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GOVERNO
Para presidente, se mudança dependesse só de decisões de gabinete, "seria fácil"
FHC critica "voluntarismo" e "bobagens" de candidatos
WILSON SILVEIRA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Fernando Henrique Cardoso criticou ontem o
"voluntarismo" de candidatos à
Presidência. Sem mencionar nomes, disse que tem "tanta bobagem" na televisão e que só vontade política não resolve.
Segundo o presidente, não
adianta o candidato ter milhões
de votos no dia da eleição, porque
no dia seguinte não tem mais, é
preciso reconquistar a confiança
do eleitorado a cada dia.
Durante discurso no Instituto
Rio Branco, FHC disse que "o voluntarismo é a explicação de
quem não sabe nada". Para ilustrar o que dizia, começou a citar
ironicamente frases que costumam ser repetidas por candidatos
na campanha, como: "Tudo depende da vontade política" e "tendo vontade política, acaba com a
fome, acaba com a miséria, distribui a renda".
Em seguida, comentou: "Ai,
meu Deus, haja paciência. Essa é
uma visão absolutamente tecnocrática do que é o processo de mudança: imaginar que a mudança
depende de decisões tomadas
num gabinete, ainda que respaldada por milhões de votos. Se fosse assim, seria muito fácil".
"Bobagem"
O presidente prosseguiu em
suas críticas, intercalando raciocínios de terceiros aos seus. "Essa
vontade política nos atormenta
dia e noite. "Basta baixar a taxa de
juros e pronto." É tão bonito ver
na televisão, tem tanta lógica...
Tanta bobagem. "Basta baixar os
juros que resolve tudo: aumenta a
produção, barateia o produto,
acabou a inflação. É lógico." Tudo
errado. Como se fosse possível
baixar os juros assim."
O discurso foi feito em solenidade que comemorou os 38 anos do
Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
Se o presidente pretendeu atingir os candidatos da oposição,
suas críticas se enquadram também no discurso do candidato
oficial. O tucano José Serra também vem apontando a redução da
taxa de juros como uma das principais soluções para a retomada
do crescimento econômico.
FHC afirmou que talvez a transformação mais importante pela
qual o Brasil passou nos últimos
anos tenha sido o reconhecimento implícito e explícito de que,
sem legitimidade, as coisas não
funcionam.
"E a legitimidade se renova no
dia-a-dia. Não adianta nem termos milhões de votos. Eu tive tantos. Não adianta. Quem pensa que
com isso resolve... "Ah, nos cem
primeiros dias tem voto e faz o
que quer." Não é verdade, é um
equívoco. Os votos você tem no
dia da eleição, no dia seguinte não
tem mais nada."
Segundo o presidente, é preciso
reconquistar todos os dias a confiança e a legitimidade. "A oposição, o que ela trata de fazer? Solapar as bases da legitimidade. Isso
é do jogo político, isso é normal
que seja assim", disse.
O presidente afirmou que o Brasil deve combater a pobreza, a exclusão social e integrar o Brasil
crescentemente no sistema internacional, com liberdade e com
democracia.
"Imaginar que você pode refluir
a uma posição dos anos 50 e fechar a economia outra vez, aumentar tarifas para proteger setores, para que esses setores ganhem dinheiro em nome de dar
emprego, isso está errado e tem
consequências. Paga-se alto custo
a longo prazo por essas visões
equivocadas do que é o desafio
contemporâneo", disse FHC.
Segundo o presidente, equilibrar as contas da Previdência talvez seja o principal problema do
Brasil. "Não vai ter como baixar a
taxa de juros enquanto o governo
sistematicamente for ao mercado
para pedir mais dinheiro emprestado. E o governo não tem como
deixar de ir ao mercado pedir dinheiro emprestado porque chegou ao máximo do que ele pode
tributar e não chegou ao máximo
de endividamento possível."
Para FHC, os gastos com a aposentadoria de servidores públicos
são uma máquina de aumentar a
dívida do governo. "Um terço do
Orçamento fica nas mãos de 3 milhões de pessoas. Será democrático isso?", perguntou.
LEIA a íntegra do discurso de FHC na (Folha
Online)
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