
Ontem, coincidentemente, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) sugeriu que a reforma será acelerada: "Eu, Renan [Calheiros], e o Sarney estaremos com o presidente na próxima segunda-feira, quando ele deve anunciar a reforma ministerial".
Embora o governo não admita, a reforma passou a ser um instrumento também para apaziguar ou atenuar a crise deflagrada pelo discurso de Lula na última quinta-feira. Além disso, a reforma visa também recompor a base aliada depois do estrago provocado pela derrota petista na eleição para a presidência da Câmara.
Para o ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, o presidente deve começar a reforma ministerial "nos próximos dias" e concluí-la até a Semana Santa.
"Conversei com o presidente hoje [ontem] e ele vai realizar a reforma, mas não tem um prazo de um dia. Acredito que até a Semana Santa nós poderemos ter concluído esse processo", disse Dirceu a jornalistas em Nova York, onde está até a noite de hoje.
"O melhor despacho que o Severino poderia dar é o seguinte: aguardo a reforma ministerial", disse o deputado Ricardo Barros (PP-PR), que foi líder do governo Fernando Henrique na Câmara e é aliado do atual presidente.
Severino, ontem, sinalizou pela primeira vez que poderá rejeitar o pedido dos tucanos. Ele curiosamente utilizou o próprio FHC para indicar sua posição. "Vou olhar aquele processo de impeachment do Fernando Henrique. Não estou na presidência da Câmara para prejudicar", declarou.
Severino aguarda apenas o parecer técnico da assessoria jurídica da Casa para tomar sua decisão. Duas são as hipóteses: rejeição ou constituição de uma comissão especial que dará prosseguimento ao processo.
Já no Senado, o presidente Renan Calheiros (PMDB-AL) deu ontem sua primeira ajuda concreta ao governo desde que assumiu o posto, no mês passado.
Ele não colocou em votação o requerimento de convocação do ministro José Dirceu para explicar as declaração do presidente. O pedido estava na pauta e ainda pode ser votado nesta semana.
O presidente do Superior Tribunal de Justiça, Edson Vidigal, saiu ontem em defesa do presidente Lula ao dizer que "está havendo o interesse de pessoas em botar farofa nessa história".

"Fritura"
Numa reação à pressão petista para tirá-lo da Articulação Política, o ministro Aldo Rebelo telefonou ontem para o presidente do PT, José Genoino, e cobrou posição oficial da sigla. "Não serei empecilho para a troca, mas que o PT diga que deseja meu cargo", disse Aldo, segundo interlocutores.
No Uruguai, onde compareceu à posse do colega eleito, Tabaré Vásquez, o presidente Lula ficou contrariado com a briga pública. A Folha apurou que Lula entendeu a reação de Aldo, mas não gostou de ser pressionado por nenhum dos dois lados na hora em que estuda uma reforma ministerial. O ministro resolveu reagir às versões de que já aceitava trocar de pasta. Desde meados de 2004 o PT tenta derrubá-lo Aldo.
Na comitiva de Lula no Uruguai, Genoino confirmou a cobrança. Segundo o petista, ele disse ao ministro que "o PT não tem deliberação sobre o tema, nem é o caso, pois é tema do presidente".


Colaboraram KENNEDY ALENCAR, da Sucursal de Brasília, SILVANA ARANTES, enviada a Montevidéu, e LUCIANA COELHO, de Nova York

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