São Paulo, quarta-feira, 03 de março de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Delegado fez 50 questões a ex-assessor, que, demonstrando nervosismo, só respondeu qual é sua profissão: funcionário público

Waldomiro diz à PF que só fala em juízo

IURI DANTAS
LUIS RENATO STRAUSS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Depois de 18 dias sem aparecer publicamente, o ex-subchefe de assuntos parlamentares da Presidência Waldomiro Diniz prestou ontem dois depoimentos à Polícia Federal, em Brasília, e, dentro da tática de sua defesa, respondeu aos delegados que só vai se manifestar na Justiça.
Foram feitas cerca de 50 perguntas a Waldomiro nos dois depoimentos. Em nenhuma delas foi citado o nome de seu ex-chefe, ministro José Dirceu (Casa Civil).
Ele prestou dois depoimentos, pois responde a dois inquéritos. O primeiro apura suposto crime eleitoral e corrupção ativa e passiva de Waldomiro, que teria pedido propina sobre doações de campanhas políticas a um empresário do ramo de loterias.
O segundo investiga suposta corrupção e improbidade administrativa quando Waldomiro presidiu a Loterj (Loteria do Estado do Rio). A Folha apurou que Waldomiro foi indiciado por prevaricação neste último inquérito.
O ex-assessor palaciano forneceu apenas uma resposta. Ao ser indagado sobre sua profissão, Waldomiro sorriu , olhou para os advogados, e disse que era "funcionário público", mesmo tendo sido exonerado quando ocupava cargo de confiança na Casa Civil.
Ao deixar, à noite, o prédio da Superintendência da Polícia Federal em Brasília, onde chegou por volta das 16h de ontem, Waldomiro fez só uma declaração: "Neste momento, sou o maior interessado em buscar a verdade e provar minha inocência. Estou confiante na Justiça brasileira e nas investigações desenvolvidas pelo Ministério Público, Polícia Federal e Justiça brasileira".
Devido ao grande número de repórteres, a Folha apurou que Waldomiro disse ao delegado Antônio César Nunes, que preside um dos inquéritos, que preferia sair do prédio pela garagem, para evitar o desconforto de ser interpelado. O pedido foi negado pelo superintendente Euclides Rodrigues Silva Filho, pois a garagem é de uso exclusivo de servidores.
O ex-assessor chegou à PF de táxi, aparentando tranqüilidade, acompanhado de dois advogados, Luiz Guilherme Vieira e Amilcar Silveira. Ao motorista do táxi pediram para manter os vidros levantados, mas não conversaram. Waldomiro deixou a PF logo após as 19h, de táxi, indo direto ao apartamento onde mora. No trajeto até a casa de Waldomiro, o advogado disse, segundo o motorista, que "está tudo certo, há os bons e os maus jornalistas".

Depoimento
No primeiro depoimento, Waldomiro chegou a ficar tenso, obrigando o delegado a conversar sobre amenidades para melhorar o humor do ex-subchefe.
Waldomiro foi demitido no dia 13 de fevereiro e desde então não é encontrado. Na ocasião, a revista "Época" divulgou vídeo em que o ex-funcionário do Planalto pedia propina de 1% ao empresário de jogos Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
Durante depoimento, o delegado Nunes folheou a reportagem da revista, questionando Waldomiro sobre datas locais e nomes. Para todas as perguntas a resposta foi a mesma: "Não tenho nada a declarar, falarei em juízo".
O delegado Nunes fez também 15 questionamentos enviados por fax pelos procuradores Raquel Branquinho e Marcelo Serra Azul. Convidados a participar do depoimento, os dois enviaram justificativas de estarem em outro compromisso.
No segundo depoimento, Waldomiro também alegou o direito de permanecer calado.
Interrogado pelo delegado Herbert Reis Mesquita, Waldomiro foi questionado sobre sua gestão na presidência da Loterj.
Hoje, Waldomiro deve depor novamente, agora para o Ministério Público Federal. Ontem, ele recebeu uma intimação da AGU (Advocacia Geral da União) pedindo seu comparecimento no dia 12 de março, na comissão de sindicância aberta pela Casa Civil para apurar o caso.

Comissão
O empresário de bingo Carlos Roberto Martins, 54, disse ontem à Agência Folha que o presidente da Abrabin (Associação Brasileira dos Bingos), Olavo Sales da Silveira, indicou Waldomiro a "uma comissão criada [em outubro de 2003] pelo governo para legalizar os bingos no país". A indicação ocorreu porque Waldomiro (na subchefia de Assuntos Parlamentares da Presidência) "tinha conhecimento farto e técnico do negócio [de jogos]".


Colaborou a Agência Folha

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