São Paulo, quinta, 2 de julho de 1998

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Ministério da Justiça alega estar de "mãos atadas'

CRISTIANA NEPOMUCENO
da Sucursal de Brasília

Os programas de sorteios de prêmios pelo prefixo 0900 transmitidos pelas principais emissoras de televisão vão continuar no ar até que o Tribunal Regional Federal de São Paulo devolva ao Ministério da Justiça o poder de autorizar a realização dos jogos.
Enquanto isso não acontece, o ministério '"está de mãos atadas" e não poderá suspender os sorteios, disse o diretor do Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor, Nelson Lins Albuquerque.
Segundo ele, o ministério quer que a Caixa assuma a tarefa de autorizar as entidades filantrópicas a realizar sorteios.
Lins afirmou que a concessão das permissões para a realização dos sorteios é "um peso" para o ministério. Leia a seguir trechos da entrevista concedida ontem.

Folha - Apesar da decisão da 26ª Vara da Justiça Federal do Rio de Janeiro, os programas continuam normalmente. Por quê?
Nelson Lins Albuquerque -
O ministério ficou de mãos atadas nisso tudo porque existe o mérito de uma ação apresentada à 15ª Vara da Justiça Federal de São Paulo que ainda não foi julgado.
A Justiça de São Paulo concedeu, no início de maio, uma tutela antecipada a uma ação civil pública apresentada pelo Ministério Público em São Paulo e proibiu o ministério de autorizar as entidades filantrópicas de realizar sorteios.
Portanto, o ministério não pode proibir os sorteios porque ele nem sequer pode autorizá-los.
Folha - Por que o senhor decidiu, na sexta passada, suspender o seu despacho do dia 24 de abril que proibiu os sorteios que não fossem autorizados pelo ministério?
Albuquerque -
Pela falta de uma decisão da Justiça. Fiquei no meio de uma batalha judicial. Eu não cancelei o meu despacho, apenas o suspendi. Quando a Justiça decidir, o teor do meu despacho volta a valer.
Folha - Mas o senhor poderia manter o despacho se quisesse.
Albuquerque -
Sim, mas por que eu vou ficar atendendo telefonemas do senhor Toninho (José Carlos Toninho, deputado estadual de São Paulo que presidiu a CPI dos Bingos na Assembléia Legislativa) e do senhor André de Carvalho (promotor federal) todo dia, me cobrando o cumprimento do despacho se eu não tenho absolutamente nada a ver com isso?
Só vou tornar o meu despacho vigente quando a Justiça decidir.
Folha - Independentemente da decisão judicial, o senhor não acha que o governo deveria exercer um certo controle sobre os sorteios?
Albuquerque -
Enquanto as autorizações dos sorteios eram feitas pelo ministério nós tínhamos o controle. Hoje, temos cerca de 15 pessoas no Brasil inteiro cuidando da autorização e da fiscalização.
É por isso que estamos tentando transferir a tarefa de autorizar os sorteios para a CEF (Caixa Econômica Federal). Hoje a CEF é o órgão que explora as loterias. Ela tem estrutura técnica para isso.



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