São Paulo, domingo, 3 de janeiro de 1999

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CRISE SOCIAL
Desemprego crescente leva FHC a esperar "semestre negro'

Presidente se prepara para manifestações contrárias ao governo

GILBERTO DIMENSTEIN
do Conselho Editorial

O presidente Fernando Henrique Cardoso advertiu seus auxiliares para que se preparem "psicologicamente" para o que ele batizou de "semestre negro".
Ele já está preparando o espírito de sua equipe para o bombardeio unindo empresários e sindicatos - um ensaio já ocorre, em São Paulo, colocando lado a lado Fiesp e CUT, contrários à política econômica do governo.
Os níveis de emprego, especialmente no primeiro trimestre, vão bater recordes.
No Ministério do Trabalho, admite-se que a taxa possa pular para 13%; por diferenças metodológicas, será ainda mais expressiva no indicador do Dieese.
O sistema militar do Palácio do Planalto trabalha com a hipótese -alimentada pelo PT- de que o descontentamento vai ganhar as ruas em passeatas e demonstrações, criando uma aliança de setores de oposição ao governo.
Medidas decisivas para o plano de estabilidade estarão em votação no Congresso - aumento de impostos, por exemplo. A dúvida palaciana é até que ponto a efervescência alteraria o ânimo dos parlamentares.
A turbulência só iria amenizar, na visão do presidente e de seus ministros da área econômica, a partir de agosto. Até o final do ano, a economia cresceria em torno de 1%.
Se o semestre é "negro", os primeiros dois anos do mandato são vistos pelo próprio presidente como sombrios no que se refere à política social.
A prioridade ainda vai ser a estabilidade, numa tentativa de reduzir o déficit externo, aumentando a exportação, e os rombos internos, controlando gastos.
A facada já atingiu, em cheio, os programas sociais do governo, com cortes nos projetos de educação e saúde.
Não há como escapar da necessidade de rédeas curtas, sob o risco de inviabilizar os acordos internacionais e detonar o esforço de controle inflacionário.
O fato é que, mesmo com o crescimento moderado, as demandas por emprego já seriam altas, levando-se em conta os impactos nos grandes centros urbanos e formadores de opinião -São Paulo, por exemplo.
Está ameaçado o cronograma imaginado pelo próprio FHC: marcar o segundo período de seu governo por projetos de desenvolvimento social.
Novas demandas terão de ser enfrentadas em vários segmentos sociais. Na educação, a prioridade se transforma, pouco a pouco, no ensino médio (ex-segundo grau ou ex-colegial).
Centenas de milhares de estudantes alargam o número de matrículas, pressionando o ensino superior. Os Estados informam que não dispõem de recursos para enfrentar essa avalanche. Um estudante nessa fase custa mais caro.
Com o cortes atuais, até a merenda escolar saiu ameaçada. O quadro pode ainda piorar porque, no Congresso, um movimento de parlamentares está disposto a dizimar o salário-educação, uma das principais fontes para compra de material escolar e merenda.
O ensino fundamental ainda pede bilhões em investimento,assim como o ensino superior, com suas faculdades e bibliotecas defasadas.
O ministro José Serra, da Saúde, acalmou as críticas públicas, mas continua convencido de que os cortes foram além do aceitável, comprometendo metas tidas por ele como essenciais.



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