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CRISE SOCIAL
Desemprego crescente leva FHC a esperar "semestre negro'
Presidente se prepara para manifestações contrárias ao governo
GILBERTO DIMENSTEIN
do Conselho Editorial
O presidente Fernando Henrique Cardoso advertiu seus auxiliares para que se preparem "psicologicamente" para o que ele
batizou de "semestre negro".
Ele já está preparando o espírito de sua equipe para o bombardeio unindo empresários e sindicatos - um ensaio já ocorre,
em São Paulo, colocando lado a
lado Fiesp e CUT, contrários à
política econômica do governo.
Os níveis de emprego, especialmente no primeiro trimestre, vão bater recordes.
No Ministério do Trabalho,
admite-se que a taxa possa pular
para 13%; por diferenças metodológicas, será ainda mais expressiva no indicador do Dieese.
O sistema militar do Palácio do
Planalto trabalha com a hipótese
-alimentada pelo PT- de que
o descontentamento vai ganhar
as ruas em passeatas e demonstrações, criando uma aliança de
setores de oposição ao governo.
Medidas decisivas para o plano de estabilidade estarão em
votação no Congresso - aumento de impostos, por exemplo. A dúvida palaciana é até que
ponto a efervescência alteraria o
ânimo dos parlamentares.
A turbulência só iria amenizar,
na visão do presidente e de seus
ministros da área econômica, a
partir de agosto. Até o final do
ano, a economia cresceria em
torno de 1%.
Se o semestre é "negro", os primeiros dois anos do mandato
são vistos pelo próprio presidente como sombrios no que se
refere à política social.
A prioridade ainda vai ser a estabilidade, numa tentativa de reduzir o déficit externo, aumentando a exportação, e os rombos
internos, controlando gastos.
A facada já atingiu, em cheio,
os programas sociais do governo, com cortes nos projetos de
educação e saúde.
Não há como escapar da necessidade de rédeas curtas, sob o
risco de inviabilizar os acordos
internacionais e detonar o esforço de controle inflacionário.
O fato é que, mesmo com o
crescimento moderado, as demandas por emprego já seriam
altas, levando-se em conta os
impactos nos grandes centros
urbanos e formadores de opinião -São Paulo, por exemplo.
Está ameaçado o cronograma
imaginado pelo próprio FHC:
marcar o segundo período de
seu governo por projetos de desenvolvimento social.
Novas demandas terão de ser
enfrentadas em vários segmentos sociais. Na educação, a prioridade se transforma, pouco a
pouco, no ensino médio (ex-segundo grau ou ex-colegial).
Centenas de milhares de estudantes alargam o número de
matrículas, pressionando o ensino superior. Os Estados informam que não dispõem de recursos para enfrentar essa avalanche. Um estudante nessa fase
custa mais caro.
Com o cortes atuais, até a merenda escolar saiu ameaçada. O
quadro pode ainda piorar porque, no Congresso, um movimento de parlamentares está
disposto a dizimar o salário-educação, uma das principais
fontes para compra de material
escolar e merenda.
O ensino fundamental ainda
pede bilhões em investimento,assim como o ensino superior, com suas faculdades e bibliotecas defasadas.
O ministro José Serra, da Saúde, acalmou as críticas públicas,
mas continua convencido de
que os cortes foram além do
aceitável, comprometendo metas tidas por ele como essenciais.
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