São Paulo, terça-feira, 03 de janeiro de 2006

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ELEIÇÕES 2006/PRESIDÊNCIA

Presidente disse não ter pressa em decidir se tentará reeleição; partido não tem plano B

PT cobra decisão de Lula para definir candidatura

CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Na entrevista que concedeu ao programa "Fantástico", da TV Globo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que só definirá se será ou não candidato à reeleição "no meio do ano" e que não tem pressa em decidir. "Eu não tenho pressa. Quem tem pressa são os meus adversários", declarou.
Em que pese suas afirmações públicas, o fato é que a indefinição do presidente preocupa o PT, que não tem um plano B para a eleição presidencial deste ano que não seja com Lula na cabeça de chapa.
"O PT não tem alternativa a não ser defender que ele seja candidato à reeleição", constata o líder do governo na Câmara, deputado Arlindo Chinaglia (SP). Ele entende que, por questões de tática, talvez por enquanto o melhor caminho seja o presidente ainda não assumir que é candidato. Porém observa que o partido "não se preparou" para ter outro nome para concorrer na eleição.
"O PT tem de trabalhar para que ele seja o candidato", propõe. "A Executiva [do partido] tem de se concentrar no processo eleitoral e tem de agir visando a disputa deste ano, montando estratégia nacional e fazendo uma análise da conjuntura política."
A mesma ansiedade de ver Lula assumir sua candidatura é compartilhada pelo secretário-geral do PT, Raul Pont (RS). Porém, Pont é mais incisivo na cobrança de uma definição do líder máximo do partido. "No PT não há dúvida de que ele é o candidato natural", constata. "Mas ele não pode levar o partido a uma situação de espera até maio ou junho porque, desta forma, caso desista de concorrer irá inviabilizar outra candidatura do partido."
"O presidente não pode e não tem direito, em relação ao PT, de decidir isso [se será candidato ou não] em junho", protestou. Ele defende que Lula torne pública sua decisão até março, porque em abril começam os encontros regionais do PT para começar a definir candidaturas e coligações.

Críticas
Pont, que é da tendência Democracia Socialista, de esquerda, disse que "caberia ao presidente fazer uma avaliação crítica da política de alianças que foi realizada" para apoiar o Executivo no Congresso. Ele cobrou de Lula a identificação dos "traidores" aos quais o presidente se referiu na entrevista de domingo. "Ele ajudaria o partido se identificasse quem são os traidores."
Na entrevista ao "Fantástico", Lula afirmou que "o PT vai sangrar muito para poder se colocar diante da sociedade outra vez com uma credibilidade que ele conquistou ao longo de 20 anos".
"A melhor maneira de o partido não sangrar é prestar contas à sociedade para demonstrar que não há concordância com o que aconteceu", propôs Pont.
O líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia, elogiou a atuação de Lula. "As perguntas se concentraram na crise e, diante das circunstâncias, ele foi bem." Chinaglia usou o mesmo argumento que petistas vêm se valendo para tentar desqualificar as denúncias de corrupção no governo. "Depois de sete meses de investigação, ainda não foi provado o "mensalão'", afirmou.
Para o líder, na entrevista Lula foi "convincente" ao dizer que está trabalhando para apurar as irregularidades.
Chinaglia afirmou que Lula "deixou claro que o que era responsabilidade do governo, que é mandar investigar as denúncias, foi feito". O líder do governo concordou com Lula nas críticas ao PT. "O partido vai ter de mudar suas estruturas, convencer a sociedade que aquilo [caixa dois] foi um episódio lamentável."
Raul Pont apontou que há um "espírito de corpo" no PT que impede que os parlamentares acusados de se beneficiar do esquema do publicitário Marcos Valério respondam à comissão de ética.


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