São Paulo, sexta-feira, 02 de junho de 2000


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NO AR
Pela porta da frente

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

O que faz Mário Covas, que acaba de completar 70 anos, em tratamento de câncer, que fez tomografia horas antes e descobriu ter sinusite, que vai operar uma hérnia, o que faz Covas enfrentar pedras, cadeiras, agressões?
Deu para assistir tudo, ao vivo do Globocop, depois das câmeras no chão, na Globo.
O governador, ao entrar na secretaria, fechada pelos manifestantes, escapou por pouco de uma cadeira que voou diretamente contra ele.
Depois, ao sair pelo mesmo caminho, uma pedra ou coisa parecida atingiu sua cabeça. Em algum momento, também sua boca foi atingida.
E gritavam, a poucos metros dele, colados nele:
- Safado! Filho da puta!
Pode-se criticar, pela direita, um governador que expõe de tal maneira a liturgia do cargo, como diria FHC. Pode-se afirmar, pela esquerda, que ele quer desmoralizar os manifestantes, deixando-se agredir.
Pode-se até supor que, doente, aos 70, Covas quer virar algum tipo de mártir.
Mas o mais provável é que seja a velha teimosia de sempre, de quem já foi agredido antes e não se intimidou.
Ele almoçava no centro e enfiou na cabeça que entraria pela frente. Dispensou tropa de choque, que estava dentro da secretaria, e avançou.
Quase apanhou, mas entrou. Apanhou, mas saiu. No fim, ouviu-se um professor:
- Não fomos nós.
Covas não disse nada. Sorriu um sorriso de vitória. Às câmeras, declarou:
- Não quero falar não. Só quero mostrar.
E mostrou, como uma criança, outra vez, os ferimentos na testa e na boca. No SPTV, que praticamente só fez reproduzir as imagens, "sem cortes":
- Sobre as cenas que você viu, o governador Mário Covas deu a seguinte declaração. Abre aspas. Nada, ninguém vai me impedir de entrar e sair de uma secretaria de Estado pela porta da frente. Fecha aspas.
E o âncora, sério:
- Cada um tire suas conclusões. Boa noite.
 
Talvez agora Marta ou alguém do partido se pronuncie, para desestimular as agressões. Talvez não.
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