São Paulo, quarta-feira, 02 de junho de 2004

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Nacionalistas querem domínio de tecnologia

CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO

O anúncio de que o Brasil poderá assinar um acordo com a China envolvendo exportações para aquele país de urânio semi-beneficiado, o chamado "yellowcake", provocou reação dos setores da comunidade nuclear brasileira considerados mais nacionalistas, defensores de um plano estratégico que inclua a construção de novas usinas e o domínio completo da tecnologia nuclear pelo país.
Essa corrente avalia que o Brasil só deve cogitar a venda de urânio se for após a etapa de enriquecimento do produto -transformação do urânio encontrado na natureza em um produto capaz de gerar energia atômica para fins de geração de energia elétrica.
O problema é que, mesmo levando em conta a construção de apenas mais uma usina nuclear no país (Angra 3), o Brasil só pode pensar em ter excedente exportável de urânio enriquecido, na melhor das hipóteses, depois de 2010. A fábrica de enriquecimento da INB (Indústrias Nucleares do Brasil) só deve entrar em operação, em pequena escala, em outubro deste ano.

Plano estratégico
Em setores como a Cnen (Comissão Nacional de Energia Nuclear), o órgão normativo e fiscalizador da indústria nuclear brasileira, há a convicção de que só dispondo de um plano estratégico para o aproveitamento do urânio na sua própria indústria o Brasil pode pensar na negociação de acordos que incluam a venda de produtos.
Esse foi o teor da entrevista do próprio presidente da Cnen, Odair Dias Gonçalves, que a Folha publicou no último sábado.
Uma das hipóteses que poderia tornar palatável para os defensores da ampliação do programa nuclear algum tipo de exportação de urânio para a China seria a de os chineses concordarem em incluir no pacote de ampliação de seu parque gerador de energia termonuclear a compra de equipamentos fabricados pela estatal brasileira Nuclep.
A China pretende, até 2020, ampliar seu atual parque gerador de energia termonuclear de atuais quase 9.000 megawatts para 36 mil megawatts. A Nuclep produz equipamentos para usinas nucleares, como geradores de vapor e condensadores.
Para o engenheiro Édson Kuramoto, diretor da Aben (Associação Brasileira de Energia Nuclear), o urânio é um produto que pode servir para que o Brasil reduza sua dependência de combustíveis fósseis (indústria do petróleo e gás) e por isso deve ser visto como algo estratégico.


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