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PT diz que errou
no passado com
Ministério Público
KENNEDY ALENCAR
RAQUEL ULHÔA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Numa espécie de mea culpa histórico, o presidente do PT, José
Genoino, disse ontem que membros do PT cometeram "erros no
passado, com exageros na relação
com o Ministério Público". Já o
ministro Márcio Thomaz Bastos
(Justiça) defendeu "ajustes" e
"correção de rota" no papel do
Ministério Público para evitar
"desvios" na conduta de procuradores e promotores.
Ao comentar o fato de que, no
poder, o PT passou a criticar o Ministério Público depois de ter se
aliado a procuradores e promotores quando o partido estava na
oposição e investigava acusações
contra o governo, Genoino respondeu: "Integrantes do PT cometeram erros no passado, com
exageros na relação com o Ministério Público. Posso falar com autoridade porque nunca propus
esse tipo de parceria com o Ministério Público. Alguns integrantes
do partido o fizeram. E isso foi um
equívoco". Ele não citou nomes.
Para Genoino, "a democracia
não pode tolerar manobras conspiratórias". Ele julga que a gravação de um encontro do empresário de jogos Carlinhos Cachoeira
com o subprocurador da República José Roberto Santoro revelou uma uma "manobra conspiratória" contra o governo e o PT,
fazendo eco a Thomaz Bastos.
Na gravação, Santoro pressionou Cachoeira a lhe dar uma cópia da fita que, dias depois, deflagraria o caso Waldomiro Diniz.
Santoro nega intenção política.
Diz que cumpriu seu papel de investigador. Na gravação, porém,
afirma que ação na tentativa de
persuadir Cachoeira a colaborar
com uma investigação poderia ser
interpretada como atitude para
"ferrar" Dirceu.
Indagado se achava que o presidente do PSDB, José Serra, poderia estar por trás da "manobra
conspiratória", Genoino disse:
"Eu não fulanizo. Não tenho elementos para acusar ninguém".
Em discurso anteontem no Senado, a líder do PT, Ideli Salvatti
(SC), insinuou ter havido participação de Serra, o que ele nega.
No entanto, Genoino afirmou:
"Há muitas coincidências, como a
fita ter chegado a um senador do
PSDB [Antero Paes de Barros]
que imediatamente pediu CPI e
afastamento do Zé Dirceu".
Thomaz Bastos
O ministro da Justiça voltou a
defender o controle externo do
Ministério Público, um dos itens
da reforma do Judiciário em tramitação no Senado, mas descartou retomar neste momento a discussão da proposta da chamada
Lei da Mordaça -proibindo juízes, membros do Ministério Público e autoridades policiais de
darem informações sobre investigações em andamento.
"Eu não creio que um desvio
eventual de procuradores contamine uma instituição. O Ministério Público vem cumprindo um
papel muito importante designado pela Constituição de 88. Mas
acho que é preciso fazer ajustes.
Os abusos servem para mostrar
uma correção de rota", disse o ministro sobre o caso "Santoro".
"Sempre fui a favor da chamada
Lei da Mordaça. Mas ela não está
na agenda nesse momento. Acho
que o Ministério Público tem condições de resolver esse problema
tópico", afirmou.
O ministro reafirmou ter considerado uma "espécie de conspiração" a atitude de Santoro na reunião com Cachoeira. "O que se estava pretendendo ali, pelo subtexto, pelo inconsciente, pelo verbo e
pela gramática do subprocurador
Santoro não era esclarecer o caso
Waldomiro, era destruir o ministro Dirceu e derrubar o governo.
Poderia ser brincadeira, mas é isso que está falado ali", afirmou.
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