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Moradores contestam obra de Crivella
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
A suposta reforma geral de uma
casa no morro da Providência
(centro) promovida pelo candidato a prefeito do Rio pelo PL, senador Marcelo Crivella, é contestada na favela. Crivella mostra a
obra em seu programa eleitoral
na TV como solução para o problema habitacional do lugar. Só
que o imóvel estava em boas condições. Crivella só providenciou
um telhado e a pintura externa.
Por dentro, o prédio de dois andares continua o mesmo de antes
da chegada ao local dos operários
contratados pela campanha. Nele
mora a família (mulher, três filhos
e um sobrinho) de José Carlos
Santos, obreiro do templo da
Igreja Universal do Reino de Deus
da avenida Sacadura Cabral (centro). Bispo da Universal, Crivella é
sobrinho de seu fundador e líder,
o bispo Edir Macedo.
O candidato começou nesta semana a mostrar imagens da casa.
Diz ele que em três dias o imóvel
foi reformado. "Foi feito um teste.
Veja como a casa ficou mais bonita", disse o candidato no programa, prometendo, se eleito, fazer
obras idênticas no morro.
A propaganda indignou moradores da favela ouvidos ontem
pela Folha. O presidente da Associação de Moradores do Morro da
Providência, Manuel Gama, foi
um dos que reclamou. "Isso é
uma fraude. A casa já era uma das
melhores da favela."
A vendedora Geórgia da Costa,
36, apontava um barraco de madeira e folhas de zinco enferrujadas, a 100 m da casa supostamente
reformada. "Por que não melhoraram aquela ali? Essa propaganda é um insulto. Sou pobre, mas
não sou ignorante", afirmou ela,
mostrando fotos tiradas antes e
durante a suposta reforma.
Conhecido na favela como pastor José, o obreiro -fiel que presta serviços à Universal- não foi
localizado pela Folha. Sua mulher, Creuza Maciel, 38, confirmou que a obra foi externa.
"Melhorou tudo depois. Antes
estava horrível", disse ela, que
mora na casa desde que nasceu.
A Folha tentou ouvir Crivella.
Sua assessoria informou que ele
talvez telefonasse para falar sobre
o assunto. Até a conclusão desta
edição o candidato não havia ligado. Segundo a assessoria, a suposta reforma é um modelo do que
Crivella fará no morro caso se eleja. A assessoria informou também
que não sabia que a casa pertence
a um fiel da Universal.
A Providência é a primeira favela do Rio. Os barracos começaram
a ser construídos nas vertentes da
montanha na última década do
século 19, de acordo com historiadores. Hoje, segundo o Censo
2000 do IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística), moram na favela 3.443 pessoas.
O desempregado Marcos Vinícius de Lira, 19, reclamou da ausência de Crivella no morro.
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