São Paulo, quarta-feira, 02 de junho de 2004

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Medeiros afirma que é necessário fazer "uma limpeza nas polícias"

DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente da CPI da Pirataria, deputado federal Luiz Antonio de Medeiros, disse, em entrevista à Folha, que "é necessário fazer uma limpeza nas polícias". Ele afirmou que o empresário Law Kin Chong tem muita influência no Judiciário e na política.
Medeiros, que participou da operação para flagrar Chong, disse "que o empresário compra todo mundo e que pensou que iria comprar a CPI também".
 

Folha - Qual o tamanho do Law Kin Chong?
Luiz Antonio de Medeiros -
É o maior contrabandista brasileiro. Há suspeição de que ele mexe com tráfico de heroína também. Ele tem conexões com o Paraguai e tem um território livre: dois shoppings que vendem tudo ilegalmente. Ele faz isso porque tem uma rede de proteção da Justiça, das polícias -não majoritário, mas tem proteção das polícias militares e federal- e tem proteção no meio político.

Folha - Dá para ter idéia do tamanho dessa rede de informantes e de quantas autoridades a integram?
Medeiros -
É tão grande que a Polícia Federal teve de trabalhar clandestinamente aqui em São Paulo. Onde você mexer, acho que tem mais de cem pessoas influentes e em cargos-chave nas polícias. Ele acha que compra todo mundo. Ele estava certo de que iria comprar a CPI também. Eu não ia jogar meu nome na lama. Eu não tive dúvidas. Um juiz me disse que o Law é blindado.

Folha - Ele deu nomes de pessoas que trabalham para ele?
Medeiros -
Tem muita suspeição tanto na Polícia Federal, como na Polícia Civil, como em fiscalização e no meio político. Esta investigação tem de ser aprofundada. Não pode ficar só no nome do Law. Tem os irmãos dele, que são mafiosos. A mulher dele é ligada à máfia. Ele vive da impunidade.

Folha - O sr. tem idéia do patrimônio dele?
Medeiros -
É muito grande. Ele tem, além das lojas, casa de câmbio, investimento na construção civil, suspeição de que tenha banco, empresas em Manaus.

Folha - Quantas lojas ele tem?
Medeiros -
Seiscentas lojas e dois shoppings. Ele resolve todos os seus problemas com dinheiro, tanto na Justiça, como na polícia. Há notícias de que financia campanhas.

Folha - Ele forneceu nomes de políticos?
Medeiros -
Há suspeições, mas não podemos adiantar.

Folha - O que o senhor irá propor no relatório da CPI?
Medeiros -
Tem de fazer uma limpeza na polícia. A única força que até hoje está cortando na carne chama-se Polícia Federal, com o apoio do ministro da Justiça. Tem de limpar a Polícia Rodoviária, as polícias estaduais. A corrupção nas polícias é muito maior do que se pode imaginar. Eu vi gente fazendo acertos quase nas minhas barbas. Isso no meio das operações, nós vimos um policial receber R$ 4.000.

Folha - E a Polícia Federal de São Paulo, precisa dessa limpeza?
Medeiros -
Toda a polícia de São Paulo precisa. Agora, é evidente que há um núcleo de gente muito boa, com quem a gente pode trabalhar. Mas tem as bandas podres que, se não tirar, vai infeccionar o todo.


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