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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/O MARQUETEIRO
Deputados apontam discrepâncias; advogado diz que publicitário falou a verdade
CPI acessa dados de conta nos EUA e diz que Duda mentiu
ANDRÉA MICHAEL
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
No primeiro acesso aos dados
relativos à quebra de sigilo da
conta Dusseldorf, aberta por Duda Mendonça nos EUA, integrantes da CPI dos Correios dizem que
o publicitário mentiu para a comissão. Segundo eles, a análise
mostra que a conta foi aberta antes e teve uma movimentação
maior do que Duda afirmou.
Subrelator da comissão, o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) foi
enfático. "Duda mentiu em relação a valores movimentados e ao
período de movimentação", disse
o parlamentar, ao deixar a sede do
DRCI (Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional), órgão do
Ministério da Justiça, em Brasília.
"Agora, quando ele voltar para
o próximo depoimento, essas
mentiras serão mais difíceis [de
serem ditas]", disse Paes, fazendo
referência ao novo depoimento
do publicitário na CPI, previsto
para o próximo dia 15.
Osmar Serraglio (PMDB-PR),
relator da CPI, que também analisou os documentos, foi na mesma
linha. "Ainda que numa vista superficial, que ainda precisa ser
aprofundada, temos condições de
dizer que há discrepâncias entre
as afirmações de Duda e o que está sendo apurado." E concluiu:
"Há suspeita fortíssima de que ele
não tenha falado a verdade [sobre
os valores movimentados]".
Para o relator, conforme os dados analisados, não é verdadeira a
afirmação de Duda à CPI de que
ele teria aberto a Dusseldorf por
orientação do empresário Marcos
Valério de Souza. A conta seria o
meio apontado para que o publicitário recebesse por serviços feitos ao PT. Os integrantes acham
que Duda operava recebendo no
exterior há mais tempo.
Duda disse ainda no seu primeiro depoimento à CPI que, ao longo de 2003, recebeu do PT, sem
emitir nota fiscal, R$ 15,5 milhões,
dos quais R$ 10,5 milhões no exterior, via conta Dusseldorf.
A quebra de sigilo da Dusseldorf revelou operações financeiras entre fevereiro de 2003 e dezembro de 2004. Os valores seriam de cerca de R$ 600 mil acima
dos R$ 10,5 milhões.
Para o subrelator da comissão
Maurício Rands (PT-PE), a opção
por receber dinheiro no exterior
não seria uma exceção, mas o
"modus operandi" do publicitário. "Essa [a operação do PT] é
apenas a ponta do iceberg", disse.
O advogado de Duda, Tales
Castelo Branco, disse que seu
cliente foi à CPI espontaneamente
o que revela a disposição de dizer
a verdade. Segundo ele, o tempo
dirá que Duda falou a verdade.
Sobre as diferenças de valores
apontadas pela CPI, Castelo Branco disse que podem ser valores somados duas vezes, o que, segundo
afirmou, já aconteceu em outras
situações nas investigações.
Na semana passada, a Justiça
norte-americana autorizou o
acesso dos documentos sigilosos
à CPI. Conforme a decisão judicial, a consulta dos dados será feita sempre na sede do DRCI, órgão
responsável pela tramitação burocrática que levou tanto à quebra
do sigilo da Dusseldorf quanto à
permissão de acesso às informações bancárias pela comissão.
A Justiça americana restringiu o
acesso à documentação aos deputados Serraglio, Paes e Rands,
além do senador Delcídio Amaral
(PT-MS), presidente da CPI. Técnicos do DRCI e da comissão indicados pelos parlamentares também terão acesso aos papéis.
Ontem foi a primeira reunião
dos parlamentares da CPI -com
exceção do senador Delcídio-
com técnicos do DRCI. Os documentos estão abrigados em uma
sala dotada de equipamentos de
alta tecnologia para análise de informações e sob a segurança de
três câmeras de vídeo.
Até a semana que vem, os técnicos produzirão um relatório preliminar sobre o chamado "sistema
Dusseldorf", um conjunto de 15
mil operações financeiras que, entre 2003 e 2004, passaram por 15
contas bancárias em oito instituições financeiras.
Segundo o deputado Rands, o
DRCI já encaminhou às autoridades americanas o pedido de quebra de sigilo para um novo conjunto de contas, que devem revelar o beneficiário final do dinheiro
que passou pela Dusseldorf.
Duda disse em depoimento à
Polícia Federal que usou o dinheiro para despesas pessoais e também para incorporá-lo ao seu patrimônio. Negou possuir outras
contas no exterior.
Serraglio afirmou que pretende
manter o prazo de 21 de março
para a apresentação do relatório e
de 14 de abril para a conclusão dos
trabalhos da CPI, no qual deverão
ser incluídos os dados sigilosos
relativos à Dusseldorf.
Apesar de falar na manutenção
dos prazos, ontem pela manhã,
Serraglio disse que apoiaria um
movimento para a prorrogação
dos trabalhos da comissão, para
concluir investigações em curso.
Ele ponderou que a decisão caberá à Câmara e ao Senado, pois
se trata de uma CPI mista: "Eu
concordo, sou um soldado e quero avançar mais".
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