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JANIO DE FREITAS
Quem conta
uma conta
Mantido em sigilo pela Polícia Federal e, em tudo o que é
importante, pelo próprio depoente, o imenso depoimento
do pastor Caio Fábio sobre o
"dossiê Cayman" e outras contas em paraísos fiscais sugere,
na verdade, um caso muito
além daquele que deu em escândalo.
Além dos nomes já citados
aqui, como detentores de contas mencionados em conversas
com Caio Fábio, o depoimento
deu indicações precisas sobre
fatos referidos por intermediários e corretores, nos Estados
Unidos, de depósitos de brasileiros no exterior.
Uma das conversas narradas
por Caio Fábio deu-se em torno de depósito de US$ 50 milhões. Feito em determinada
conta "secreta" na época da
confusa privatização das telefônicas.
Por coincidência, claro. Tanto que o governo nem se interessa por investigações em torno dos indícios e dados presentes no depoimento de Caio Fábio -mais sigiloso, aliás, do
que certas contas.
²
Sem defesa
O quiproquó em torno do Ministério da Defesa advém de
dois hábitos introduzidos na
Presidência por Fernando
Henrique Cardoso e praticados, dia-a-dia, também por
Clóvis Carvalho, o hooligan do
Gabinete Civil. São eles o descumprimento de acordos e
compromissos e, como complemento, o trato inábil, desprovido de tato político e de simples educação, de questões que
envolvem aspectos pessoais de
terceiros, como amor próprio,
imagem pública, princípios,
que a Presidência atropela
sem cerimônia.
A criação do Ministério da
Defesa estava estudada e
aprovada pelo Estado-Maior
das Forças Armadas. Mas não
para que Fernando Henrique
a usasse politicamente. Também não para que, enfiando as
mãos pelos pés, pretendesse
que os atuais ministros militares aceitassem ser rebaixados
dos seus cargos para tornar-se
apenas secretários, enquanto
a Presidência arranja um jeito
de tornar constitucional o novo ministério.
Todo o essencial para a criação do Ministério da Defesa
estava acertado, e disso Fernando Henrique esteve informado, como parte dos acertos.
Mas não resistiu aos hábitos
introduzidos na Presidência.
²
Contraste
As passagens de ano tornaram- se mais marcadas do que
o calendário sugere.
Nesta, tudo o que o presidente tem a oferecer aos que viveram e aos que vivem do trabalho são mais descontos no que
lhes fica ao fim do mês, reduções salariais em troca de continuidade do emprego, mais
desemprego.
É natural, nesse clima, que
não fosse lembrado o cinquentenário do repouso semanal remunerado para todos os que
trabalham. Foi assinado por
Dutra na passagem de 48 para
49.
Era um tempo de conquista
de direitos e de reconhecimentos humanos. É um tempo de
usurpação de direitos e desprezo do poder por tudo o que não
seja poder econômico.
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