São Paulo, quarta-feira, 03 de abril de 2002

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NO AR

O que é terrorismo

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

- Por que vocês não qualificam Arafat como terrorista?
Foi uma das perguntas ouvidas pelo secretário de Estado, Colin Powell, em sua ronda nos telejornais americanos pela manhã, reproduzida à noite nos brasileiros.
A resposta foi que, como participou do processo de paz, Iasser Arafat não pode ser visto como os demais chefes de estado que mantêm terroristas em suas fronteiras.
O presidente George W. Bush foi na mesma linha, inesperadamente. Ele agora diz que Arafat não pode ser tratado como um mulá Omar, por exemplo, porque negociou a paz. Do porta-voz de Bush:
- A situação é, de fato, diferente.
Ele sublinhou que o líder palestino reconheceu o direito de Israel de existir, o que Osama bin Laden, entre outros, nunca fez. E arrematou o porta-voz, ao repórter:
- Entendo que você queira compará-los. Mas essa não é uma comparação que o presidente aceite.
Voltando às entrevistas de Colin Powell, uma declaração dele ao programa The Early Show, da CBS, talvez indique por que Arafat, de repente, tornou-se "diferente":
- Não serviria ao nosso propósito, agora, qualificá-lo como terrorista.
"Agora", ou seja, neste início de semana, os preços do petróleo dispararam.
 
Não foi só o governo americano que mudou ou apresentou divisão, em suas declarações à TV. Sharon, com ironia extremista, defendeu a viagem de Arafat ao exterior, mas com "passagem só de ida", como destacou a CNN.
Não demorou e seu próprio ministro do Exterior, o trabalhista Shimon Peres, apareceu na rede BBC dizendo ser contra a imposição de exílio ao líder palestino.
Na mesma BBC, um negociador indicado pelos palestinos disse que Arafat não vai se exilar e voltou a falar:
- Eu acredito que Sharon quer nos matar.
 
O Jornal da Band reproduziu cenas da entrevista de Sharon, com destaque para um diálogo entre ele e um assessor militar -quando a coletiva já havia se encerrado. Primeiro cochichou o assessor:
- Nós precisamos expulsá-lo agora.
E Sharon:
- Eu sei.
 
Do Jornal Nacional ao Jornal da Noite, na Band, não tem noticiário que não retrate o horror de Ramallah.
Mas, antes ou depois das cenas da "cidade fantasma", surgem as daqui, tão parecidas -de uma granada que explode no Rio ou de uma escola de Guaianazes em que a professora foi assassinada.


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