|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ELEIÇÕES 2004/DINHEIRO PÚBLICO
Dinheiro para divulgação parlamentar é usado para críticas a rivais e material de promoção
Deputados-candidatos usam verba oficial para se promover
ANDREA MIRAMONTES
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Câmara dos Deputados não
fiscaliza o uso que os parlamentares fazem das verbas destinadas a
eles para a divulgação de suas atividades legislativas, o que vem
dando margem a todo tipo de uso
do dinheiro público sob a justificativa de "divulgação da atividade
parlamentar" em ano eleitoral.
Levantamento dos gastos realizado pela Folha na semana passada mostra que os 86 deputados
que são candidatos a prefeito neste ano utilizaram, em média, 30%
a mais da verba do que aqueles
que não disputarão as eleições.
Entre os materiais produzidos a
título de divulgação legislativa, a
reportagem constatou, neste e no
ano passado, a publicação de jornais contendo ataques a adversários, elogios a aliados e autopromoção, além de produtos como
marca-páginas, "outdoors" e cartas de agradecimento a eleitores.
Confrontada no ano passado
com diversos casos em que a assessoria técnica da Câmara colocava em dúvida a legalidade do
material produzido pelos deputados, a Mesa Diretora, comandada
por João Paulo Cunha (PT-SP),
resolveu baixar a portaria 16/03,
que limita a fiscalização à questão
contábil, "cabendo exclusivamente ao deputado decidir se o
objeto do gasto obedece aos limites estabelecidos na legislação".
Um exemplo é o jornal "Compromisso", informativo do deputado Tarcísio Zimmermann (PT-RS), candidato a prefeito de Novo
Hamburgo. A edição de março último reserva quase todas as quatro páginas para descrever supostos benefícios prestados pelo parlamentar à cidade, sendo que a última é ocupada por uma charge e
por um texto de ataque ao atual
prefeito, que apóia um adversário
de Zimmermann na disputa.
Na edição seguinte, a contracapa é usada de novo para criticar
uma ação municipal, a vigilância
aérea feita por helicóptero. "Se a
prefeitura tivesse mecanismos para ouvir a comunidade, esse serviço não teria sido contratado", diz.
Zimmermann declarou ter gasto
R$ 20,2 mil neste ano com informativos, cartilhas e malas-diretas,
tudo reembolsado pela Câmara.
A portaria da Mesa Diretora não
especifica o que pode ocorrer com
quem fizer propaganda irregular.
Nos quatro primeiros meses
deste ano, os 513 deputados foram reembolsados pela Câmara
em R$ 3,3 milhões por gastos com
a divulgação de seus mandatos.
Os 86 que são candidatos gastaram, em média, R$ 8.000 -30% a
mais do que a média dos não-candidatos, que foi de R$ 6.130.
"Atividade parlamentar, que se
entende, é aquilo relacionado
com a Câmara, no âmbito da Câmara, como projetos de lei e assuntos tratados em comissão",
afirma Hudson Lima, coordenador do Núcleo da Verba Indenizatória, órgão que ficou como único
responsável pelos reembolsos
desde a publicação da portaria da
Mesa. "O mérito, de acordo com a
portaria, cabe ao deputado. Esse é
o nosso limite de atuação", disse.
Nos "folders" de divulgação da
ações do deputado Onyx Lorenzoni (PFL-RS), candidato à Prefeitura de Porto Alegre, o mais latente é a foto do candidato, que
ocupa toda a frente do material, à
semelhança dos santinhos divulgado em campanhas eleitorais.
O diretor-adjunto da Secretaria
de Comunicação da Câmara, Cid
Queiroz, reconhece a falta de fiscalização, mas diz que há, hoje,
mais transparência. "Efetivamente, a administração da Câmara
não está entrando nessa seara,
mas os instrumentos de transparência estão evoluindo", disse.
Outro que extrapola os limites
do que é entendido pela própria
Câmara como divulgação do
mandato é o deputado Zé Geraldo
(PT-PA), que não é candidato. Ele
foi o que mais gastou neste ano
(R$ 55 mil) e produziu uma fita
com as "potencialidades da rodovia Transamazônica" e informativos. O de março, traz elogios à
gestão Lula e à administração petista de Belém e cinco textos criticando o governo do Pará, ocupado por Simão Jatene (PSDB).
No ano passado, antes da portaria, as questões controversas
eram encaminhadas para o primeiro secretário, Geddel Vieira
Lima (PMDB-BA). Na ocasião, ele
recomendou a aprovação, entre
outros, dos reembolsos de R$
2.450 gastos na produção de 50
mil marca-livros com o nome e
informações sobre o deputado
Adelor Vieira (PMDB-SC), de R$
3.340 relativos à veiculação de
outdoors defendendo a instalação
de uma refinaria no Espírito Santo, de responsabilidade de Feu
Rosa (PP-ES), e de R$ 3.500 gastos
por Leonardo Mattos (PV-MG)
com a confecção de cartas de
agradecimento aos seus eleitores.
Segundo a ata da reunião da Mesa
de junho de 2003, todos esses
reembolsos foram aprovados.
Texto Anterior: Painel Próximo Texto: Saiba mais: Reembolso para "divulgação" é de R$ 12 mil/mês Índice
|