São Paulo, quarta-feira, 03 de março de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Delúbio Soares procurou órgãos do governo para agilizar liberação a frigorífico e hospital

Caixa do PT intercedeu por verba para empresa privada

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O secretário de Finanças e Planejamento do PT, Delúbio Soares, tesoureiro da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, procurou órgãos do governo federal para pedir agilidade na liberação de recursos e de financiamento para uma empresa privada e uma entidade filantrópica de sua cidade natal, Buriti Alegre (GO).
As entidades de Buriti beneficiadas pela ajuda de Delúbio são a Santa Casa e o Frigorífico Avibal, que tem, entre os sócios, um ex-colega de escola dele, Adalberto Martins. No caso da Santa Casa, teriam sido empenhados (dada a ordem para o pagamento) R$ 474 mil para o reaparelhamento da entidade. No caso da Avibal, a negociação era em torno do financiamento de R$ 3,5 milhões, originários do Fundo do Centro-Oeste, para a construção do frigorífico, que tem intenção de exportar frangos para Israel.
Tido na cidade pela própria oposição como "o porta-voz de Buriti Alegre", Delúbio afirma em entrevista gravada em janeiro que, num caso, "fez marcar" uma reunião com a direção da Funasa (Fundação Nacional da Saúde), do Ministério da Saúde, para cobrar a agilidade; em outro, conversou com um "inspetor" do Banco do Brasil, que, depois disso, "mandou agilizar" o processo.
Solicitado a ratificar as declarações gravadas, Delúbio confirmou ter orientado os conterrâneos sobre quem procurar em Goiânia e em Brasília, no caso da saúde, e de ter conversado pessoalmente com um ex-superintendente do BB, no segundo caso, e não com um mero inspetor.
Delúbio afirmou que, como dirigente nacional do maior partido que compõe a base do governo, não fez nada de errado, que sempre agiu em sintonia com o PT e que fará o que puder fazer por sua cidade.
No último sábado, a Folha mostrou que o tesoureiro de Lula se reuniu com ministros, discutiu nomeações, defendeu liberação de emendas de interesse de governadores e conheceu pelo menos um empreiteiro -tudo isso dentro do Palácio do Planalto.
As declarações de Delúbio foram dadas ao jornal "Folha de Notícias", de Itumbiara (GO), que as registrou em sua edição de 22 de janeiro: "Eram projetos em andamento, mas eles não andavam. Quando o PT assumiu o governo [federal], fui procurado pelo prefeito, pelos médicos e por toda a equipe da Santa Casa, que pediram uma revisão. Logo depois, fiz marcar uma audiência com o presidente da Fundação Nacional de Saúde", afirmou ao jornal, que gravou a entrevista.
"Na Avibal", continuou Delúbio, "o projeto estava no Banco do Brasil, mas a superintendência estava enrolando. O Betinho [o ex-colega de escola Adalberto Martins], proprietário do frigorífico, me procurou e falei com um inspetor do banco que mandou agilizar o processo", afirmou, acrescentando que tudo foi feito "dentro da normalidade e legalidade".
"Ele tem ajudado a tramitar os processos de Buriti, para agilizar, é o porta-voz de Buriti no governo", disse o ex-prefeito da cidade Irones Zago, que é do oposicionista PSDB. Ele afirmou que os tucanos de Buriti Alegre podem compor com o PT nas eleições municipais deste ano, já que seria difícil enfrentar um adversário com tanto poder. "A máquina pesa e fala alto no processo", disse o ex-prefeito, que disse ter uma relação amistosa com o grupo político do tesoureiro petista.
O empresário Martins não foi localizado pela reportagem. O gerente administrativo da Santa Casa de Buriti, Alessandro Naves da Fonseca, afirmou, num primeiro momento, que Delúbio não teve participação no processo. Confrontado com as declarações do tesoureiro, mudou a versão e disse ter procurado Delúbio apenas para pedir orientação.
"Apresentei ao Delúbio nossa vontade de pedir ao ministério os recursos e disse que não sabíamos o caminho. Ele instruiu sobre como chegar aos caminhos lícitos que deveríamos trilhar", afirmou.


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