São Paulo, segunda-feira, 03 de janeiro de 2005

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TODA MÍDIA

Apostas

NELSON DE SÁ

Nas previsões para 2005, que fecharam a semana, apareceu de tudo na cobertura internacional.
William Safire, o colunista conservador do "New York Times", a três semanas de se aposentar, arriscou desde o vencedor do Oscar ("Million Dollar Baby", de Clint Eastwood) até o rumo a ser tomado pelos democratas (nem esquerda nem direita, mas "religião").
Em moda, o britânico "Independent" apostou em "qualquer coisa rosa" e "anos 60" para 2005. E o "Observer" decretou a reeleição do primeiro-ministro Tony Blair.
Também o "Financial Times", que garantiu ainda a realização das eleições iraquianas -e arriscou que o novo mandato de George W. Bush nos EUA será menos unilateralista.
Quanto à América Latina, ela vai continuar se inclinando para a esquerda, "mas só nas franjas".
Para o "FT", o venezuelano Hugo Chávez seguirá com seu populismo autocrático e o argentino Néstor Kirchner "continuará a culpar o FMI", mas:
- No Brasil o presidente se moveu firmemente para o centro desde sua eleição. Seu sucesso em estabilizar e revitalizar uma economia à beira do colapso dá o tom para a região. Sejam esquerdistas como Mr. Lula da Silva ou direitistas como o colombiano Alvaro Uribe, os líderes políticos da região estão optando pelo pragmatismo.
 
Por aqui, ontem na Globo News, comentaristas destacavam três "pontos para 2005", como "assuntos do governo": segurança, educação e infra-estrutura.
Infra-estrutura foram também o foco, poucas horas depois, no pronunciamento de Lula em rede nacional, num programa animado pela direção de Duda Mendonça. Uma das vinhetas publicitárias:
- 2005 será o ano dos investimentos em infra-estrutura, do aumento do emprego e da recuperação da renda dos brasileiros.
O Fantástico entrou em seguida e ecoou o pronunciamento, abrindo o programa já com a declaração de um cidadão, na rua:
- 2005 vai ser um ano excepcional!
O apresentador Zeca Camargo completou:
- 2005 começa cheio de promessas. Promessa de mais emprego e crescimento econômico, 4% neste ano. O salário mínimo vai chegar a R$ 300 em maio.
E não é só. Segundo um babalorixá e um astrólogo, "este vai ser o ano das mulheres".
Também vai ser ano de Carol Castro, no Sambódromo do Rio. Disse ela:
- Eu prometo que vou quebrar tudo neste Carnaval.
E saiu rebolando.
 
Para azar de Lula, a notícia do dia, ontem, também foi de infra-estrutura.
Segundo a Band News, o "apagão" de energia no Rio causou "problemas no metrô", "queimou equipamentos" em hospitais e levou até à "inundação de casas em Nova Iguaçu".
A ministra Dilma Rousseff "se mostrou preocupada" e convocou reunião, para hoje, enquanto um diretor de Furnas dizia:
- A nossa desconfiança é que tenha havido um sinal errado, ou alguma falha de voltagem, ou uma distorção, alguma coisa assim.

LULA, BUSH E A FÉ

Nomínimo/Reprodução
Bush no "púlpito", durante a campanha


O francês "Le Monde" descobriu no fim de semana os documentários "Entreatos" e "Peões", que João Moreira Salles e Eduardo Coutinho dirigiram, respectivamente. Gastou elogios para abordar "a metamorfose de Lula em presidente do Brasil", ele que virou um "sedutor" contador de histórias.
Já João Salles, em seu novo e longo ensaio para o site Nomínimo, ontem, voltou a atenção para um outro presidente, George W. Bush. Sublinhou a religiosidade do americano, que fez seu discurso de candidato, em setembro passado, num cenário de moldura cristã -e que nos debates viveu "seu melhor momento quando falou da própria fé". O cineasta parte daí para apontar "a versão imperial do messianismo" na Casa Branca, no Iraque.
Ultimamente, vale registrar, Lula também tem falado muito em sua fé. Ontem, fechou o pronunciamento sobre 2005, em rede nacional, pedindo "que Deus nos abençoe a todos".

Da fome à renda
A "Economist" fechou o ano com elogios ao Brasil, que de 1992 para 2002, último ano de FHC, baixou de 12% para 9% a proporção de desnutridos, segundo números da ONU.
Enquanto isso, Lula, no pronunciamento de ontem, trocou Fome Zero pela recuperação de renda, como prioridade.

Anjo
Para o "Guardian", "o tsunami será lembrado, pela maioria, como um desastre natural catastrófico, mas ele também marca um ponto de inflexão no desenvolvimento da internet".
A idéia é que a rede se tornou "um anjo", na última semana, no trabalho de resgate e de levantamento de recursos.

Silvia Isquierdo - AP
RESISTÊNCIA O "Washington Post" deu no sábado longa reportagem sobre o candomblé no Brasil, que "floresce" apesar de ser "atacado fisicamente" e na TV por pentecostais


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