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SOMBRA NO PLANALTO
Delúbio Soares procurou órgãos do governo para agilizar liberação a frigorífico e hospital
Caixa do PT intercedeu por verba para empresa privada
RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O secretário de Finanças e Planejamento do PT, Delúbio Soares,
tesoureiro da campanha de Luiz
Inácio Lula da Silva em 2002, procurou órgãos do governo federal
para pedir agilidade na liberação
de recursos e de financiamento
para uma empresa privada e uma
entidade filantrópica de sua cidade natal, Buriti Alegre (GO).
As entidades de Buriti beneficiadas pela ajuda de Delúbio são a
Santa Casa e o Frigorífico Avibal,
que tem, entre os sócios, um ex-colega de escola dele, Adalberto
Martins. No caso da Santa Casa,
teriam sido empenhados (dada a
ordem para o pagamento) R$ 474
mil para o reaparelhamento da
entidade. No caso da Avibal, a negociação era em torno do financiamento de R$ 3,5 milhões, originários do Fundo do Centro-Oeste, para a construção do frigorífico, que tem intenção de exportar
frangos para Israel.
Tido na cidade pela própria
oposição como "o porta-voz de
Buriti Alegre", Delúbio afirma em
entrevista gravada em janeiro
que, num caso, "fez marcar" uma
reunião com a direção da Funasa
(Fundação Nacional da Saúde),
do Ministério da Saúde, para cobrar a agilidade; em outro, conversou com um "inspetor" do
Banco do Brasil, que, depois disso, "mandou agilizar" o processo.
Solicitado a ratificar as declarações gravadas, Delúbio confirmou ter orientado os conterrâneos sobre quem procurar em
Goiânia e em Brasília, no caso da
saúde, e de ter conversado pessoalmente com um ex-superintendente do BB, no segundo caso,
e não com um mero inspetor.
Delúbio afirmou que, como dirigente nacional do maior partido
que compõe a base do governo,
não fez nada de errado, que sempre agiu em sintonia com o PT e
que fará o que puder fazer por sua
cidade.
No último sábado, a Folha mostrou que o tesoureiro de Lula se
reuniu com ministros, discutiu
nomeações, defendeu liberação
de emendas de interesse de governadores e conheceu pelo menos
um empreiteiro -tudo isso dentro do Palácio do Planalto.
As declarações de Delúbio foram dadas ao jornal "Folha de
Notícias", de Itumbiara (GO), que
as registrou em sua edição de 22
de janeiro: "Eram projetos em andamento, mas eles não andavam.
Quando o PT assumiu o governo
[federal], fui procurado pelo prefeito, pelos médicos e por toda a
equipe da Santa Casa, que pediram uma revisão. Logo depois, fiz
marcar uma audiência com o presidente da Fundação Nacional de
Saúde", afirmou ao jornal, que
gravou a entrevista.
"Na Avibal", continuou Delúbio, "o projeto estava no Banco do
Brasil, mas a superintendência estava enrolando. O Betinho [o ex-colega de escola Adalberto Martins], proprietário do frigorífico,
me procurou e falei com um inspetor do banco que mandou agilizar o processo", afirmou, acrescentando que tudo foi feito "dentro da normalidade e legalidade".
"Ele tem ajudado a tramitar os
processos de Buriti, para agilizar,
é o porta-voz de Buriti no governo", disse o ex-prefeito da cidade
Irones Zago, que é do oposicionista PSDB. Ele afirmou que os
tucanos de Buriti Alegre podem
compor com o PT nas eleições
municipais deste ano, já que seria
difícil enfrentar um adversário
com tanto poder. "A máquina pesa e fala alto no processo", disse o
ex-prefeito, que disse ter uma relação amistosa com o grupo político do tesoureiro petista.
O empresário Martins não foi
localizado pela reportagem. O gerente administrativo da Santa Casa de Buriti, Alessandro Naves da
Fonseca, afirmou, num primeiro
momento, que Delúbio não teve
participação no processo. Confrontado com as declarações do
tesoureiro, mudou a versão e disse ter procurado Delúbio apenas
para pedir orientação.
"Apresentei ao Delúbio nossa
vontade de pedir ao ministério os
recursos e disse que não sabíamos
o caminho. Ele instruiu sobre como chegar aos caminhos lícitos
que deveríamos trilhar", afirmou.
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