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TENSÃO NO CAMPO
Incra diz que desrespeito à MP é causado por ajustes na equipe
Governo descumpre medida de FHC para inibir invasões
EDUARDO SCOLESE
EDUARDO DE OLIVEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA
O governo federal não está cumprindo a medida provisória editada por Fernando Henrique Cardoso que proíbe por dois anos as
avaliações e vistorias em terras invadidas, exclui do programa de
reforma agrária os assentados que
participarem de invasões e suspende todos os processos até que
as áreas sejam desocupadas.
Segundo a própria assessoria do
Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), nenhum dos 41 imóveis rurais invadidos por sem-terra no primeiro
trimestre deste ano está impedido
de ser vistoriado.
Além disso, nenhum dos sem-terra que participaram das invasões foi excluído ou impedido de
entrar nos programas de reforma
agrária do governo.
No início de fevereiro, o governo Luiz Inácio Lula da Silva já havia retirado da página do Incra na
internet os nomes de 25 trabalhadores rurais excluídos dos programas agrários por terem participado de invasões de terra durante o governo anterior.
Na prática, segundo funcionários do primeiro e segundo escalões do Incra e do Ministério do
Desenvolvimento Agrário ouvidos pela reportagem, a intenção
do governo é não promover alterações no texto da MP a fim de
manter sob controle a desconfiança dos ruralistas em relação ao
governo petista.
Estratégia
Ao mesmo tempo, ao não cumprir a MP, o governo agrada aos
sem-terra.
Segundo um superintendente
do Incra que, assim como os demais servidores que falaram à reportagem, pediu para não ter seu
nome divulgado, tudo faz parte de
um jogo, sendo uma estratégia do
governo.
O próprio ministro Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário),
por meio de suas próprias declarações, tem ficado em cima do
muro quando o assunto é a manutenção ou não da MP editada
pelo governo tucano.
Anteontem, Rossetto afirmou
que o governo não irá propor alterações na MP. Já duas semanas
atrás, em entrevista à Folha, o ministro declarou que é contra os artigos da medida provisória que
criminalizam as invasões de terra.
"O ministro é oscilante, cada
hora diz uma coisa sobre a MP,
faz um emaranhado de colocações que ninguém entende. O ministério precisava ter no comando
alguém imparcial", afirmou o
presidente nacional da UDR
(União Democrática Ruralista),
Luiz Antonio Nabhan Garcia.
Petições
Segundo o advogado da UDR,
Fernando Antonio Neves Baptista, todos os fazendeiros que tiverem suas fazendas invadidas serão orientados "a partir de agora a
protocolar petições no Incra para
forçar na Justiça o cumprimento
da medida provisória".
Para João Paulo Rodrigues, da
coordenação nacional do MST, a
questão da medida provisória
nunca esteve na pauta das reivindicações dos sem-terra.
"Quando vamos ocupar um latifúndio improdutivo, não existe
uma placa na cerca de arame farpado dizendo que a MP proíbe a
nossa entrada", afirmou. Rodrigues disse que desconhece a prática do governo federal de não
cumprir a medida provisória editada pelos tucanos.
Incra
Por meio de sua assessoria, o
presidente do Incra, Marcelo Resende, justificou ontem o descumprimento da MP com três
motivos: o órgão ainda está fazendo o levantamento dos imóveis
rurais invadidos; a equipe que
realizava tal procedimento está
em fase de reestruturação; e o Incra está estudando a reformulação de sua página na internet.
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