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CELSO PINTO
O tamanho da
boa notícia
O déficit da balança comercial de fevereiro, de US$
214 milhões, foi menos da metade do que o mercado esperava. Melhor ainda: ele foi resultado tanto do encolhimento das importações, quanto do
vigor das exportações, quando
se compara com 97.
Então está tudo ótimo? Em
termos. Uma análise cuidadosa do resultado de fevereiro
depende do detalhamento de
alguns dados e da qualificação de algumas comparações.
Dada a confusão contábil
com as importações ocorrida
no início de 97, o mais sensato
é usar os números do bimestre
como base de comparação.
Considerando as exportações
do primeiro bimestre deste
ano, de US$ 7,628 bilhões, elas
cresceram 11,66% em relação
aos US$ 6,831 bilhões exportados no mesmo período de 97.
No caso das importações, os
US$ 8,559 bilhões importados
no primeiro bimestre ficaram
apenas 1,5% acima dos US$
8,429 bilhões importados no
primeiro bimestre de 97. Ou
seja, as exportações, que fecharam 97 com um crescimento de 11%, se mantiveram
em alta no primeiro bimestre.
Já as importações, que cresceram 15% no ano passado, despencaram.
Este dado pode ser refinado,
comparando-se não os dados
brutos, mas a média de exportações e importações por dia
útil. O resultado fica mais impressionante no caso das exportações: um aumento de
14,5% no bimestre (US$ 195
milhões comparado a US$ 171
milhões). E um pouco menos
expressivo no caso das importações, com um aumento de
4% (US$ 219 milhões comparado a US$ 210 milhões).
A cautela, contudo, se justifica ao se tentar projetar o
comportamento do primeiro
bimestre para frente, porque a
base de comparação embute
uma distorção. No primeiro
bimestre do ano passado, as
exportações estavam excepcionalmente baixas: haviam
caído 0,7% em relação ao primeiro bimestre de 96, enquanto as importações estavam
muito elevadas, com aumento
de 22,6% sobre 96.
Foi um início de ano muito
ruim, em 97, para as vendas
externas, que só começaram a
decolar a partir de abril, no
caso dos básicos, e maio para
os manufaturados. Portanto,
é natural que as comparações
de crescimento das exportações neste ano sejam beneficiadas neste início de ano,
sem que isso assegure o mesmo desempenho para o resto
de 98. Os bancos, em média,
têm projetado um aumento de
5% a 6% das exportações neste ano e, por enquanto, não
há razões sólidas para mudar
de idéia.
Do lado das importações,
além da base de comparação
inflada, há o efeito da reimposição de exigências burocráticas para quase metade
das importações. Isso tem provocado um atraso nas compras, pelo que dizem os importadores.
O que falta qualificar na
análise das exportações neste
início de ano é saber que itens
estão crescendo e para onde.
Os ganhos das exportações no
ano passado foram muito
concentrados em alguns produtos e em alguns mercados.
É preciso conferir se esta situação está melhorando.
As exportações cresceram
US$ 5,2 bilhões em 97, ou 11%
no ano. Três itens, contudo,
explicam 81% do crescimento:
material de transporte (US$ 2
bilhões), soja (US$ 1,2 bilhão)
e café (US$ 999 milhões).
Quase metade do aumento
de material de transporte foi
para a América Latina, em
geral, e a Argentina, em particular. Como a economia argentina pode crescer neste ano
metade do que cresceu no ano
passado, ficará difícil sustentar um aumento muito forte
das vendas.
No caso da soja e do café, o
Brasil foi beneficiado por preços excepcionais (e aumento
da quantidade no caso da soja). Mesmo considerando aumento na quantidade de exportações neste ano, como o
preço está mais baixo, as previsões são de que a receita fique parecida à do ano passado nestes itens.
Na conta do economista de
um banco estrangeiro, será
ótimo se o Brasil conseguir repetir neste ano a receita com
produtos básicos de 97. Qualquer aumento das exportações, neste caso, teria que vir
dos manufaturados. Para supor que os 12% de ganhos no
primeiro bimestre se repitam
para o ano todo, contudo, isso
significaria um salto de 21%
nas exportações de manufaturados em 98, apesar da maior
concorrência dos asiáticos.
Pode até acontecer, mas não
será fácil.
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