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São Paulo, domingo, 02 de novembro de 2003

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Em posição estratégica, agente se torna curinga

GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Entre juízes federais, delegados e até um corregedor-chefe, um simples agente federal assumiu, segundo o Ministério Público Federal, um papel decisivo para o funcionamento de uma organização criminosa responsável por venda de sentenças judiciais, entre outros crimes.
O agente César Herman Rodriguez foi, entre os oito presos e os três juízes federais denunciados, o que recebeu maior número de acusações. Foram sete denúncias -formação de quadrilha, falsidade ideológica (por duas vezes), peculato, prevaricação, corrupção passiva e interceptação ilegal de telefone-, o que mostraria, segundo os procuradores, uma atuação diversificada no grupo.
Rodriguez estaria em um local estratégico -era cedido para o gabinete do juiz João Carlos da Rocha Mattos- e todas as negociações passariam por ele. Na denúncia da Procuradoria e na decisão da desembargadora do Tribunal Regional Federal Therezinha Cazerta -na qual foi determinada a prisão temporária por cinco dias de Rodriguez e de outras sete pessoas-, o agente foi destaque.
Sua participação é citada, por exemplo, em um relaxamento de uma prisão em flagrante ocorrida no aeroporto internacional de Guarulhos mediante falsificação de documentos. Rocha Mattos também se envolveu no caso, segundo a Procuradoria.
Rodriguez atuaria ainda, segundo a denúncia, no contrabando de motos e de anabolizantes. Além de supostamente trabalhar na "obtenção de peças processuais", ele é citado como participante de um esquema de empréstimo de armas apreendidas em processo.
O agente também teria ligação com os juízes Ali Mazloum e Cassem Mazloum. Na representação de policiais rodoviários federais, Ali Mazloum teria cometido os crimes de ameaça e abuso de poder ao tentar saber se o seu telefone e o de Rodriguez estariam grampeados.
As gravações também teriam mostrado, segundo a desembargadora, um agente violento, que teria "matado oito pessoas". Ele também estaria envolvido na detenção de devedores de "clientes".
Os juízes negam as denúncias e a existência de um esquema criminoso. A PF de São Paulo disse que não falaria a respeito nem informa se o agente tem advogado. O presidente da Federação Nacional dos Delegados da Polícia Federal, Armando Coelho Neto, que defende a inocência dos delegados envolvidos no caso, disse que o agente já foi expulso da PF depois de uma sindicância, mas voltou por uma decisão judicial.


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