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AGENDA PETISTA
Uma delas propõe cobrar ICMS no destino, mas governo deve optar por definir cobrança em lei complementar
Reforma tributária de Lula tem duas versões
KENNEDY ALENCAR
GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo Luiz Inácio Lula da
Silva já tem prontas duas versões
de seu projeto para a reforma tributária. A Folha obteve as minutas das duas propostas de emenda
constitucional. Na mais ousada, o
governo propõe estabelecer na
Constituição que o novo ICMS
(Imposto sobre Circulação de
Mercadorias e Serviços) será cobrado no destino das mercadorias
-é a proposta mais polêmica,
por prejudicar Estados produtores como São Paulo.
A Folha apurou, porém, que a
tendência de Lula é optar pela versão mais branda, que deixa a definição sobre a forma de cobrança
para lei complementar.
Uma saída é o governo trabalhar pela cobrança do novo ICMS
no destino quando o texto tramitar na Câmara. A Folha apurou
que essa regra poderá ser incluída
numa grande negociação com governadores e suas bancadas.
Se essa negociação falhar, a decisão ficaria mesmo para lei complementar -mais fácil de ser
aprovada porque exige maioria
absoluta dos votos na Câmara
(257). Já a proposta de emenda
constitucional exige quórum
mais alto -308 votos, o equivalente a 60% da Casa.
O grande opositor da cobrança
do novo ICMS no destino é o governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB). Como interessa ao
presidente ter ao seu lado todos os
governadores na hora de protocolar a proposta de reforma no
Congresso, a tendência é a opção
pelo texto mais brando.
A intenção de Lula é enviar a
proposta de reforma tributária
neste mês. Ele avalia enviá-la no
dia 10, para marcar seus cem dias
de governo, mas pode demorar
um pouco mais. Lula quer evitar
um balanço oficial dos cem dias
para não obedecer ao que chama
de "agenda da imprensa".
Na prática, porém, o envio das
reformas tributária e previdenciária será sua principal medida para
marcar essa data.
Como já decidido, o projeto
prevê "estabelecer alíquotas, em
número máximo de cinco, (...) em
todo o território nacional". O objetivo é evitar a guerra fiscal, na
qual Estados oferecem incentivos
fiscais para atrair empresas.
As propostas de reforma tributária também explicitam que o
novo ICMS "não incidirá sobre a
exportação de mercadorias para o
exterior, nem sobre serviços prestados a destinatários no exterior".
Prevê-se prazo de transição para a
entrada em vigor das regras do
novo ICMS, que dependerão de
lei complementar.
Os dois projetos ainda devem
sofrer leves modificações, como a
transformação, por exemplo, do
imposto sobre herança num tributo progressivo.
A formulação de dois projetos
diferentes sinaliza que o governo
ainda cogita iniciar agora o debate
sobre a cobrança do novo ICMS
no destino, opção preferida pelo
ministro Antonio Palocci Filho
(Fazenda) por ser a mais eficiente
para impedir a guerra fiscal.
Se a arrecadação do imposto ficar com o Estado onde a mercadoria chega ao consumidor, perde o sentido a prática de conceder
benefícios para a instalação de
empresas produtoras.
Além de São Paulo, outro foco
certo de resistência à proposta é o
Amazonas, por causa da Zona
Franca de Manaus.
Em reunião anteontem, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, com 82 representantes da sociedade escolhidos
por Lula, aprovou a recomendação de que o novo ICMS seja cobrado no destino. Palocci, porém,
disse que o tema, polêmico, merece mais discussão.
Na exposição de motivos do
projeto, Palocci diz que o ideal seria substituir o ICMS por um IVA
(Imposto sobre Valor Agregado)
federal, mas acha a idéia inviável
politicamente: "[A medida] implicaria, na prática, uma profunda
reestruturação do federalismo fiscal brasileiro, cujos custos, especialmente os de ordem política,
certamente superariam os benefícios de ordem técnica".
Para vencer resistências, o presidente terá ainda de trabalhar para chegar a um consenso sobre a
fórmula de criação do fundo de
compensação para Estados e municípios. Na reunião com governadores, Lula firmou esse compromisso, a fim de compensar
quem venha a perder arrecadação. Outro compromisso: estabelecer alguma forma de compensação para os Estados mais pobres,
principalmente os das regiões
Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
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