São Paulo, sexta-feira, 03 de março de 2006

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/O MARQUETEIRO

Deputados apontam discrepâncias; advogado diz que publicitário falou a verdade

CPI acessa dados de conta nos EUA e diz que Duda mentiu

ANDRÉA MICHAEL
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

No primeiro acesso aos dados relativos à quebra de sigilo da conta Dusseldorf, aberta por Duda Mendonça nos EUA, integrantes da CPI dos Correios dizem que o publicitário mentiu para a comissão. Segundo eles, a análise mostra que a conta foi aberta antes e teve uma movimentação maior do que Duda afirmou.
Subrelator da comissão, o deputado Eduardo Paes (PSDB-RJ) foi enfático. "Duda mentiu em relação a valores movimentados e ao período de movimentação", disse o parlamentar, ao deixar a sede do DRCI (Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional), órgão do Ministério da Justiça, em Brasília.
"Agora, quando ele voltar para o próximo depoimento, essas mentiras serão mais difíceis [de serem ditas]", disse Paes, fazendo referência ao novo depoimento do publicitário na CPI, previsto para o próximo dia 15.
Osmar Serraglio (PMDB-PR), relator da CPI, que também analisou os documentos, foi na mesma linha. "Ainda que numa vista superficial, que ainda precisa ser aprofundada, temos condições de dizer que há discrepâncias entre as afirmações de Duda e o que está sendo apurado." E concluiu: "Há suspeita fortíssima de que ele não tenha falado a verdade [sobre os valores movimentados]".
Para o relator, conforme os dados analisados, não é verdadeira a afirmação de Duda à CPI de que ele teria aberto a Dusseldorf por orientação do empresário Marcos Valério de Souza. A conta seria o meio apontado para que o publicitário recebesse por serviços feitos ao PT. Os integrantes acham que Duda operava recebendo no exterior há mais tempo.
Duda disse ainda no seu primeiro depoimento à CPI que, ao longo de 2003, recebeu do PT, sem emitir nota fiscal, R$ 15,5 milhões, dos quais R$ 10,5 milhões no exterior, via conta Dusseldorf.
A quebra de sigilo da Dusseldorf revelou operações financeiras entre fevereiro de 2003 e dezembro de 2004. Os valores seriam de cerca de R$ 600 mil acima dos R$ 10,5 milhões.
Para o subrelator da comissão Maurício Rands (PT-PE), a opção por receber dinheiro no exterior não seria uma exceção, mas o "modus operandi" do publicitário. "Essa [a operação do PT] é apenas a ponta do iceberg", disse.
O advogado de Duda, Tales Castelo Branco, disse que seu cliente foi à CPI espontaneamente o que revela a disposição de dizer a verdade. Segundo ele, o tempo dirá que Duda falou a verdade.
Sobre as diferenças de valores apontadas pela CPI, Castelo Branco disse que podem ser valores somados duas vezes, o que, segundo afirmou, já aconteceu em outras situações nas investigações.
Na semana passada, a Justiça norte-americana autorizou o acesso dos documentos sigilosos à CPI. Conforme a decisão judicial, a consulta dos dados será feita sempre na sede do DRCI, órgão responsável pela tramitação burocrática que levou tanto à quebra do sigilo da Dusseldorf quanto à permissão de acesso às informações bancárias pela comissão.
A Justiça americana restringiu o acesso à documentação aos deputados Serraglio, Paes e Rands, além do senador Delcídio Amaral (PT-MS), presidente da CPI. Técnicos do DRCI e da comissão indicados pelos parlamentares também terão acesso aos papéis.
Ontem foi a primeira reunião dos parlamentares da CPI -com exceção do senador Delcídio- com técnicos do DRCI. Os documentos estão abrigados em uma sala dotada de equipamentos de alta tecnologia para análise de informações e sob a segurança de três câmeras de vídeo.
Até a semana que vem, os técnicos produzirão um relatório preliminar sobre o chamado "sistema Dusseldorf", um conjunto de 15 mil operações financeiras que, entre 2003 e 2004, passaram por 15 contas bancárias em oito instituições financeiras.
Segundo o deputado Rands, o DRCI já encaminhou às autoridades americanas o pedido de quebra de sigilo para um novo conjunto de contas, que devem revelar o beneficiário final do dinheiro que passou pela Dusseldorf.
Duda disse em depoimento à Polícia Federal que usou o dinheiro para despesas pessoais e também para incorporá-lo ao seu patrimônio. Negou possuir outras contas no exterior.
Serraglio afirmou que pretende manter o prazo de 21 de março para a apresentação do relatório e de 14 de abril para a conclusão dos trabalhos da CPI, no qual deverão ser incluídos os dados sigilosos relativos à Dusseldorf.
Apesar de falar na manutenção dos prazos, ontem pela manhã, Serraglio disse que apoiaria um movimento para a prorrogação dos trabalhos da comissão, para concluir investigações em curso.
Ele ponderou que a decisão caberá à Câmara e ao Senado, pois se trata de uma CPI mista: "Eu concordo, sou um soldado e quero avançar mais".


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