São Paulo, quarta-feira, 03 de abril de 2002

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CASAMENTO DIFÍCIL

Decisão contraria partidos; PMDB não tem substituto imediato

Jarbas se recusa a ser vice de Serra e abre crise na aliança

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A recusa do governador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) em ser o vice do pré-candidato do PSDB ao Planalto, José Serra, abriu a primeira crise relevante na aliança tucano-peemedebista.
A desistência de Jarbas, segundo a Folha apurou, deixou Serra muito irritado, Foi considerada um golpe às pretensões da cúpula governista do PMDB e ainda desagradou ao presidente Fernando Henrique Cardoso.
A atitude deu ainda novo fôlego aos descontentes do PMDB, que voltaram a falar em candidatura própria (leia texto abaixo).
Com a escolha do vice de Serra de volta à estaca zero, há divergências a respeito de quem deva ser seu companheiro de chapa.
Na cúpula do PMDB, a maioria prefere o deputado federal Henrique Eduardo Alves (RN), mas FHC e setores do PSDB ligados ao senador José Serra se inclinam por outro potiguar, o governador do Estado, Garibaldi Alves.
Serra disse que a recusa de Jarbas provocou uma ""reversão de expectativa". E avisou que o nome a ser escolhido pelo PMDB passará por seu crivo.
O pré-candidato tucano deixou claro a interlocutores que gosta mais de Garibaldi, mas não tem restrição a Henrique. Tucanos dizem que, se Henrique for o escolhido, pode abrir a possibilidade de o senador Geraldo Melo (PSDB) disputar o governo do Rio Grande do Norte.
Atualmente, Henrique é pré-candidato a governador no Estado, em aliança com o tucano Melo. Garibaldi, por sua vez, está deixando o cargo para ser candidato ao Senado ou a vice.
"Se há acordo, os dois lados têm de decidir. [...] A escolha do vice não é um casamento à moda antiga, no qual os pais indicavam os noivos e o casamento estava feito mesmo sem entendimento entre eles. Nesse caso, trata-se de um casamento moderno: a coisa é recíproca", disse Serra. Segundo ele, a recusa não foi um revés para sua candidatura porque "sempre houve algo pendente".

Vice do Nordeste
Apesar da divergência entre tucanos e peemedebistas, há um quase consenso de que o vice peemedebista deveria vir prioritariamente da região Nordeste. O senador paulista Serra tem o carimbo de jogar contra os interesses nordestinos. Um companheiro de chapa da região seria uma forma de amenizar essa vulnerabilidade. Por isso, Garibaldi e Henrique Alves são os nomes mais fortes hoje.
"Devemos resolver essa questão do vice em duas semanas. O processo de aliança está em curso", disse ontem o presidente do PMDB, o deputado federal Michel Temer (SP), que cancelou uma reunião da Executiva devido à desistência de Jarbas.
Para os dois partidos, faltou coragem política a Jarbas, que havia dito a Serra e Temer que conseguiria resolver suas pendências regionais e sair candidato a vice.
O vice-presidente Marco Maciel (PFL) foi um dos que mais pressionaram o governador a concorrer à reeleição. Chegou a ameaçar não sair candidato ao Senado, se Jarbas optasse pela vice de Serra.
Os tucanos reclamaram ainda que a candidatura Serra vinha numa onda positiva, com crescimento nas pesquisas, e que a recusa gerou um fato negativo, embora restrito ao mundo político.
Jarbas alegou problemas regionais. Líder da coalizão PMDB-PSDB-PFL, não conseguiu fazer um acordo para manter sua hegemonia no Estado. Deverá se candidatar à reeleição. Uma versão que circulou entre peemedebistas é que o posto de vice poderia expor a vida pessoal de Jarbas.
Quando soube que Jarbas recusara de vez, Serra cogitou o senador gaúcho Pedro Simon (RS). Mas a cúpula do PMDB veta Simon e, de quebra, diz que não aceitaria Itamar Franco (MG).
Simon é da ala oposicionista. Ontem, ele se lançou de novo pré-candidato a presidente. São remotas suas chances de reverter o acordo PSDB-PMDB, que precisará ser oficializado em junho.
O prefeito de Joinville (SC), Luiz Henrique, tem contra si o fato de não ser do Nordeste, mas FHC e Serra gostam dele. A deputada Rita Camata (ES) corre por fora, na condição de "azarão". Eleita por um Estado de pouca expressão política e alheia às articulações da cúpula do PMDB, Camata tem a seu favor o fato de ser mulher e bonita, como Roseana Sarney.
(KENNEDY ALENCAR, RAYMUNDO COSTA E RAQUEL ULHÔA)


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