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São Paulo, terça-feira, 02 de dezembro de 2003

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Alencar volta a criticar taxa de juros

Alan Marques - 29.out.203/Folha Imagem
Alencar, que afirmou que a política monetária é "ultra-restritiva'


CAROLINA VILA-NOVA
DE BUENOS AIRES

O vice-presidente José Alencar retomou as críticas à política econômica do governo. Ele, que assume hoje interinamente a Presidência, afirmou numa entrevista publicada ontem no jornal argentino "La Nación" que "nunca houve na história do Brasil semelhante transferência de riquezas do trabalho e da produção em benefício do sistema financeiro".
"Esse é o resultado da longa convivência com altas taxas de juros", disse Alencar.
Na quarta-feira da semana retrasada, o Banco Central reduziu os juros básicos da economia de 19% ao ano para 17,5%. Mesmo assim, o país tem a maior taxa real do mundo (10,92%, segundo a Unibanco Asset Management).
O vice-presidente afirmou que o governo mantém as taxas no nível atual por prestar atenção a economistas ligados ao mercado financeiro. E acrescentou: "Alguns economistas, especialmente aqueles ligados a grandes bancos, alegam que há um limite para a redução dessa taxa, como, por exemplo, para 10% reais ao ano. Isso é grave. Esses mesmos economistas dizem que o Brasil só pode crescer no máximo 3% ao ano. Afirmam que, senão, a inflação volta".
Para o vice-presidente, "é preciso ter coragem para romper com isso ou vamos conviver toda a vida com altas cifras de desemprego e fazendo crescer a pobreza".
As críticas às taxas de juros começaram em abril. Na época, Alencar disse que as taxas deixam o país "encabrestado". Em outras ocasiões, afirmou que os juros são um "assalto", um "despropósito" e "jogar dinheiro pela janela".
As críticas provocaram mal-estar no governo. Lula teve uma conversa com o vice, mas os ataques não cessaram.
O diário argentino afirma que as declarações parecem ser de "um líder da oposição". Mas diz que Alencar está longe de querer a ruptura: "As circunstâncias levaram esse conservador à esquerda do seu próprio governo".
As críticas vêm num momento em que se divulgam uma taxa de desemprego recorde na região metropolitana de São Paulo, de 20%, e uma perspectiva de crescimento quase nulo (entre 0,2% e 0,6%) da economia neste ano.
"O Brasil foi durante um tempo a oitava economia do mundo. Tem potencial para recuperar e superar essa posição. Mas se o nosso PIB não cresce e o PIB dos outros países cresce, nós, que hoje somos a 12ª ou a 13ª, vamos ser a 14ª ou a 15ª."
Alencar descreveu ainda a política fiscal como "ultraconservadora" e a política monetária como "ultra-restritiva", mas necessárias para não permitir "de nenhuma forma" a volta da inflação.


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