São Paulo, terça, 3 de março de 1998

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CELSO PINTO
O tamanho da boa notícia


O déficit da balança comercial de fevereiro, de US$ 214 milhões, foi menos da metade do que o mercado esperava. Melhor ainda: ele foi resultado tanto do encolhimento das importações, quanto do vigor das exportações, quando se compara com 97.
Então está tudo ótimo? Em termos. Uma análise cuidadosa do resultado de fevereiro depende do detalhamento de alguns dados e da qualificação de algumas comparações.
Dada a confusão contábil com as importações ocorrida no início de 97, o mais sensato é usar os números do bimestre como base de comparação. Considerando as exportações do primeiro bimestre deste ano, de US$ 7,628 bilhões, elas cresceram 11,66% em relação aos US$ 6,831 bilhões exportados no mesmo período de 97.
No caso das importações, os US$ 8,559 bilhões importados no primeiro bimestre ficaram apenas 1,5% acima dos US$ 8,429 bilhões importados no primeiro bimestre de 97. Ou seja, as exportações, que fecharam 97 com um crescimento de 11%, se mantiveram em alta no primeiro bimestre. Já as importações, que cresceram 15% no ano passado, despencaram.
Este dado pode ser refinado, comparando-se não os dados brutos, mas a média de exportações e importações por dia útil. O resultado fica mais impressionante no caso das exportações: um aumento de 14,5% no bimestre (US$ 195 milhões comparado a US$ 171 milhões). E um pouco menos expressivo no caso das importações, com um aumento de 4% (US$ 219 milhões comparado a US$ 210 milhões).
A cautela, contudo, se justifica ao se tentar projetar o comportamento do primeiro bimestre para frente, porque a base de comparação embute uma distorção. No primeiro bimestre do ano passado, as exportações estavam excepcionalmente baixas: haviam caído 0,7% em relação ao primeiro bimestre de 96, enquanto as importações estavam muito elevadas, com aumento de 22,6% sobre 96.
Foi um início de ano muito ruim, em 97, para as vendas externas, que só começaram a decolar a partir de abril, no caso dos básicos, e maio para os manufaturados. Portanto, é natural que as comparações de crescimento das exportações neste ano sejam beneficiadas neste início de ano, sem que isso assegure o mesmo desempenho para o resto de 98. Os bancos, em média, têm projetado um aumento de 5% a 6% das exportações neste ano e, por enquanto, não há razões sólidas para mudar de idéia.
Do lado das importações, além da base de comparação inflada, há o efeito da reimposição de exigências burocráticas para quase metade das importações. Isso tem provocado um atraso nas compras, pelo que dizem os importadores.
O que falta qualificar na análise das exportações neste início de ano é saber que itens estão crescendo e para onde. Os ganhos das exportações no ano passado foram muito concentrados em alguns produtos e em alguns mercados. É preciso conferir se esta situação está melhorando.
As exportações cresceram US$ 5,2 bilhões em 97, ou 11% no ano. Três itens, contudo, explicam 81% do crescimento: material de transporte (US$ 2 bilhões), soja (US$ 1,2 bilhão) e café (US$ 999 milhões).
Quase metade do aumento de material de transporte foi para a América Latina, em geral, e a Argentina, em particular. Como a economia argentina pode crescer neste ano metade do que cresceu no ano passado, ficará difícil sustentar um aumento muito forte das vendas.
No caso da soja e do café, o Brasil foi beneficiado por preços excepcionais (e aumento da quantidade no caso da soja). Mesmo considerando aumento na quantidade de exportações neste ano, como o preço está mais baixo, as previsões são de que a receita fique parecida à do ano passado nestes itens.
Na conta do economista de um banco estrangeiro, será ótimo se o Brasil conseguir repetir neste ano a receita com produtos básicos de 97. Qualquer aumento das exportações, neste caso, teria que vir dos manufaturados. Para supor que os 12% de ganhos no primeiro bimestre se repitam para o ano todo, contudo, isso significaria um salto de 21% nas exportações de manufaturados em 98, apesar da maior concorrência dos asiáticos.
Pode até acontecer, mas não será fácil.



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