São Paulo, segunda, 2 de março de 1998

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Renovação do Senado ameaça plano de ACM

FERNANDO RODRIGUES
da Sucursal de Brasília

A renovação de um terço do Senado na eleição de outubro pode colocar em risco o plano do presidente da Casa, Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), de permanecer no cargo.
Dos 27 senadores cujo mandato está terminando, 24 pertencem à aliança governista no Senado.
O Senado é composto por 81 senadores -três para cada unidade da Federação- com mandatos de oito anos. Como as eleições ocorrem a cada quatro anos, a renovação se dá por etapas. Neste ano, será renovada só um terço da Casa. Em 2002, outros dois terços.
Entre os 27 senadores que estão saindo, só 14 já declararam estar dispostos a concorrer a um novo mandato (veja quadro ao lado). Os demais disputarão outras vagas ou simplesmente deixarão a política.
O problema para ACM é que sua reeleição para a presidência do Senado -no início do ano que vem- só será possível se o seu partido, o PFL, voltar em 99 com a maior bancada da Casa.
Embora a eleição para presidente do Senado seja com o voto secreto dos 81 senadores, é tradição que o partido de maior bancada tenha o privilégio de praticamente indicar o seu nome preferido.
Hoje, o PFL mantém uma liderança com 24 senadores, seguido de perto pelo PMDB, que tem 21. Essa superioridade do PFL foi conseguida no período que precedeu a eleição de ACM para a presidência da Casa, no início de 97.
Na época, ACM fez o que foi possível para aliciar senadores de outros partidos. Um dos casos mais notórios foi o do senador Gilberto Miranda (AM), que saiu do PMDB para entrar no PFL e apoiar a eleição do amigo ACM.
PFL não vê ameaça
É claro que o PFL não enxerga problemas na renovação de um terço do Senado. "Temos condições de eleger senadores em quase todos os Estados", afirma o líder do partido na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE), um dos mais experientes caciques do partido.
Há casos em que o PFL considera certa a conquista de uma vaga. Por exemplo, em Santa Catarina. O atual ocupante, Esperidião Amin, do PPB, não disputará a reeleição, pois será candidato ao governo do Estado.
Amin está em processo de reconciliação com o PFL catarinense. E a vaga de candidato ao Senado deve ser preenchida pelo presidente pefelista, Jorge Bornhausen.
A permanência de ACM na presidência do Senado é considerada vital para o projeto de poder que o PFL desenhou para si até o ano 2002.
Na visão pefelista, o próximo governo será marcado por uma transição no quadro político partidário do país. Haverá fusões e algumas siglas devem desaparecer.
PFL e PPB trabalham com a possibilidade de formar um grande partido de centro-direita, numa reedição da Arena (Aliança Renovadora Nacional), a agremiação que deu sustentação ao governo militar (64-85).
Se os pefelistas conseguirem manter a maioria no Senado e na Câmara, pretendem tentar conquistar as presidências das duas Casas. Seria um fato raro.
Na história recente, só o PMDB conseguiu eleger os presidentes da Câmara e do Senado. Mas foi muito ajudado pela euforia do Plano Cruzado -que em 86 reduziu artificialmente a inflação e permitiu aos peemedebistas eleger quase todos os governadores do país.
Ainda no quadro de renovação do Senado, há também uma parcela considerável -cerca de 20 parlamentares- que pode deixar a Casa, mesmo tendo mais quatro anos de mandato pela frente.
São os candidatos a governador ou vice-governador em seus Estados. Por exemplo, o líder do PMDB, Jader Barbalho (PA), deve ser o candidato do partido ao governo paraense. Se vencer, assume o seu suplente. Se perder, volta para a vaga que tem em Brasília.
É raro o caso em que os suplentes não são fiéis ao partido como os titulares da vaga.
Mas sempre pode haver dissidências, e isso também prejudicaria o plano de ACM se reeleger presidente da Casa.



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