São Paulo, terça, 3 de março de 1998

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QUESTÃO AGRÁRIA
Ação de 3.950 famílias do MST toma áreas em 3 cidades do Estado; governo repudia as invasões
Sem-terra invadem três fazendas no RS

SANDRA HAHN
da Agência Folha, em Porto Alegre


O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) invadiu três fazendas no Rio Grande do Sul na madrugada de ontem.
O governador do Rio Grande do Sul, Antônio Britto (PMDB), determinou ao secretário da Justiça e Segurança Pública, José Fernando Eichenberg, o "congelamento" (isolamento) das áreas invadidas.
"Ninguém entra e ninguém sai", afirmou Britto. O governador disse que foi surpreendido "com o nível de violência aplicado por esses invasores". Não foram registrados confrontos com a Brigada Militar (PM gaúcha) durante as invasões.
Einchenberg disse que um grupo "de quatro ou cinco encapuzados" rendeu na madrugada de ontem patrulheiros da Polícia Rodoviária Federal na BR-293, nas proximidades de Piratini.
Segundo ele, os agressores se identificaram como integrantes do MST. Eles usavam "armas longas" e "disseram aos policiais que ficassem calmos".
A Polícia Rodoviária informou que um policial foi desarmado pelos agricultores. "Tirar revólver de brigadiano (PM), não", declarou Britto. A direção do MST negou o episódio.
As invasões foram realizadas por 3.950 famílias nos municípios de Jóia (434 km de Porto Alegre), Santo Antônio das Missões (533 km) e Piratini (340 km), nas regiões noroeste e sul do Estado.
A Farsul (Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul) pediu que os produtores rurais se deslocassem para as fazendas invadidas "para prestar solidariedade aos proprietários", afirmou o diretor jurídico da entidade, Nestor Hein.
A Farsul possui 120 sindicatos rurais filiados, aos quais estão associados 200 mil produtores gaúchos. Hein disse que ainda ontem os proprietários deveriam mover ações de reintegração de posse.
O governo vai aguardar decisão da Justiça para realizar a desocupação das áreas invadidas.
Eichenberg informou que a Brigada Militar vai fixar um "perímetro de segurança", que não poderá ser ultrapassado nas proximidades das fazendas. A extensão da "zona neutra" não foi revelada nem a quantidade de policiais mobilizados para a operação.
Para ele, o movimento teve "finalidade política, desencadeado em ano eleitoral".

Divergências
A federação afirmou que um capataz foi mantido como refém pelos agricultores durante algumas horas em Santo Antônio das Missões. A direção do MST disse que não foram feitos reféns.
As três áreas não estão incluídas entre as 15 propriedades que o MST havia indicado ao Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) para desapropriação havia duas semanas.
"A gente luta há 17 anos e, da forma como o Incra vem fazendo, ele disse que vai assentar 1.500 famílias. Nós vamos levar mais de um século para assentar todas as famílias acampadas", afirmou o diretor do MST Augusto Olsson.
Segundo ele, as invasões foram tranquilas e, em Jóia, alguns carros que levavam suprimentos para a área invadida foram retidos em uma barreira policial.
O MST afirmou que as áreas invadidas são improdutivas. A Farsul disse que a fazenda Guabiju, em Jóia, realiza programas de melhoramento genético do gado e produz soja em 600 hectares.
As duas entidades divergiram sobre a extensão do terreno. Para o MST, a fazenda tem 8.000 hectares. Segundo a Farsul, a área é de 2.808 hectares.



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