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Governo usará denúncia vazia para desqualificar ataques da oposição
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A cúpula do governo avalia que
o episódio do senador Almeida
Lima (PDT-SE), cuja prometida
revelação bombástica se mostrou
vazia, permite uma contra-ofensiva política para tentar minimizar
o desgaste do caso Waldomiro
Diniz. O discurso de Lima, que
afetou os indicadores econômicos, será usado como argumento
de que a oposição não tem fatos
concretos contra o ministro José
Dirceu (Casa Civil) e que faz guerra política contra o governo.
Segundo a Folha apurou, o discurso de Lima deu gás para Dirceu continuar no cargo numa hora em que sua saída temporária
voltou a ser cogitada por parte da
cúpula do governo. Motivo: o discurso diminuiu a repercussão no
Congresso da pesquisa Datafolha
publicada ontem mostrando que
67% dos entrevistados querem a
saída de Dirceu do cargo.
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva também não gostou da movimentação de Dirceu para tentar
transferir a crise para o colega Antonio Palocci Filho (Fazenda),
buscando minar a política econômica e inflar a repercussão ruim
da queda de 0,2% do PIB (Produto Interno Bruto).
O dia de ontem começou tenso
no Palácio do Planalto -em particular, para Dirceu- devido à
pesquisa. O próprio ministro demonstrou abatimento ao ver a
pesquisa (81% querem CPI para
investigar o caso Waldomiro, por
exemplo). O levantamento foi
avaliado como ruim para Dirceu,
mas bom para o presidente, já que
mostrou que, por ora, sua popularidade não foi afetada pelo escândalo Waldomiro (ex-assessor de
Dirceu flagrado em vídeo de 2002
pedindo propina e contribuição
de campanha a um empresário).
Nesse contexto, parte da cúpula
do governo, na qual Dirceu se inclui, amanheceu com a avaliação
de que talvez fosse necessário rediscutir o afastamento temporário da Casa Civil.
No entanto, à tarde, logo após o
discurso de Lima, o ministro da
Casa Civil voltou a se mostrar
combativo e animado, segundo
descrição de um interlocutor.
Nas palavras de um ministro
próximo a Dirceu, o discurso de
Lima saiu melhor do que a "encomenda" para o governo.
Da tribuna, Lima leu relatório
parcial do delegado federal Herbert Mesquita no qual ele diz que
Dirceu teria tentado abafar no
ano passado investigações sobre
atos que Waldomiro praticou no
tempo em que presidiu a Loteria
do Estado do Rio de Janeiro nos
governos Anthony Garotinho
(PMDB) e Benedita da Silva (PT).
O relatório, porém, já havia sido
publicado por diversos jornais e a
parte que se referia a Dirceu era
baseada em notas da imprensa.
Até a oposição reprovou o ato.
Dirceu acredita que isso o beneficiará, por permitir argumentar
que as denúncias que buscam envolvê-lo são vazias. Parte da cúpula do Palácio do Planalto compra
esse discurso, mas outra parte teme o "sangramento diário" do
governo com Dirceu no posto.
Os membros do governo que se
mostram pessimistas avaliam que
a imprensa continuará a investigar Waldomiro e outros petistas
ligados a Dirceu. Para eles, há um
efeito paralisante na administração pela expectativa de um fato
novo.
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