São Paulo, quarta-feira, 02 de março de 2005

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Era "comum" empreiteiro oferecer propina na gestão FHC, diz senador

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Aumentando a crise política causada por uma declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o senador Maguito Vilela (PMDB-GO), da base aliada, denunciou ontem na tribuna do Senado que era "comum" empreiteiros oferecerem propina, no governo passado, para que senadores retirassem assinaturas de requerimentos de CPIs.
Segundo ele, isso teria ocorrido para abafar as CPIs das privatizações, do tráfico de influência, do TRT-SP e a do Proer. As três últimas tinham o objetivo de investigar acusações contra o ex-secretário-geral da Presidência da República Eduardo Jorge, o desvio de verbas das obras do TRT e o socorro financeiro dado aos bancos. O senador ainda citou a suposta compra de votos para a reeleição do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em 1997.
O senador José Jorge (PFL-PE) pediu que ele citasse nomes. "Não sou obrigado a saber nome de empreiteiro que fica no cafezinho tentando comprar senador e deputado", disse ele, ressaltando que é capaz de reconhecer entre "os grandes empreiteiros" o que lhe ofereceu dinheiro.
O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), pediu que a Comissão de Ética do Senado faça uma acareação entre Maguito e os empreiteiros. "O Senado virou agora casa de Lula, que as pessoas falam as coisas sem medir as conseqüências", disse Virgílio.
"Só se procura comprar quem é capaz de se vender", disse o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA). Para José Jorge, a denúncia deveria ter sido feita quando ocorreu o fato.
O discurso de Maguito foi uma tentativa de intimidar a oposição, que tem acusado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de prevaricação por ter escondido um suposto caso de corrupção no governo passado. O presidente disse em discurso na última quinta-feira que orientou "um alto companheiro" a silenciar.
O PSDB está recolhendo assinaturas no Senado para instalar duas CPIs. Uma para investigar a suposta cobrança de propina pelo ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil Waldomiro Diniz -problema da gestão petista. A outra para apurar se houve irregularidades nas privatizações do governo FHC.
Cada requerimento teria 15 assinaturas e são necessárias 27. A CPI do Waldomiro, cujo pedido de criação é do ano passado, tinha 26 assinaturas, mas o PSDB fez um novo requerimento temendo que o antigo fosse derrubado pela Mesa Diretora.
O líder tucano fez um apelo para que os 81 senadores assinem os requerimentos para que tudo seja investigado. "Sendo governo, não temos nenhum interesse de criar CPIs, porque você nunca sabe como vai terminar. CPI é coisa para oposição, não para nós", disse o líder do PMDB, senador Ney Suassuna (PB).
O senador Gerson Camata (PMDB-ES), que estava presente na solenidade quando o presidente da República fez o discurso, disse que "aquela palavrinha escapou", referindo-se ao termo "corrupção" usado por Lula. Segundo o peemedebista, o episódio foi "um deslize verbal, e não moral".


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