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SOMBRA NO PLANALTO
Para Santoro, polêmica sobre a sua conduta não muda o fato de que há um crime a apurar, em referência ao caso Waldomiro
Faria tudo de novo, afirma subprocurador
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
"Faria de novo. Estava fazendo
o meu trabalho", disse ontem à
Folha o subprocurador-geral José
Roberto Santoro. Ele reconhece,
no entanto, que sua ação, "diante
da conjuntura", "criou dificuldades" para o Ministério Público.
Santoro está no centro da polêmica em torno da gravação de
diálogos, ocorridos nos dias 8 e 9
de fevereiro, em que tenta obter
do empresário de jogos Carlinhos
Cachoeira o vídeo de 2002 no qual
o ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência Waldomiro Diniz, auxiliar do ministro
José Dirceu (Casa Civil), pede
propina e doações para campanhas políticas ao empresário.
Nos diálogos, já eram 3h quando o subprocurador alertou para
a possibilidade de o procurador-geral, Claudio Fonteles, chegar ao
prédio e, diante da cena, inferir
que o grupo tramava contra o governo. Ele dizia que, se chegasse,
Fonteles veria ""um subprocurador-geral empenhado em derrubar o governo do PT".
Santoro nega ter tido motivação
política. "Não houve política.
Tem que ter em conta que, o tempo todo, o Carlinhos falava que temia sofrer represálias. É como está na nota [refere-se à nota divulgada anteontem para dar sua versão sobre o contexto das gravações]: isso [o medo como pressão,
técnica de negociação] foi usado
pelos procuradores."
O subprocurador diz que sua
intenção era, conseguindo que
Cachoeira se tornasse um réu-colaborador, garantir que não houvesse possibilidade de contestação da fita como prova judicial.
"Quem é do meio sabe que, para
conseguir a colaboração de um
réu, temos que ser incisivos." Santoro diz que já possuía uma fita
passada pelo senador Antero Paes
de Barros (PSDB-MT), mas queria uma prova encaminhada pelo
autor da gravação -Cachoeira.
A "conjuntura" e as "dificuldades para o Ministério Público como instituição" a que ele se refere
configuram-se no debate que hoje
se trava em relação à restrição dos
poderes do órgão, cuja atuação já
foi questionada publicamente,
em mais de uma vez, por Dirceu.
O órgão enfrenta batalhas pela
manutenção de suas atribuições
em pelo menos duas frentes. No
Congresso, para impedir que a Lei
da Mordaça volte à pauta -hoje,
só é necessária a aprovação do Senado para entrar em vigor. No Supremo Tribunal Federal, para evitar que, em julgamento prestes a
se realizar, a decisão seja negar a
competência de investigação.
Santoro nega a possibilidade de
ter cometido um erro no caso:
"Não [houve erro]. Ele [Cachoeira] é o sujeito que gravou a fita, falou que estava disposto a colaborar -era um réu-colaborador.
Sabia o contexto do diálogo".
Mesmo diante das dificuldades
institucionais, prossegue Santoro,
a polêmica em torno do que ele
chama de "técnicas de negociação", usadas para pressionar Cachoeira, deveria ser analisada de
forma paralela. "É importantíssimo ter clareza de que a discussão
que está posta agora não muda o
fato de que há crimes a apurar."
"Agora, minha opção é pelo silêncio, até para que a apuração interna chegue a suas conclusões",
disse, referindo-se ao pedido encaminhado por Fonteles à Corregedoria do Ministério Público Federal para apurar se ele e os procuradores Marcelo Serra Azul e
Mário Lucio de Avelar cometeram falta funcional grave ou ato
de improbidade administrativa.
Avelar colheu, juntamente com
Santoro e Serra Azul, os dois primeiros depoimentos relacionados à investigação.
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