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NO AR
Pela porta da frente
NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL
O que faz Mário Covas,
que acaba de completar
70 anos, em tratamento de câncer, que fez tomografia horas
antes e descobriu ter sinusite,
que vai operar uma hérnia, o
que faz Covas enfrentar pedras,
cadeiras, agressões?
Deu para assistir tudo, ao vivo
do Globocop, depois das câmeras no chão, na Globo.
O governador, ao entrar na secretaria, fechada pelos manifestantes, escapou por pouco de
uma cadeira que voou diretamente contra ele.
Depois, ao sair pelo mesmo caminho, uma pedra ou coisa parecida atingiu sua cabeça. Em
algum momento, também sua
boca foi atingida.
E gritavam, a poucos metros
dele, colados nele:
- Safado! Filho da puta!
Pode-se criticar, pela direita,
um governador que expõe de tal
maneira a liturgia do cargo, como diria FHC. Pode-se afirmar,
pela esquerda, que ele quer desmoralizar os manifestantes, deixando-se agredir.
Pode-se até supor que, doente,
aos 70, Covas quer virar algum
tipo de mártir.
Mas o mais provável é que seja
a velha teimosia de sempre, de
quem já foi agredido antes e não
se intimidou.
Ele almoçava no centro e enfiou na cabeça que entraria pela
frente. Dispensou tropa de choque, que estava dentro da secretaria, e avançou.
Quase apanhou, mas entrou.
Apanhou, mas saiu. No fim, ouviu-se um professor:
- Não fomos nós.
Covas não disse nada. Sorriu
um sorriso de vitória. Às câmeras, declarou:
- Não quero falar não. Só
quero mostrar.
E mostrou, como uma criança, outra vez, os ferimentos na
testa e na boca. No SPTV, que
praticamente só fez reproduzir
as imagens, "sem cortes":
- Sobre as cenas que você
viu, o governador Mário Covas
deu a seguinte declaração. Abre
aspas. Nada, ninguém vai me
impedir de entrar e sair de uma
secretaria de Estado pela porta
da frente. Fecha aspas.
E o âncora, sério:
- Cada um tire suas conclusões. Boa noite.
Talvez agora Marta ou alguém do partido se pronuncie,
para desestimular as agressões.
Talvez não.
E-mail
nelsonsa@uol.com.br
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