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CASAMENTO DIFÍCIL
Decisão contraria partidos; PMDB não tem substituto imediato
Jarbas se recusa a ser vice de Serra e abre crise na aliança
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A recusa do governador Jarbas
Vasconcelos (PMDB-PE) em ser
o vice do pré-candidato do PSDB
ao Planalto, José Serra, abriu a
primeira crise relevante na aliança tucano-peemedebista.
A desistência de Jarbas, segundo a Folha apurou, deixou Serra
muito irritado, Foi considerada
um golpe às pretensões da cúpula
governista do PMDB e ainda desagradou ao presidente Fernando
Henrique Cardoso.
A atitude deu ainda novo fôlego
aos descontentes do PMDB, que
voltaram a falar em candidatura
própria (leia texto abaixo).
Com a escolha do vice de Serra
de volta à estaca zero, há divergências a respeito de quem deva
ser seu companheiro de chapa.
Na cúpula do PMDB, a maioria
prefere o deputado federal Henrique Eduardo Alves (RN), mas
FHC e setores do PSDB ligados ao
senador José Serra se inclinam
por outro potiguar, o governador
do Estado, Garibaldi Alves.
Serra disse que a recusa de Jarbas provocou uma ""reversão de
expectativa". E avisou que o nome a ser escolhido pelo PMDB
passará por seu crivo.
O pré-candidato tucano deixou
claro a interlocutores que gosta
mais de Garibaldi, mas não tem
restrição a Henrique. Tucanos dizem que, se Henrique for o escolhido, pode abrir a possibilidade
de o senador Geraldo Melo
(PSDB) disputar o governo do
Rio Grande do Norte.
Atualmente, Henrique é pré-candidato a governador no Estado, em aliança com o tucano Melo. Garibaldi, por sua vez, está deixando o cargo para ser candidato
ao Senado ou a vice.
"Se há acordo, os dois lados têm
de decidir. [...] A escolha do vice
não é um casamento à moda antiga, no qual os pais indicavam os
noivos e o casamento estava feito
mesmo sem entendimento entre
eles. Nesse caso, trata-se de um
casamento moderno: a coisa é recíproca", disse Serra. Segundo ele,
a recusa não foi um revés para sua
candidatura porque "sempre
houve algo pendente".
Vice do Nordeste
Apesar da divergência entre tucanos e peemedebistas, há um
quase consenso de que o vice peemedebista deveria vir prioritariamente da região Nordeste. O senador paulista Serra tem o carimbo de jogar contra os interesses
nordestinos. Um companheiro de
chapa da região seria uma forma
de amenizar essa vulnerabilidade.
Por isso, Garibaldi e Henrique Alves são os nomes mais fortes hoje.
"Devemos resolver essa questão
do vice em duas semanas. O processo de aliança está em curso",
disse ontem o presidente do
PMDB, o deputado federal Michel
Temer (SP), que cancelou uma
reunião da Executiva devido à desistência de Jarbas.
Para os dois partidos, faltou coragem política a Jarbas, que havia
dito a Serra e Temer que conseguiria resolver suas pendências
regionais e sair candidato a vice.
O vice-presidente Marco Maciel
(PFL) foi um dos que mais pressionaram o governador a concorrer à reeleição. Chegou a ameaçar
não sair candidato ao Senado, se
Jarbas optasse pela vice de Serra.
Os tucanos reclamaram ainda
que a candidatura Serra vinha numa onda positiva, com crescimento nas pesquisas, e que a recusa gerou um fato negativo, embora restrito ao mundo político.
Jarbas alegou problemas regionais. Líder da coalizão PMDB-PSDB-PFL, não conseguiu fazer
um acordo para manter sua hegemonia no Estado. Deverá se candidatar à reeleição. Uma versão
que circulou entre peemedebistas
é que o posto de vice poderia expor a vida pessoal de Jarbas.
Quando soube que Jarbas recusara de vez, Serra cogitou o senador gaúcho Pedro Simon (RS).
Mas a cúpula do PMDB veta Simon e, de quebra, diz que não
aceitaria Itamar Franco (MG).
Simon é da ala oposicionista.
Ontem, ele se lançou de novo pré-candidato a presidente. São remotas suas chances de reverter o
acordo PSDB-PMDB, que precisará ser oficializado em junho.
O prefeito de Joinville (SC), Luiz
Henrique, tem contra si o fato de
não ser do Nordeste, mas FHC e
Serra gostam dele. A deputada Rita Camata (ES) corre por fora, na
condição de "azarão". Eleita por
um Estado de pouca expressão
política e alheia às articulações da
cúpula do PMDB, Camata tem a
seu favor o fato de ser mulher e
bonita, como Roseana Sarney.
(KENNEDY ALENCAR, RAYMUNDO COSTA E RAQUEL ULHÔA)
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