São Paulo, sexta-feira, 02 de novembro de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

LOBBY EM BRASÍLIA

Deputados atuariam para liberar importação do produto usado

Agenda de APS registra os passos do "lobby do pneu"

ANDRÉA MICHAEL
ROBERTO COSSO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O deputado Luciano Pizzatto (PFL-PR) é o principal líder de um lobby que atua na Câmara dos Deputados para conseguir a aprovação de uma lei que permita a importação de pneus usados.
Pizzatto, que desde 1995 acompanha a tramitação e relata projetos que tratam da importação de pneus usados, aparece 13 vezes na agenda do lobista Alexandre Paes dos Santos, o APS, apreendida pela Polícia Federal em 8 de outubro. Nas anotações de APS, o deputado paranaense aparece relacionado a uma indicação "10 K".
Na investigação, suspeita-se que o K possa estar relacionado a cifras em dinheiro. APS diz que é um código criado por ele, não relacionado a cifras.
As bandeiras defendidas por Pizzatto e por outros congressistas do Paraná atendem aos interesses do empresário Francisco Simeão Rodrigues Neto, dono da BS Colway Remoldagem de Pneus Ltda., de Piraquara, região metropolitana de Curitiba (PR).
Rodrigues Neto começou a importar esse produto em 1991, sob a justificativa de que os pneus brasileiros eram mais caros e menos duráveis do que os trazidos da Europa. Desde então, ele trouxe para o país 10 milhões de pneus -metade de todo o mercado.
"Fica mais fácil para os países desenvolvidos jogarem esses restos aqui do que se responsabilizarem pelos riscos ambientais que podem causar", diz Zilda Veloso, coordenadora de qualidade ambiental do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).
Em dezembro de 1992, o Ibama editou uma portaria que proibiu a importação de pneus usados. Mas Rodrigues Neto continuou a comprar a mercadoria respaldando-se em liminares judiciais.
Para encerrar a discussão, o Poder Executivo enviou ao Congresso em 1993 um projeto de lei proibindo definitivamente a importação dos pneus usados.
Relator da matéria na Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias, o deputado Pizzatto apresentou um substitutivo que, ao contrário da proposta inicial, autorizava a importação.
Para conquistar a simpatia dos congressistas, Rodrigues Neto contratou 22 moças e dez rapazes para circular pelos corredores do Congresso e apresentar os supostos benefícios embutidos em seus interesses. Gastou mais de R$ 1 milhão nessa ação.
O Executivo retirou o projeto, mas o assunto continuou a tramitar em outra proposta, da qual Pizzatto também foi o relator e novamente abriu a possibilidade de importar pneus usados.

Pressão
O tom do projeto só mudou em 1999, quando o deputado Emerson Kapaz (PPS-SP), ao recebê-lo na Comissão de Economia, Indústria e Comércio da Câmara, excluiu a possibilidade de importar os pneus usados. "A pressão foi enorme. Simeão me procurou e me convidou para uma visita à fábrica dele. Entendo que ele tenha interesses, mas esse negócio [importar pneus usados" não é aceitável em nenhum lugar do mundo", declarou Kapaz.
O deputado agora está à frente de uma confusão ainda maior. É o relator da comissão especial criada para elaborar uma política nacional de resíduos sólidos, o que inclui, novamente, os pneus -e outros 57 projetos de lei.
Kapaz adotou como estratégia apresentar uma proposta preliminar para só então iniciar a discussão. No ápice das pressões, o deputado Neuton Lima (PFL-SP), com o apoio de Pizzatto, apresentou um requerimento para dividir a discussão entre sete sub-relatores. A agenda do lobista registrou uma comemoração pela vitória do grupo de Pizzatto.
Nos bastidores, comenta-se que a distribuição dos temas da comissão em grupos abrirá um espaço mais confortável para o trabalho do lobby.


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Ministrou votou por importações
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.