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FOME MAQUIADA
Governo federal investe na variedade dos alimentos distribuídos, mas não aumenta valor nutricional
Cesta básica pesa 48% menos que em 97
ALESSANDRA KORMANN
EDUARDO DE OLIVEIRA
DA AGÊNCIA FOLHA
As cestas básicas distribuídas
pelo governo federal aos flagelados da seca estão encolhendo.
Apesar de ter uma variedade de
itens maior do que em anos anteriores, o 1,18 milhão de cestas entregues até 15 de agosto pesam
48% menos do que as de 1997.
Alimentos como arroz e feijão,
na última remessa, foram reduzidos pela metade em relação às
cestas entregues no início do ano.
Segundo dados da Companhia
Nacional de Abastecimento (Conab), responsável pela distribuição, a cesta em 1997 tinha 25 kg: 10
kg de arroz, 5 kg de flocos, 5 kg de
feijão, 3 kg de macarrão e 2 kg de
farinha de mandioca.
Hoje, a cesta contém pouco
mais de 13 kg de alimentos. A variedade, no entanto, é maior: 5 kg
de arroz, 2 kg de feijão, 1 kg de flocos, 2 kg de farinha de mandioca,
1 kg de açúcar, 1 kg de sal, 1 lata de
óleo de soja, 1 lata de fiambre (320
g) ou 2 latas de sardinha (270 g).
Isso não significa, porém, uma
melhora no valor nutricional da
cesta. De acordo com a nutricionista Tânia Rodrigues, os únicos
macronutrientes (elementos essenciais, necessários em quantidade relativamente grande) que
aumentaram na cesta de agora em
relação a quase todas as anteriores foram os lipídios.
Para o biólogo Sérgio Jábali Barretto, que fez doutorado em nutrição humana aplicada na USP pesquisando cestas de alimentos,
apesar de o valor nutricional ser
menor no total, a qualidade das
proteínas ofertadas, de origem
animal, são melhores. Em contrapartida, segundo ele, todas as cestas são pobres em micronutrientes como vitaminas e cálcio. "Isso
é só apenas o mínimo emergencial, para não morrer de fome."
A cesta básica distribuída aos
flagelados, em tese, deve durar
um mês. No entanto, se forem levadas em conta as necessidades
nutricionais de uma família de
cinco pessoas -o mesmo número que o governo considera ao
distribuir os alimentos- os produtos na cesta atual duram de cinco a dez dias.
Para a vereadora Aldaíza Sposati (PT-SP), professora de ciências
sociais e coordenadora do Núcleo
de Seguridade e Assistência Social
da PUC-SP, o governo faz propaganda enganosa quando diz que
está distribuindo cestas básicas.
"O menor valor da cesta básica
nacional é R$ 93,70 em Salvador.
O valor da cesta distribuída pelo
governo não chega a R$ 12", diz.
Segundo o secretário-executivo
do "ministério da seca", Orlando
Muniz, o programa de distribuição de cestas está "com os dias
contados".
Início da distribuição
A distribuição de cestas nos
moldes atuais teve início em 1993,
no governo Itamar Franco. Na
época, foi criado o Consea (Conselho Nacional de Segurança Alimentar), que tomou por base o
estudo conhecido como "Mapa
da Fome", do Ipea (Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada),
como critério de seleção dos municípios a serem atendidos.
Nessa época, que coincidiu com
o auge da campanha contra a fome do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, a cesta atingiu o seu
maior peso: cerca de 32 kg.
Com a posse de FHC, o Consea
foi extinto, e o Prodea (Programa
de Distribuição de Alimentos)
passou a ser gerido pelo Comunidade Solidária. A Conab não forneceu dados anteriores a 97. Mas,
segundo o próprio órgão, o peso
da cesta nesse período veio caindo seguidamente, com oscilações.
O programa teve algumas interrupções e chegou a distribuir cestas com peso menor do que o
atual por alguns períodos -são
períodos que não faziam parte
das distribuições regulares. Em
setembro de 1999, por exemplo,
foi distribuída uma cesta emergencial de 11 kg. O Prodea foi extinto em dezembro de 2000, mas
continua sendo executado pela
Conab com o nome de "Programa Cesta de Alimentos", com recursos do Tesouro Nacional.
Além desse programa, que atende 1.354 municípios de todos os
Estados, além de 605 comunidades indígenas e 661 acampamentos de sem-terra, o governo FHC
executou um outro programa de
emergência a vítimas da seca, que
durou de 1998 a 2000 e no qual foram gastos R$ 351 milhões.
Para o programa atual, foram liberados R$ 50 milhões em abril.
No mês seguinte, foi criado o chamado "ministério da seca", que ficou a cargo de Raul Jungmann
(Desenvolvimento Agrário).
O programa de distribuição de
cestas básicas foi amplamente divulgado. Em julho, o ministro
ameaçou denunciar ao Ministério
Público prefeitos que não haviam
retirado as cestas básicas dos armazéns da Conab.
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