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QUESTÃO AGRÁRIA
Ação de 3.950 famílias do MST toma áreas em 3 cidades do Estado; governo repudia as invasões
Sem-terra invadem três fazendas no RS
SANDRA HAHN
da Agência Folha, em Porto Alegre
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra)
invadiu três fazendas no Rio
Grande do Sul
na madrugada de ontem.
O governador do Rio Grande do
Sul, Antônio Britto (PMDB), determinou ao secretário da Justiça e
Segurança Pública, José Fernando
Eichenberg, o "congelamento"
(isolamento) das áreas invadidas.
"Ninguém entra e ninguém sai",
afirmou Britto. O governador disse que foi surpreendido "com o nível de violência aplicado por esses
invasores". Não foram registrados
confrontos com a Brigada Militar
(PM gaúcha) durante as invasões.
Einchenberg disse que um grupo
"de quatro ou cinco encapuzados"
rendeu na madrugada de ontem
patrulheiros da Polícia Rodoviária
Federal na BR-293, nas proximidades de Piratini.
Segundo ele, os agressores se
identificaram como integrantes
do MST. Eles usavam "armas longas" e "disseram aos policiais que
ficassem calmos".
A Polícia Rodoviária informou
que um policial foi desarmado pelos agricultores. "Tirar revólver de
brigadiano (PM), não", declarou
Britto. A direção do MST negou o
episódio.
As invasões foram realizadas por
3.950 famílias nos municípios de
Jóia (434 km de Porto Alegre),
Santo Antônio das Missões (533
km) e Piratini (340 km), nas regiões noroeste e sul do Estado.
A Farsul (Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul) pediu
que os produtores rurais se deslocassem para as fazendas invadidas
"para prestar solidariedade aos
proprietários", afirmou o diretor
jurídico da entidade, Nestor Hein.
A Farsul possui 120 sindicatos
rurais filiados, aos quais estão associados 200 mil produtores gaúchos. Hein disse que ainda ontem
os proprietários deveriam mover
ações de reintegração de posse.
O governo vai aguardar decisão
da Justiça para realizar a desocupação das áreas invadidas.
Eichenberg informou que a Brigada Militar vai fixar um "perímetro de segurança", que não poderá
ser ultrapassado nas proximidades das fazendas. A extensão da
"zona neutra" não foi revelada
nem a quantidade de policiais mobilizados para a operação.
Para ele, o movimento teve "finalidade política, desencadeado
em ano eleitoral".
Divergências
A federação afirmou que um capataz foi mantido como refém pelos agricultores durante algumas
horas em Santo Antônio das Missões. A direção do MST disse que
não foram feitos reféns.
As três áreas não estão incluídas
entre as 15 propriedades que o
MST havia indicado ao Incra (Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária) para desapropriação havia duas semanas.
"A gente luta há 17 anos e, da
forma como o Incra vem fazendo,
ele disse que vai assentar 1.500 famílias. Nós vamos levar mais de
um século para assentar todas as
famílias acampadas", afirmou o
diretor do MST Augusto Olsson.
Segundo ele, as invasões foram
tranquilas e, em Jóia, alguns carros que levavam suprimentos para
a área invadida foram retidos em
uma barreira policial.
O MST afirmou que as áreas invadidas são improdutivas. A Farsul disse que a fazenda Guabiju,
em Jóia, realiza programas de melhoramento genético do gado e
produz soja em 600 hectares.
As duas entidades divergiram
sobre a extensão do terreno. Para
o MST, a fazenda tem 8.000 hectares. Segundo a Farsul, a área é de
2.808 hectares.
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