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SOMBRA NO PLANALTO
Delegado fez 50 questões a ex-assessor, que, demonstrando nervosismo, só respondeu qual é sua profissão: funcionário público
Waldomiro diz à PF que só fala em juízo
IURI DANTAS
LUIS RENATO STRAUSS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Depois de 18 dias sem aparecer
publicamente, o ex-subchefe de
assuntos parlamentares da Presidência Waldomiro Diniz prestou
ontem dois depoimentos à Polícia
Federal, em Brasília, e, dentro da
tática de sua defesa, respondeu
aos delegados que só vai se manifestar na Justiça.
Foram feitas cerca de 50 perguntas a Waldomiro nos dois depoimentos. Em nenhuma delas
foi citado o nome de seu ex-chefe,
ministro José Dirceu (Casa Civil).
Ele prestou dois depoimentos,
pois responde a dois inquéritos. O
primeiro apura suposto crime
eleitoral e corrupção ativa e passiva de Waldomiro, que teria pedido propina sobre doações de
campanhas políticas a um empresário do ramo de loterias.
O segundo investiga suposta
corrupção e improbidade administrativa quando Waldomiro
presidiu a Loterj (Loteria do Estado do Rio). A Folha apurou que
Waldomiro foi indiciado por prevaricação neste último inquérito.
O ex-assessor palaciano forneceu apenas uma resposta. Ao ser
indagado sobre sua profissão,
Waldomiro sorriu , olhou para os
advogados, e disse que era "funcionário público", mesmo tendo
sido exonerado quando ocupava
cargo de confiança na Casa Civil.
Ao deixar, à noite, o prédio da
Superintendência da Polícia Federal em Brasília, onde chegou
por volta das 16h de ontem, Waldomiro fez só uma declaração:
"Neste momento, sou o maior interessado em buscar a verdade e
provar minha inocência. Estou
confiante na Justiça brasileira e
nas investigações desenvolvidas
pelo Ministério Público, Polícia
Federal e Justiça brasileira".
Devido ao grande número de
repórteres, a Folha apurou que
Waldomiro disse ao delegado Antônio César Nunes, que preside
um dos inquéritos, que preferia
sair do prédio pela garagem, para
evitar o desconforto de ser interpelado. O pedido foi negado pelo
superintendente Euclides Rodrigues Silva Filho, pois a garagem é
de uso exclusivo de servidores.
O ex-assessor chegou à PF de táxi, aparentando tranqüilidade,
acompanhado de dois advogados, Luiz Guilherme Vieira e
Amilcar Silveira. Ao motorista do
táxi pediram para manter os vidros levantados, mas não conversaram. Waldomiro deixou a PF
logo após as 19h, de táxi, indo direto ao apartamento onde mora.
No trajeto até a casa de Waldomiro, o advogado disse, segundo o
motorista, que "está tudo certo,
há os bons e os maus jornalistas".
Depoimento
No primeiro depoimento, Waldomiro chegou a ficar tenso, obrigando o delegado a conversar sobre amenidades para melhorar o
humor do ex-subchefe.
Waldomiro foi demitido no dia
13 de fevereiro e desde então não é
encontrado. Na ocasião, a revista
"Época" divulgou vídeo em que o
ex-funcionário do Planalto pedia
propina de 1% ao empresário de
jogos Carlos Augusto Ramos, o
Carlinhos Cachoeira.
Durante depoimento, o delegado Nunes folheou a reportagem
da revista, questionando Waldomiro sobre datas locais e nomes.
Para todas as perguntas a resposta
foi a mesma: "Não tenho nada a
declarar, falarei em juízo".
O delegado Nunes fez também
15 questionamentos enviados por
fax pelos procuradores Raquel
Branquinho e Marcelo Serra Azul.
Convidados a participar do depoimento, os dois enviaram justificativas de estarem em outro
compromisso.
No segundo depoimento, Waldomiro também alegou o direito
de permanecer calado.
Interrogado pelo delegado Herbert Reis Mesquita, Waldomiro
foi questionado sobre sua gestão
na presidência da Loterj.
Hoje, Waldomiro deve depor
novamente, agora para o Ministério Público Federal. Ontem, ele recebeu uma intimação da AGU
(Advocacia Geral da União) pedindo seu comparecimento no
dia 12 de março, na comissão de
sindicância aberta pela Casa Civil
para apurar o caso.
Comissão
O empresário de bingo Carlos
Roberto Martins, 54, disse ontem
à Agência Folha que o presidente
da Abrabin (Associação Brasileira
dos Bingos), Olavo Sales da Silveira, indicou Waldomiro a "uma
comissão criada [em outubro de
2003] pelo governo para legalizar
os bingos no país". A indicação
ocorreu porque Waldomiro (na
subchefia de Assuntos Parlamentares da Presidência) "tinha conhecimento farto e técnico do negócio [de jogos]".
Colaborou a Agência Folha
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